Sobreviventes de incêndio florestal no Havaí apontam falhas no sistema de alertas

Mulher tira foto de local onde ficava sua casa, destruída pelas chamas em Maui, no Havaí (Patrick T. Fallon/AFP)
Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO PAULO – Autoridades do Havaí atualizaram para 96 o número de mortes no incêndio florestal que devastou a ilha de Maui, enquanto socorristas continuam à procura de dezenas de desaparecidos. Ao mesmo tempo, sobreviventes pressionam o governo local, apontando lentidão e falhas nos sistemas de alertas.

O incêndio já é considerado o mais letal dos EUA neste século. As autoridades confirmaram no sábado (12) que o número de vítimas ultrapassou as 85 provocadas por uma tragédia semelhante na cidade de Paradise, na Califórnia, em 2018. Também é a maior catástrofe do tipo desde 1918, quando 453 pessoas morreram nos estados de Minnesota e Wisconsin.

A crise atual parece longe de arrefecer, e o governador do Havaí, Josh Green, admite que o número de mortos deve continuar aumentando —segundo a polícia, cães farejadores cobriram 3% da área de busca.

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Enquanto os bombeiros ainda lidam com o trabalho de rescaldo e tentam controlar focos de incêndio que persistem, sobreviventes se mobilizam nas redes sociais numa tentativa de encontrar desaparecidos. “Ainda estamos procurando os meus sogros”, escreveu Heather Baylosis em uma rede social. “Pessoas estão sendo encontradas vivas e gravemente desorientadas devido ao que passaram. Temos esperança!”

Parte da população vem manifestando revolta com o que considera uma falha do governo em avisar sobre os incêndios. O Havaí tem o maior sistema de sirenes de alerta de segurança pública ao ar livre do mundo, mas nenhum dos 80 equipamentos instalados ao redor de Maui foi ativado enquanto o fogo se alastrava.

O incêndio começou na terça (8) e tomou Maui rapidamente devido a fortes ventos. Na semana passada, o chefe dos bombeiros Bradford Ventura disse que a agência de resposta a emergências não teve tempo suficiente para alertar os funcionários e enviar ordens para a retirada das pessoas.

Assim, testemunhas relatam que tiveram pouco tempo para reagir. A ilha de Maui sofreu várias interrupções de energia durante a crise, impedindo que muitos moradores recebessem alertas nos celulares. Surpreendidas, algumas pessoas tiveram que se jogar no mar para escapar das chamas.
“A montanha atrás de nós pegou fogo e ninguém nos avisou!”, disse Vilma Reed, 63.

No plano para gestão de emergências publicado no ano passado, o Havaí descreveu o risco de incêndios florestais afetarem a população como “baixo”. Agora, pressionado, Green prometeu apurar a resposta às chamas. “Em breve saberemos se foi feito o suficiente para ativar as sirenes”, disse ele à rede MSNBC.

Parlamentares também comentaram a suposta falha nos sistemas de alerta. Mazie Hirono, senadora do Havaí pelo Partido Democrata, afirmou que acompanharia com atenção os resultados da investigação anunciada pela procuradora-geral do estado, Anne Lopez.

“Não vou dar nenhuma desculpa para esta tragédia”, disse Hirono à CNN. “No que me diz respeito, estamos concentrados nos resgate e, tristemente, na localização de mais corpos”, acrescentou.

Os corpos estão carbonizados e apenas dois puderam ser identificados, de acordo com a polícia. Assim, as autoridades pedem aos familiares dos desaparecidos que se submetam a testes de DNA.

A polícia de Maui disse que não será permitida a entrada na cidade de Lahaina enquanto as buscas continuarem —o bloqueio se aplica inclusive a moradores. O custo para reconstruir o município foi estimado em US$ 5,5 bilhões (R$ 27 bilhões) pela Agência Federal de Administração de Emergências. Mais de 2.200 estruturas foram danificadas ou destruídas, e cerca de 850 hectares, queimados.

O desastre ocorre no Havaí depois de a América do Norte sofrer os impactos de vários fenômenos climáticos extremos nos últimos meses, de incêndios recorde no Canadá a uma extensa onda de calor que castigou o sudeste dos Estados Unidos e o México. A Europa e algumas regiões da Ásia também sofreram com ondas de calor, inundações e incêndios alimentados pela crise climática, segundo especialistas.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.

(*) Com informações da Folhapress

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