Um a cada seis filhotes de peixe-boi que chegam ao Inpa são do Baixo Amazonas


23 de junho de 2024
Um a cada seis filhotes de peixe-boi que chegam ao Inpa são do Baixo Amazonas
Profissional do Inpa alimenta filhote de peixe-boi da Amazônia após resgate no Amazonas (Divulgação)
Da Cenarium*

MANAUS (AM) – O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) informou que cerca de 65% de filhotes de peixe-boi da Amazônia que chegam na instituição são de resgates ocorridos em municípios do Baixo Amazonas. Na terça-feira, 18, um animal da espécie regatado em Silves, distante 204 quilômetros de Manaus, chegou ao Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA-Inpa/MCTI). Com o resgate, chega a 52 o número de filhotes recebidos no período entre 2020 e junho de 2024.

De acordo com o veterinário da Prevet, empresa que presta assistência veterinária ao Inpa, Anselmo d´Affonseca, o número acende a luz de alerta para que a fiscalização nesses municípios seja intensificada, já que a cultura do comércio e consumo da carne de peixe-boi ainda é uma realidade no interior do Amazonas. O peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é considerado vulnerável (corre alto risco de extinção na natureza), na lista de espécies ameaçadas de extinção e está protegido por lei desde 1967 pela Lei de Proteção à Fauna nº. 5.197/67.

No início de junho, o Inpa recebeu um filhote de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), na região do Baixo Amazonas, ao que tudo indica o animal é mais um órfão, vítima da caça ilegal. Uma semana após seu resgate (11), uma ação de fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente de Parintins apreendeu, em uma feira livre da cidade, 12kg de carne de peixe-boi, um sinal preocupante de abate da espécie para o comércio ilegal de carne de caça.

Filhote de peixe-boi em tanque do Inpa, em Manaus (Divulgação)

“Isso é algo que precisa ser levantado e fiscalizado. Penso que o trabalho de reabilitação, educação ambiental, conscientização, deva estar acompanhado de ações de fiscalização. Nós sabemos que o hábito de consumo e o comércio de carne de caça é uma realidade na Amazônia. A falta de fiscalização acaba estimulando as pessoas a matar essa espécie para a venda da sua carne”, destaca o veterinário.

Trabalho de reintrodução

O Inpa é referência em pesquisa e conservação do peixe-boi da Amazônia com reabilitação e readaptação para reintrodução desse mamífero aquático na natureza. Hoje, o Instituto tem 57 indivíduos nos tanques em Manaus, entre filhotes, jovens e adultos, e 23 animais em preparação para soltura, com previsão ainda para 2024.

Em parceria com a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), o Inpa já reintroduziu 42 animais na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus. A última soltura foi em 2019. O Projeto recebe o apoio do SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund.Trabalho de reintrodução do peixe-boi na RDS Piagaçu-Purus. Foto: AmpaAinda de acordo com o veterinário, o trabalho do Inpa é muito importante para a conservação da espécie. O animal se alimenta de leite materno até os dois anos e sem a mãe ele não sobrevive sozinho na natureza. “Receber esses filhotes significa, muito provavelmente, a única esperança de sobrevivência deles”, ressalta.

Segundo d’Affonseca, nos últimos anos, houve um aumento considerável de resgate de filhotes. Em 2018, o Inpa recebeu cinco filhotes, chegando a 16 em 2023 e oito em 2024. “Nos preocupa também porque sempre tem tido o relato de que o filhote teria sido encontrado na malhadeira. Então, começamos a suspeitar que esses relatos podem ser falsos, e na verdade as pessoas podem estar encobrindo um crime de caça e venda ilegal do peixe-boi”, comenta.

A seca e o aumento da caça

Durante a seca dos rios, que é um fenômeno natural na Amazônia, os peixes-bois migram dos lagos para os rios mais profundos, tornando os animais mais vulneráveis, pois podem ser avistados pelos caçadores nos pontos de passagem entre os lagos e os rios. Mesmo que consigam chegar aos rios, estão mais indefesos, já que nessa época de seca os rios estão bem mais rasos e com sua área reduzida.

Além disso, a seca extrema agrava muito mais a situação, tanto pela restrição dos animais em áreas muito menores e rasas quanto pela dificuldade para a fiscalização devido à falta de acesso a algumas áreas afetadas, o que torna difícil os órgãos de fiscalização agirem com base em denúncias.

Leia mais: Projeto do Inpa que recebe peixes-boi precisa de recursos para soltura e reforma dos tanques
(*) Com informações da assessoria

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