Quase um século na prisão: maior desmatador do Brasil e comparsas policiais são condenados em RO
22 de junho de 2021

Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Considerado pela Polícia Federal e Ministério Público do Estado de Rondônia (MP-RO) o maior desmatador do Brasil, o madeireiro Chaules Volban Pozzebon foi condenado a quase 100 anos de prisão, na última sexta-feira, 18, pela 1ª Vara Criminal de Ariquemes (RO), situada a 202 quilômetros de Porto Velho. Além disso, a 1ª Câmara do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) também negou recurso da defesa do acusado, que pedia sua transferência do presídio federal de Campo Grande (MS) para o sistema prisional do Estado de Rondônia. Com uma vasta ficha de crimes ambientais, Chaules é dono de mais de 120 madeireiras no Norte do Brasil.
Com quase 600 páginas, a sentença também condenou 11 policiais militares envolvidos na organização criminosa responsável por invadir terras e explorar madeira ilegal na zona rural de Cujubim (RO), especificamente na linha 106, numa região chamada de Região do Soldado da Borracha.

A condenação saiu quase um ano depois da maior audiência de instrução já ocorrida no Brasil, iniciada em julho de 2020, realizada virtualmente durante 36 dias e que ouviu 96 pessoas.
Pozzebon foi preso no dia 23 de outubro de 2019, apontado como suspeito de liderar uma organização criminosa. A prisão ocorreu durante a operação Deforest, que tinha como alvos pessoas que estavam sendo investigadas em Rondônia, Amazonas e São Paulo.
De acordo com o TJ-RO, “esse grupo teria construído uma “porteira” e uma casa ao lado (da porteira), onde o suposto dono pôs pessoas para cobrar uma espécie de “pedágio” dos proprietários de outros lotes de terra que passavam pelo local”.
Nos autos também é especificado que “quem tivesse terras ou negócios depois da ‘porteira’ tinha de pagar determinados valores, definidos em uma tabela que variava de R$ 50 a R$ 3 mil por caminhão de toras, lascas ou máquina que precisasse passar pela ‘estrada do Chaules’”, como o lugar ficou conhecido, indicando à Justiça a existência de “estrutura ordenada”. O grupo chegava a lucrar até R$ 65 mil por mês.
Segundo a investigação do Ministério Público, a intenção do grupo era vender os 700 lotes de terra da região por valores que chegavam a R$ 200 mil. Os que haviam sido vendidos eram desmatados para viabilizar a exploração de madeira. Os principais clientes de Chaules eram outros empresários de cidades próximas.
O MP identificou ainda os crimes de homicídio e lavagem de dinheiro. De acordo com o inquérito, empresários, policiais e pistoleiros compunham a organização criminosa.
O líder
Chaules Volban Pozzebon é o único de 16 réus que está preso fora do Estado. Ele é natural de Capanema (PR), tem 49 anos e começou a trabalhar no ramo madeireiro no início dos anos 2000, quando chegou a Ariquemes (RO). Sua ficha criminal vai de delitos contra o meio ambiente a atrocidades como a utilização de trabalho escravo.

Em 2012, o Ministério do Trabalho resgatou 22 trabalhadores em situação análoga à escravidão, na Fazenda Pedra Preta, em Cujubim (RO), onde Chaules custeava a criação de gado.
Ainda hoje, possui pelo menos outros 16 crimes e irregularidades registrados em seu nome.
Veja as condenações de cada integrante da organização criminosa
| Réu | Fundão na organização criminosa | Pena |
| Chaules Volban Pozzebon | Líder | 99 anos, 2 meses e 23 dias e 1.550 dias-multa |
| Thiago Teixeira | Diretor (era o gestor de documentos dos lotes) | 87 anos, 7 meses e 21 dias + 810 dias-multa |
| Filizardo Alves Moreira | Gerente (controlador de finanças) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa |
| José Socorro de Melo Castro | Supervisor (coordenava o apoio logístico) | 87 anos e 7 meses +810 dias-multa |
| João Carlos de Carvalho (Sargento da PM) | Levava informações privilegiadas da Segurança Pública | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Jó Ananias Barboza da Silva (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Paulo César Barbosa (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Antônio Francisco dos Santos (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Rogério Carneiro dos Santos (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 87 anos e 7 meses + 810 dias-multa e perda das funções públicas |
| José Luiz da Silva (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Elizângelo Correia de Souza (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Renilso Alves Pinto (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Eduardo Rogério Moret (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas |
| Djyeison de Oliveira (PM) | Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios) | 87 anos e 7 meses + 810 dias-multa e perda das funções públicas |
| Emanuel Ferreira (Sargento da PM) | Grupo subalterno (terraplanagem e maquinário em geral, limpando lotes de posseiros) | 84 anos e 1 mês + perda das funções públicas |
| Marcelo Campos Berg | Grupo subalterno (terraplanagem e maquinário em geral, limpando lotes de posseiros) | 84 anos e 1 mês |
A defesa de Chaules Pozzebon manifestou “imensa perplexidade” com a pena de quase um século de prisão.