Subida lenta do Rio Negro expõe descarte impróprio de lixo na Manaus Moderna
22 de fevereiro de 2024
Canoa em ao lixo na orla da Manaus Moderna (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Jessika Caldas – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Com a subida lenta do Rio Negro, maior afluente do Rio Amazonas, em Manaus, o lixo proveniente da rede de esgoto e do descarte impróprio se evidencia na orla do porto da Manaus Moderna, no Centro, Zona Sul.
A REVISTA CENARIUM constatou nesta quarta-feira, 21, que a orla do porto da Manaus Moderna, Centro, Zona Sul, está tomada por garrafas PET e lixo doméstico proveniente de residências das redondezas dos bairros Educandos e Santa Luzia, na mesma zona.
Manaus é banhada pelo Rio Negro, que registrou em outubro passado o menor nível em mais de 100 anos e apresenta subida lenta. Após passar por um período de estiagem, o nível do Rio Amazonas, o maior do mundo em volume de água e em extensão, segue subindo; porém, com ritmo mais lento em comparação com anos anteriores.
O rio está subindo em uma média de 5 centímetros por dia, de acordo com dados do Porto de Manaus, em comparação com o mês de janeiro do ano passado.
Orla da Manaus Moderna (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Segundo o geógrafo e diretor da WCS Brasil, Carlos Durigan, a Amazônia está passando por um cenário extremo que está associado à mudança do clima global, resultando em um inverno amazônico mais seco e mais quente, o que acaba por afetar também a subida dos rios da região.
“Desde 2023, estamos passando por uma fase preocupante na Amazônia, o que pode ser observado na lentidão da subida dos rios, resultado da junção de fenômenos que estão atrelados à mudança do clima global. No ano passado, a temperatura média global do planeta ultrapassou o limite preocupante de 1,5°C acima do período pré-industrial. Este limite sempre foi colocado como um sinal de alerta pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e também foi utilizado, em 2015, na COP do Clima de Paris, para nortear o acordo global de redução de emissões de gases poluentes”, explicou Durigan.
Geógrafo e ambientalista, Carlos Durigan (Divulgação/WCS)
Conforme o especialista, os efeitos do El Niño, que atrasou o início da cheia no Amazonas, podem ser desastrosos. El Niño é o fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Em geral, o El Niño atinge seu pico no final do ano.
“Dessa forma, esses são os efeitos de um fenômeno El Niño extremo relacionado a este cenário que se associou a um aquecimento extremo e anormal do Oceano Atlântico, ambos registrados ano passado e que continuam gerando este cenário de menor quantidade de chuvas sobre a região amazônica. Tudo indica que estamos já numa fase preocupante de aquecimento global, que nos coloca sob o grande desafio de atuarmos mais rapidamente na redução de emissões de gases de efeito estufa, sob o risco iminente de ainda vivenciarmos cenários ainda piores do que vivenciamos em 2023, de aquecimento e seca extrema na região, neste e nos próximos anos”, afirmou.
De acordo com dados do 7° Boletim de Alerta Hidrológico da Bacia do Amazonas, divulgado neste mês de fevereiro pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), o Rio Solimões apresentou oscilações em determinadas partes, com a média diária de subida, nessa estação, monitorada em 9 centímetros por dia, com certa estabilidade em Fonte Boa e Itapeuá. Atualmente, o Solimões está com 984 centímetros (cm) na sua totalidade.
No mesmo boletim do SGB, o Rio Madeira registrou descidas e voltou a subir no meio do mês. Já em Humaitá, o mesmo rio apontou elevação acentuada no último fim de semana, mas voltou a apontar recessão nos últimos dias.
A pesquisadora em Geociências Jussara Cury explica que esse cenário é resultado da estiagem que no ano passado atingiu o Amazonas.
“A estiagem do ano passado afetou muito a região amazônica. Então, leva um tempo para recuperar os níveis dos rios monitorados, mas na região, a montante, como o Alto Solimões, já apresenta comportamento de enchente, com níveis dentro da faixa da normalidade. Assim, há uma tendência de recuperação“, disse Cury.
Pesquisadora em Geociências Jussara Cury (Divulgação/Prefeitura de Manaus)
Jussara acrescenta que o aumento dos níveis também depende da consolidação do período chuvoso na região de cabeceira e de chuvas distribuídas ao longo da bacia, que no momento continua abaixo da média.
Questionada se há algum estado da Região Norte que merece atenção, a pesquisadora citou dois nomes.
“Quanto ao processo de vazante, o Rio Branco, em Roraima, merece certa atenção, pois os níveis mínimos dessa vazante devem ocorrer em fevereiro. Por exemplo, o Rio Branco, em Boa Vista, apresenta níveis considerados baixos para o período desde novembro. Em relação à cheia, o Rio Acre apresentou subidas acentuadas nesta semana em Rio Branco e está com a cota de 11,30 metros (m), sendo que a cota de atenção é de 12,50m“, concluiu.
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