Receita cria Nota Fiscal eletrônica para combater garimpo ilegal em RR


31 de março de 2023
Receita cria Nota Fiscal eletrônica para combater garimpo ilegal em RR
Garimpo ilegal na TI Yanomami é um dos principais causadores da crise humanitária na região (Daniel Marenco)
Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

BOA VISTA – A Receita Federal instituiu nessa quinta-feira, 30, uma norma que cria a Nota Fiscal eletrônica (NFe) obrigatória para minério classificado como ativo financeiro ou instrumento cambial, a exemplo da extração do ouro. A instrução normativa busca promover o aumento da transparência e do controle dessas operações e faz parte das ações do governo federal para combater a crise humanitária do povo Yanomami, afetado pelas operações ilegais de garimpo, no Estado de Roraima. A nova norma entra em vigor a partir do dia 3 de julho deste ano.

O garimpo ilegal cresceu 54%, em 2022, e devastou novos 5.053 hectares da Terra Indígena Yanomami (Bruno Kelly/Reuters)

A implementação da NFe viabiliza auditorias das operações envolvendo ouro por meio de ferramentas tecnológicas. A medida foi vista como um avanço importante pelo diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann. “Este é um avanço importantíssimo para evitar o fomento financeiro a atividades de garimpo ilegal de ouro em regiões como a Amazônia”, disse Jungmann.

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Diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann destaca a importância da medida (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Segundo Jungmann, a prática ilegal de extração do minério está na base de uma série de ações criminosas contra pessoas, o meio ambiente e a economia do País. “O setor mineral também sofre a concorrência desleal do garimpo ilegal”, concluiu.

Para o Ibram, é fundamental implementar sistemas de rastreamento e certificação de origem do minério, além de promover mudanças na legislação e tributação relacionadas ao ouro no País.

Registros

A mudança era um pleito de organizações ambientalistas, entidades do setor de mineração e até pela Polícia Federal por ser considerado um instrumento importante para combater o garimpo ilegal, principalmente em terras indígenas e reservas ambientais.

“A exigência da nota fiscal eletrônica é uma medida fundamental para iniciar a moralização da comercialização do ouro no Brasil. Finalmente, o País começa a adotar as medidas de controle sobre o garimpo, na Amazônia”, afirma Larissa Rodrigues, gerente de portfólio do Instituto Escolhas.

No ano passado, o Instituto Escolhas divulgou um levantamento baseado em dados da Agência Nacional de Mineração (ANM). Em 2021, foram registradas 52,8 toneladas de ouro com graves indícios de ilegalidade no Brasil, o que equivale a 54% da produção nacional. O número representa um aumento de 25% em relação ao ano anterior.

Em fevereiro de 2023, a Polícia Federal divulgou informações sobre a Operação Nau dos Quintos, que investigou a movimentação de R$ 271 milhões oriundos da venda de ouro ilegal extraído de Roraima, região onde está localizada a Terra Indígena Yanomami.

Cenário atual

Em um ofício encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Agência Nacional de Mineração (ANM) admitiu que não possui recursos para fiscalizar a legalidade do ouro extraído em garimpos. A falta de fiscais para desempenhar essa função, bem como os cortes orçamentários sofridos pelo órgão regulador, foram apontados como os principais fatores que impedem a realização dessa fiscalização

“Atualmente, a ANM não dispõe de recursos para realizar a verificação dos formulários armazenados pelas DTVMs de forma generalizada. Tal ação exigiria grande contingente de fiscais, algo impossível em um cenário de redução de quase 50% da força de trabalho da Agência nos últimos dez anos”, disse o órgão.

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