TikTok é acusado de negligenciar denúncias de assédio sexual

O TikTok disse que qualquer tipo de assédio no local de trabalho é inaceitável (Reprodução/ Internet)
Da Revista Cenarium*

LONDRES | FINANCIAL TIMES – O TikTok foi acusado de tratar erroneamente denúncias de má conduta e assédio sexual contra um diretor em Londres, salientando antigas preocupações sobre a cultura de trabalho na plataforma de rede social em rápido crescimento.

Steve Ware, ex-diretor de operações do estúdio de comércio eletrônico do TikTok no Reino Unido, fez comentários sexuais inadequados e propostas a jovens funcionárias e clientes, incluindo influenciadoras que criam conteúdo no aplicativo, segundo quatro mulheres que trabalharam com ele no TikTok.

Ware disse ao Financial Times que todas as alegações contra ele são falsas. Já o TikTok disse que qualquer tipo de assédio no local de trabalho é inaceitável e será enfrentado com a forma mais forte de ação disciplinar possível.

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As questões relacionadas a Ware se seguem a reclamações anteriores sobre falhas do TikTok em tratar queixas formais de RH contra funcionários graduados e preocupações sobre a cultura de trabalho no aplicativo de vídeos, que é propriedade da companhia chinesa ByteDance.

O Financial Times mostrou no ano passado que Joshua Ma, que comandava a equipe de comércio eletrônico europeu da TikTok, disse a funcionários em um jantar que “como capitalista” ele “não acreditava” em licença-maternidade. Ma deixou o cargo após a revelação, mas permanece na empresa.

Uma mulher, que aqui chamamos de Sarah para proteger sua identidade, descreveu uma série de encontros perturbadores com seu chefe, Ware, no final de 2021 e início de 2022. O FT examinou as mensagens entre Sarah e Ware, suas comunicações com o TikTok e com amigos que corroboram aspectos de sua história.

Sarah disse que o comportamento de Ware incluía propostas constantes no escritório e em eventos da empresa, mensagens enviadas fora do horário de trabalho e duas instâncias de toque físico inapropriado. Sarah disse que se sentia insegura e encurralada em salas sozinha com ele, que uma vez tentou beijá-la e em outra ocasião ameaçou “dar um tapa em sua bunda”.

No início de 2022, Sarah mencionou o caso ao diretor de Ware, Patrick Nommensen, que a colocou em suspensão remunerada imediata enquanto a empresa investigava a reclamação.

Nommensen pediu que Sarah só usasse os sistemas internos do TikTok para entrar em contato com ele ou com o diretor de ética da empresa sobre a investigação, conforme uma mensagem interna vista pelo Financial Times. Sarah disse que enviou cerca de 30 capturas de tela de comunicações e uma lista de cinco pessoas que poderiam comprovar seu relato na investigação.

Ware se demitiu do TikTok e deixou a empresa em setembro de 2022, antes da conclusão da investigação.

A investigação do TikTok confirmou a denúncia de que Ware havia feito comentários e enviado mensagens inapropriadas, descumprindo o código de conduta sobre assédio, segundo uma carta vista pelo Financial Times. No entanto, o TikTok acrescentou que descobriu que esses casos ocorreram antes de Sarah e Ware se envolverem em um “relacionamento romântico consensual”.

Sarah nega ter tido um relacionamento consensual com Ware e disse que ficou chocada e aborrecida com o resultado. O TikTok falhou em fornecer a ela qualquer evidência de tal relacionamento, acrescentou. Ware não respondeu a pedidos de comentários sobre o suposto relacionamento consensual com Sarah.

Após o resultado da investigação, o contrato de trabalho de Sarah foi rescindido com aviso prévio de um mês. “Eles perceberam que, como ele tinha saído, o caso deixou de refletir mal no TikTok”, afirmou ela. “Fiquei esperando por seis meses sem nenhum resultado… Eu não fui justiçada.”

“Eu tinha medo de perder o emprego se dissesse algo… e [foi o que aconteceu] no final”, acrescentou.

Investigação

O TikTok disse que Sarah foi contratada para consultoria com prazo fixo, que deveria expirar durante a investigação. Seu emprego foi prorrogado além dessa data e, quando a investigação foi concluída, o contrato foi encerrado, acrescentou a empresa.

“Assim que essa denúncia foi feita, iniciamos uma investigação minuciosa, inclusive entrevistando dez testemunhas diferentes para apurar os fatos. Estamos confiantes de que tomamos as medidas apropriadas em resposta”, disse o TikTok.

Outros entrevistados pelo Financial Times também reclamaram da má conduta de Ware. Duas dessas mulheres disseram que relataram suas experiências pessoais ao diretor de ética do TikTok durante a investigação.

Uma mulher empregada por uma empresa externa que trabalhava para o TikTok disse que Ware lhe pediu que praticasse sexo oral nele em um escritório e, em outro caso, disse que queria “rasgar sua roupa”.

Em outros incidentes, corroborados por duas mulheres, Ware discutiu atos sexuais com jovens funcionárias e, separadamente, perguntou sobre suas vidas sexuais.

As questões relacionadas a Ware surgem quando o TikTok expande rapidamente sua base de funcionários, procurando desafiar rivais de rede social como Facebook, Instagram e YouTube.

Ao todo, cinco ex-funcionárias disseram ao FT que sofreram ou testemunharam pessoalmente assédio sexual na organização, em escritórios no Reino Unido e na Europa. O Reino Unido e a Europa são considerados os maiores mercados do TikTok depois dos Estados Unidos, respondendo por mais de US$ 800 milhões de sua receita em 2021.

Uma dessas pessoas disse que apresentou uma reclamação sobre o gerente de um centro de moderação de conteúdo que tirou a camiseta duas vezes em reuniões da empresa e ficou sem camisa. Essa pessoa acrescentou que o mesmo gerente sugeriu que as roupas femininas eram muito reveladoras e fez comentários sobre a vida sexual de suas subordinadas.

A funcionária disse que uma investigação nunca foi concluída, pois ela e uma executiva de RH que lidava com o problema saíram logo após a reclamação. O gerente continua empregado pelo TikTok em uma função diferente. O TikTok disse que verificou que o gerente tirou a camiseta em uma ocasião e agora abriu uma investigação interna sobre o assunto depois que o Financial Times levantou a questão.

Duas ex-funcionárias também disseram que regularmente eram solicitadas a dividir apartamentos com o sexo oposto enquanto viajavam a trabalho, o que elas acreditavam perpetuar uma cultura de comunicação sexual indesejada.

“Assédio de qualquer tipo em nosso local de trabalho é completamente inaceitável e será enfrentado com a forma mais forte de ação disciplinar possível”, disse o TikTok. “Estamos totalmente confiantes no rigor de nosso processo para revelar, investigar e tomar providências sobre toda e qualquer reclamação dessa natureza.”

(*) Com informações da Folhapress
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