Seis crianças morrem por síndromes gripais no Amapá; mais de 200 estão internadas
22 de maio de 2023
Pelo menos 35 crianças estão em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) no Amapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – O governo do Amapá confirmou, nesta segunda-feira, 22, que subiu para seis o número de crianças mortas durante a emergência em saúde pública que o Estado enfrenta há quase 10 dias por conta de um surto de síndromes gripais na população infantil. Os óbitos mais recentes foram registrados neste último fim de semana: dois bebês, de 8 e 2 meses respectivamente.
À REVISTA CENARIUM, o governo também informou que o total de internações passou de 174 para 201, até a manhã desta segunda, no Hospital da Criança e do Adolescente (HCA) e na Maternidade Mãe Luzia, na capital Macapá. Pelo menos 35 crianças estão em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Bebê recebendo atendimento no Hospital da Criança e do Adolescente (HCA), em Macapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)
Como um reforço, o governo federal enviou 12 toneladas de oxigênio para abastecer 30 novos leitos que serão abertos no Hospital Universitário (HU). O material foi despachado de Belém, na madrugada de domingo, e tem previsão de chegada na próxima terça, 23.
Crise
O quadro alarmante de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que tem atingido, principalmente, as crianças de até seis anos, é provocado, de acordo com a Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS), pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador de doenças que dificultam a chegada de oxigênio aos pulmões. O vírus circula, paralelamente, às influenzas A e B e ao Sars-Cov-2 da Covid-19.
Ao todo, 249 leitos clínicos e de UTI já foram abertos pela Secretaria de Saúde do Amapá (Sesa) e mais 60 ainda vão funcionar. A metade deles, em um hospital particular contratado pela Sesa, no município de Santana, a 22 quilômetros da capital, enquanto os outros 30 vão operar no HU, que ainda está sendo preparado e só deve abrir quando o oxigênio enviado em um navio da Marinha chegar, como informou o governo à reportagem.
“Paralelo a isso, [a Sesa] reforçou escalas, comprou medicamentos, insumos e equipamentos”, destacou, ainda, a nota do Executivo. Outra ajuda do Ministério da Saúde (MS) foi o envio de uma equipe técnica e profissionais para auxiliar nos atendimentos, nos hospitais, além de 50 mil doses de imunizantes.
“A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) fez um diagnóstico situacional e abriu chamado para pediatras, enfermeiros e fisioterapeutas intensivistas para atuarem no Amapá”, informou o governo do Estado à CENARIUM.
Aparelhagem de um dos 249 leitos de UTI já abertos pelo governo durante a crise de síndromes gripais no Amapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)
Mais vulneráveis
A pediatra e pneumologista infantil Grace Marques explica que crianças, especialmente, as menores de dois anos, são as que mais têm chances de desenvolver quadros graves de doenças respiratórias, a ponto de precisar de internação. Os agentes causadores, segundo ela, atingem as vias aéreas, gerando inflamação, aumento da secreção e estreitamento dos canais.
“Isso dificulta a passagem do ar até as mais profundas regiões pulmonares, onde é feita a absorção do oxigênio e a liberação do gás carbônico. Assim, surge a dificuldade respiratória. A criança passa a respirar mais rápido, o que é percebido como cansaço. O oxigênio necessário para o funcionamento dos órgãos fica reduzido e, portanto, pode ser necessário suplemento de oxigênio medicinal, o que só é possível em ambientes hospitalares”, detalhou a especialista à CENARIUM.
“Portanto, é importante que crianças pequenas e, principalmente, os recém-nascidos, sejam afastados de ambientes onde haja alguém com qualquer doença respiratória. Os bebês ainda têm a imunidade em formação, ou seja, eles não têm defesas para combater a infecção viral com rapidez”, alertou Marques.
A pediatra e pneumologista infantil Grace Marques (Reprodução/Acervo Pessoal)
A vacinação contra a Influenza, para bebês, é recomendada apenas a partir do sexto mês de vida. Por isso, além de evitar contatos desnecessários com adultos e até com outras crianças, a pneumopediatra garante como eficazes alternativas de prevenção à fuga de aglomerações e a imunização dos pais contra a gripe.
Uma das 50 crianças internadas no Pronto-Socorro Infantil (PAI) de Macapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)
Vigilância o ano todo
Não é à toa que o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é o principal causador da crise de saúde da população infantil do Amapá, pois é o vírus mais comum da primeira e da segunda infância, de acordo com a explicação do pneumologista David Luniere.
“Ele [o vírus] é o que gera o maior agravo porque é, praticamente, endêmico o ano todo, enquanto o Influenza e outros vírus ocorrem com mais frequência em determinados períodos de maior transmissibilidade”, disse o especialista à CENARIUM. “Obviamente, haverão mais casos e, portanto, mais casos graves”, acrescentou.
Dessa forma, ele também defende a imunização da população vacinável e o cultivo de hábitos adotados na pandemia, como o uso de máscaras de proteção. “Se faz necessário a vacinação em dia e o acompanhamento médico para a identificação precoce, para que isso não gere um quadro de insuficiência respiratória, levando o paciente a precisar de internação, UTI, e intubação”, alertou Luniere.
O pneumologista David Luniere (Reprodução/Acervo Pessoal)
“Apesar de nós termos vacinas que tendem a imunizar contra cepas vigentes [do vírus Influenza], ainda assim, esse vírus sofre mutação, fazendo com que, anualmente, as campanhas de vacinação cubram a necessidade de extremos de idade, sejam crianças ou adultos/idosos”, apontou.
Segundo o governo do Amapá, a cobertura vacinal contra o vírus Influenza aumentou de 23,19% para quase 32% em todo o Estado, até 13 de maio, quando a gestão decretou situação de emergência. A meta é chegar a 90% da população amapaense.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.