‘Quero trazer muito mais que um Nobel para o Brasil’, diz amazonense que detectou 46 asteroides

Geovana foi criada no Jorge Teixeira e atualmente mora no Ceará para estudar Física (Foto: Ricardo Oliveira/Cenarium)

Malu Dacio — Da Revista Cenarium

MANAUS — Geovana Sousa Ramos, de 21 anos, detectou 46 asteroides durante o projeto “Caça Asteroides”, atividade de Ciência Cidadã do IASC/Nasa (International Astronomical Search Collaboration) e de promoção das ciências, em parcerias com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). As atividades aconteceram entre junho e novembro.

Geovana veio visitar os pais na capital amazonense, na última semana, e aproveitou a ocasião para conhecer a redação da REVISTA CENARIUM.

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A jovem, que cresceu no bairro Jorge Teixeira, zona Leste de Manaus, revelou sonhos e projetos que almeja realizar. Tal qual os corpos celestes que detectou — não descobriu, como muitas vezes divulgado de forma errada —, voa alto e já é destaque, ainda no primeiro período da faculdade.

“Quero focar na minha carreira internacional para poder propagar a educação no meu País. Nunca vai ser só a Geovana, ali. É uma mulher, brasileira, nortista. E ainda representando o Norte e Nordeste que sempre são invisibilizados no nosso País”, conta.

A amazonense sonha alto e quer se dedicar à carreira internacional. (Foto: Ricardo Oliveira/Cenarium)

“Nunca um brasileiro trouxe um Nobel para gente, mas se eu for lá para fora e correr atrás, eu vou trazer muito mais que um Nobel para nós”, destacou.

Atualmente, Geovana vive no município de Tianguá, interior do Ceará, e cursa o 1º período de Licenciatura em Física, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE – Campus Sobral).

“Quando me formei, em 2021, não abriram vagas na Ufam e a oportunidade no Ceará é muito boa para minha área, há muitos investimentos na astronomia e eu me sinto muito abraçada pela minha faculdade, professores etc. Eles me incentivam em absolutamente tudo”, conta a estudante.

Geovana acredita que ir para o Ceará foi a melhor escolha que fez e que não acredita que teria o mesmo apoio na capital amazonense e até mesmo na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

“Buscamos a melhor faculdade? Óbvio que sim. Mas a melhor faculdade é aquela que apoia você, os seus sonhos, e a que eu estudo faz exatamente isso. Se eu disser agora para eles que preciso ir para Nasa semana que vem, eles vão me apoiar seja financeiramente, dando forças e até ajudando a arrumar a mala, se preciso for”, explica.

Geovana saiu de Manaus ‘na cara e na coragem’ e contou com o apoio tímido da família. Ela mora sozinha e se dedica atualmente 100% à pesquisa e à educação. Estudando Licenciatura, a linha de pesquisa da amazonense é astrofísica.

Geovana foi convidada para ir até Brasília receber homenagens. (Foto: Divulgação)

Pesquisa e detecção

Geovana explica que entrou na ‘corrida’ nos últimos dias de projeto e foram disponibilizados mais de 17.500 imagens captadas pelos telescópios do Pan-STARRS, gerenciado pela Universidade do Havaí.

“Vi outros cientistas e pesquisadores participando e mesmo sem entender eu me dei a oportunidade de não participar, não como líder, e já fiz logo a minha primeira detecção. Ano que vem, terá de novo e certamente vou ganhar o troféu de maior caçadora, porque da segunda vez fui como líder e detectei os outros 45 asteroides. Quem quiser formar equipe pode entrar em contato comigo!”, convidou.

Logo na sua primeira participação, Geovana descobriu um asteroide, que a rendeu uma medalha do Ministério da Ciência (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Utilizando o software Astrometrica, foi possível a identificação dos padrões de possíveis asteroides, pertencentes à região entre Marte e Júpiter, ou em órbita próxima à Terra (NEOs), contribuindo com a detecção de novos ou melhorando na precisão das órbitas dos já conhecidos.

Até chegar o momento da pesquisa em que a amazonense poderá decidir os nomes dos asteroides inéditos e até mesmo a confirmação dos corpos celestes, poderá levar uma média de 6 a 8 anos.

“Tem muita gente que entra em contato comigo querendo seguir a área e perguntando o que fazer, muitas crianças. Isso é a coisa mais linda que uma pessoa pode receber”, celebrou.

Honra ao Mérito

Geovana também recebeu certificados de reconhecimento assinados pelo MCTI, IASC, Nasa e foi convidada pelo MCTI para participar da 18° Edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, e recebeu medalha e certificado de honra ao mérito pelo astronauta e ministro da Ciência, Marcos Pontes.

Geovana recebeu medalha e certificado das mãos do astronauta e ministro Marcos Pontes. (Foto: Divulgação)

“Mais uma vez, nunca vai ser só a Geovana. Nunca será sobre mim e isso é incrível. Estou só sendo uma ferramenta, mas tem uma galera comigo, quando eu olho para trás eu sei que tem o sorriso de muitos envolvido”, disse. “Não tenha medo de enfrentar seu propósito. Viva sua verdade. Saia do padrão que é casa, dinheiro ou coisas materiais e vamos para algo verdadeiro. É mais que seu nome, é uma história. A sua história que você carrega e é isso que vale a pena viver”, finaliza.

Certificação obtida pela amazonense (Foto: Divulgação)
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