‘Semana Chico Mendes’ tem premiação no Acre: evento mantém vivo ideais de seringueiro

Gabriel Abreu* – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com o objetivo de manter vivo o legado e os ideais de Chico Mendes e discutir assuntos sobre a sociobiodiversidade da Amazônia e do Mundo, ocorre até a próxima terça-feira, 22, a 31ª edição da Semana Chico Mendes que este ano, por conta da pandemia de Covid-19, é realizada virtualmente. O evento acontece em homenagem à grande liderança seringueira Chico Mendes, que nasceu no dia 15 de dezembro e foi assassinado uma semana depois.

A programação conta com 20 horas de atividades que reforçam e retroalimentam as sementes disseminadas por Chico e que ainda deve reunir lideranças da linha de frente da luta ambiental do Brasil para celebrar o momento e planejar os próximos passos da jornada coletiva humanitária.

Segundo a neta de Chico, Angélica Mendes, voluntária do Comitê CM, o objetivo principal da Semana deste ano é pontuar os desafios e possíveis soluções para fortalecimento dos povos tradicionais e manutenção de projetos idealizados pelo seringueiro como a Aliança dos Povos da Floresta, responsável pela consolidação das Reservas Extrativista. A iniciativa garante direito de voz, moradia e preservação das comunidades tradicionais e originárias que vivem na Amazônia.

“A importância da Semana Chico Mendes é manter vivo o legado que Chico deixou. Um legado de luta em defesa dos povos da floresta, que defende a floresta em pé, o que é suficiente para prover todos os recursos que precisamos, inclusive, economicamente, pensando no mercado, enfim, é um legado gigante, que a gente precisa manter vivo e que mais pessoas conheçam a história”, disse.

Seringal Cultural

Durante a 31ª edição da Semana Chico Mendes que ocorre a quinta edição do Seringal Cultural, evento que faz parte da programação desde 2017 e traz a apresentação de artistas locais dentro da temática do legado de Chico.

O festival foi criado pensando na inserção das novas gerações nas pautas socioambientais que permeiam a história de Chico Mendes, dos seringais e do Estado do Acre utilizando a cultura como ferramenta propagadora dessas lutas pelo meio ambiente e pela humanidade. Nas edições anteriores, o festival contou com a apresentação de dezenas de músicos e também com a participação da dançarina Dani Mirini.

Legado vivo, legado ameaçado

De acordo com Dione Torquato, a luta dos povos da floresta tem em Chico Mendes, seu marco existencial. “É a partir de Chico Mendes que, há quatro décadas, os povos da floresta se organizaram para lutar pelo direito de existir e de viver em um território de uso coletivo. É a partir dele que passamos a defender o conceito de reservas extrativistas”, destacou à REVISTA CENARIUM.

O líder extrativista chama a atenção para o efeito contrário que o assassinato de Chico Mendes surtiu a partir da década de 1980. “Acharam que a morte dele iria nos calar, mas, ao contrário, fortaleceu a nossa luta e ganhamos a atenção do mundo para o que acontece na Amazônia. Isso se deve em muito à luta de Chico Mendes”, assegurou.

Mas, apesar dos ganhos e reconhecimentos, Dione reconhece que o legado de Chico Mendes está ameaçado. “Hoje temos 60 milhões de hectares, ou seja, mais de 10% da Amazônia pertence ao uso coletivo das populações que vivem do extrativismo, porém, o legado de Chico Mendes está ameaçado pelas ações do governo”, lamentou.

“Para se ter uma ideia, existe uma forte pressão pela redefinição do Parque Estadual Guajará-Mirim, tudo isso indica que a luta de Chico Mendes e dos povos da floresta está sob ameaça. Outro detalhe é que a ‘Semana Chico Mendes’, que é um evento símbolo do Acre, não é realizada pelo governo do Estado há dois anos. Na ausência do Prêmio Chico Mendes de Florestania, que era entregue pelo governo, os movimentos criaram o prêmio Chico Mendes de Resistência”, finalizou.

Programação

(*) Colaborou o jornalista Mencius Melo