Seis crianças morrem por síndromes gripais no Amapá; mais de 200 estão internadas

Pelo menos 35 crianças estão em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) no Amapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – O governo do Amapá confirmou, nesta segunda-feira, 22, que subiu para seis o número de crianças mortas durante a emergência em saúde pública que o Estado enfrenta há quase 10 dias por conta de um surto de síndromes gripais na população infantil. Os óbitos mais recentes foram registrados neste último fim de semana: dois bebês, de 8 e 2 meses respectivamente. 

À REVISTA CENARIUM, o governo também informou que o total de internações passou de 174 para 201, até a manhã desta segunda, no Hospital da Criança e do Adolescente (HCA) e na Maternidade Mãe Luzia, na capital Macapá. Pelo menos 35 crianças estão em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Bebê recebendo atendimento no Hospital da Criança e do Adolescente (HCA), em Macapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)

Como um reforço, o governo federal enviou 12 toneladas de oxigênio para abastecer 30 novos leitos que serão abertos no Hospital Universitário (HU). O material foi despachado de Belém, na madrugada de domingo, e tem previsão de chegada na próxima terça, 23.

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Crise

O quadro alarmante de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que tem atingido, principalmente, as crianças de até seis anos, é provocado, de acordo com a Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS), pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador de doenças que dificultam a chegada de oxigênio aos pulmões. O vírus circula, paralelamente, às influenzas A e B e ao Sars-Cov-2 da Covid-19.

Ao todo, 249 leitos clínicos e de UTI já foram abertos pela Secretaria de Saúde do Amapá (Sesa) e mais 60 ainda vão funcionar. A metade deles, em um hospital particular contratado pela Sesa, no município de Santana, a 22 quilômetros da capital, enquanto os outros 30 vão operar no HU, que ainda está sendo preparado e só deve abrir quando o oxigênio enviado em um navio da Marinha chegar, como informou o governo à reportagem. 

“Paralelo a isso, [a Sesa] reforçou escalas, comprou medicamentos, insumos e equipamentos”, destacou, ainda, a nota do Executivo. Outra ajuda do Ministério da Saúde (MS) foi o envio de uma equipe técnica e profissionais para auxiliar nos atendimentos, nos hospitais, além de 50 mil doses de imunizantes.

“A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) fez um diagnóstico situacional e abriu chamado para pediatras, enfermeiros e fisioterapeutas intensivistas para atuarem no Amapá”, informou o governo do Estado à CENARIUM

Aparelhagem de um dos 249 leitos de UTI já abertos pelo governo durante a crise de síndromes gripais no Amapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)

Mais vulneráveis

A pediatra e pneumologista infantil Grace Marques explica que crianças, especialmente, as menores de dois anos, são as que mais têm chances de desenvolver quadros graves de doenças respiratórias, a ponto de precisar de internação. Os agentes causadores, segundo ela, atingem as vias aéreas, gerando inflamação, aumento da secreção e estreitamento dos canais. 

“Isso dificulta a passagem do ar até as mais profundas regiões pulmonares, onde é feita a absorção do oxigênio e a liberação do gás carbônico. Assim, surge a dificuldade respiratória. A criança passa a respirar mais rápido, o que é percebido como cansaço. O oxigênio necessário para o funcionamento dos órgãos fica reduzido e, portanto, pode ser necessário suplemento de oxigênio medicinal, o que só é possível em ambientes hospitalares”, detalhou a especialista à CENARIUM

“Portanto, é importante que crianças pequenas e, principalmente, os recém-nascidos, sejam afastados de ambientes onde haja alguém com qualquer doença respiratória. Os bebês ainda têm a imunidade em formação, ou seja, eles não têm defesas para combater a infecção viral com rapidez”, alertou Marques.

A pediatra e pneumologista infantil Grace Marques (Reprodução/Acervo Pessoal)

A vacinação contra a Influenza, para bebês, é recomendada apenas a partir do sexto mês de vida. Por isso, além de evitar contatos desnecessários com adultos e até com outras crianças, a pneumopediatra garante como eficazes alternativas de prevenção à fuga de aglomerações e a imunização dos pais contra a gripe.

Uma das 50 crianças internadas no Pronto-Socorro Infantil (PAI) de Macapá (Reprodução/Secretaria de Saúde do Amapá)

Vigilância o ano todo

Não é à toa que o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é o principal causador da crise de saúde da população infantil do Amapá, pois é o vírus mais comum da primeira e da segunda infância, de acordo com a explicação do pneumologista David Luniere.

“Ele [o vírus] é o que gera o maior agravo porque é, praticamente, endêmico o ano todo, enquanto o Influenza e outros vírus ocorrem com mais frequência em determinados períodos de maior transmissibilidade”, disse o especialista à CENARIUM. “Obviamente, haverão mais casos e, portanto, mais casos graves”, acrescentou.

Dessa forma, ele também defende a imunização da população vacinável e o cultivo de hábitos adotados na pandemia, como o uso de máscaras de proteção. “Se faz necessário a vacinação em dia e o acompanhamento médico para a identificação precoce, para que isso não gere um quadro de insuficiência respiratória, levando o paciente a precisar de internação, UTI, e intubação”, alertou Luniere.

O pneumologista David Luniere (Reprodução/Acervo Pessoal)

“Apesar de nós termos vacinas que tendem a imunizar contra cepas vigentes [do vírus Influenza], ainda assim, esse vírus sofre mutação, fazendo com que, anualmente, as campanhas de vacinação cubram a necessidade de extremos de idade, sejam crianças ou adultos/idosos”, apontou.

Segundo o governo do Amapá, a cobertura vacinal contra o vírus Influenza aumentou de 23,19% para quase 32% em todo o Estado, até 13 de maio, quando a gestão decretou situação de emergência. A meta é chegar a 90% da população amapaense.

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