Quase um século na prisão: maior desmatador do Brasil e comparsas policiais são condenados em RO

Chaules Pozzebon, de 49 anos, tem uma longa ficha criminal, que vão de delitos contra o meio ambiente à utilização de trabalho escravo. (Reprodução/Agência Brasil)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Considerado pela Polícia Federal e Ministério Público do Estado de Rondônia (MP-RO) o maior desmatador do Brasil, o madeireiro Chaules Volban Pozzebon foi condenado a quase 100 anos de prisão, na última sexta-feira, 18, pela 1ª Vara Criminal de Ariquemes (RO), situada a 202 quilômetros de Porto Velho. Além disso, a 1ª Câmara do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) também negou recurso da defesa do acusado, que pedia sua transferência do presídio federal de Campo Grande (MS) para o sistema prisional do Estado de Rondônia. Com uma vasta ficha de crimes ambientais, Chaules é dono de mais de 120 madeireiras no Norte do Brasil.

Com quase 600 páginas, a sentença também condenou 11 policiais militares envolvidos na organização criminosa responsável por invadir terras e explorar madeira ilegal na zona rural de Cujubim (RO), especificamente na linha 106, numa região chamada de Região do Soldado da Borracha.

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Pozzebon foi preso em 23 de outubro de 2019, apontado como suspeito de liderar a organização criminosa. (Reprodução/Polícia Federal)

A condenação saiu quase um ano depois da maior audiência de instrução já ocorrida no Brasil, iniciada em julho de 2020, realizada virtualmente durante 36 dias e que ouviu 96 pessoas.

Pozzebon foi preso no dia 23 de outubro de 2019, apontado como suspeito de liderar uma organização criminosa. A prisão ocorreu durante a operação Deforest, que tinha como alvos pessoas que estavam sendo investigadas em Rondônia, Amazonas e São Paulo.

De acordo com o TJ-RO, “esse grupo teria construído uma “porteira” e uma casa ao lado (da porteira), onde o suposto dono pôs pessoas para cobrar uma espécie de “pedágio” dos proprietários de outros lotes de terra que passavam pelo local”.

Nos autos também é especificado que “quem tivesse terras ou negócios depois da ‘porteira’ tinha de pagar determinados valores, definidos em uma tabela que variava de R$ 50 a R$ 3 mil por caminhão de toras, lascas ou máquina que precisasse passar pela ‘estrada do Chaules’”, como o lugar ficou conhecido, indicando à Justiça a existência de “estrutura ordenada”. O grupo chegava a lucrar até R$ 65 mil por mês.

Segundo a investigação do Ministério Público, a intenção do grupo era vender os 700 lotes de terra da região por valores que chegavam a R$ 200 mil. Os que haviam sido vendidos eram desmatados para viabilizar a exploração de madeira. Os principais clientes de Chaules eram outros empresários de cidades próximas.

O MP identificou ainda os crimes de homicídio e lavagem de dinheiro. De acordo com o inquérito, empresários, policiais e pistoleiros compunham a organização criminosa.

O líder

Chaules Volban Pozzebon é o único de 16 réus que está preso fora do Estado. Ele é natural de Capanema (PR), tem 49 anos e começou a trabalhar no ramo madeireiro no início dos anos 2000, quando chegou a Ariquemes (RO). Sua ficha criminal vai de delitos contra o meio ambiente a atrocidades como a utilização de trabalho escravo.

(Reprodução/Internet)

Em 2012, o Ministério do Trabalho resgatou 22 trabalhadores em situação análoga à escravidão, na Fazenda Pedra Preta, em Cujubim (RO), onde Chaules custeava a criação de gado.

Ainda hoje, possui pelo menos outros 16 crimes e irregularidades registrados em seu nome.

Veja as condenações de cada integrante da organização criminosa

RéuFundão na organização criminosaPena
Chaules Volban PozzebonLíder 99 anos, 2 meses e 23 dias e 1.550 dias-multa
Thiago Teixeira Diretor (era o gestor de documentos dos lotes)87 anos, 7 meses e 21 dias + 810 dias-multa
Filizardo Alves Moreira Gerente (controlador de finanças)84 anos e 1 mês +  800 dias-multa
José Socorro de Melo CastroSupervisor (coordenava o apoio logístico)87 anos e 7 meses +810 dias-multa
João Carlos de Carvalho (Sargento da PM)Levava informações privilegiadas da Segurança Pública84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas
Jó Ananias Barboza da Silva (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Paulo César Barbosa (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Antônio Francisco dos Santos (PM) Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Rogério Carneiro dos Santos (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)87 anos e 7 meses + 810 dias-multa e perda das funções públicas
José Luiz da Silva (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Elizângelo Correia de Souza (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Renilso Alves Pinto (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Eduardo Rogério Moret (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)84 anos e 1 mês + 800 dias-multa e perda das funções públicas 
Djyeison de Oliveira (PM)Grupo de Operações (Operações, vigilância, patrulhas, controle da porteira e exigência de pedágios)87 anos e 7 meses + 810 dias-multa e perda das funções públicas 
Emanuel Ferreira (Sargento da PM)Grupo subalterno (terraplanagem e maquinário em geral, limpando lotes de posseiros)84 anos e 1 mês + perda das funções públicas 
Marcelo Campos BergGrupo subalterno (terraplanagem e maquinário em geral, limpando lotes de posseiros)84 anos e 1 mês
Fonte: Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia (TJ-RO)

A defesa de Chaules Pozzebon manifestou “imensa perplexidade” com a pena de quase um século de prisão. 

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