Venezuelanos são resgatados por trabalho análogo à escravidão em instituição religiosa
Por: Winicyus Gonçalves
19 de dezembro de 2023
Winicyus Gonçalves – Da Revista Cenarium Amazônia
BOA VISTA (RR) – Durante uma ação da Polícia Federal (PF), realizada nesta terça-feira, 19, 33 migrantes venezuelanos foram resgatados em condições de trabalho análogas à escravidão. A operação foi realizada em parceria com a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), em um abrigo mantido por uma instituição religiosa em Pacaraima, Roraima, cidade na fronteira com a Venezuela, a cerca de 213 quilômetros da capital Boa Vista.
Durante a operação, foi constatada a exploração dos venezuelanos recém-chegados ao País. Eles pagavam uma taxa mensal de R$ 100 para se hospedar e tinham a saída restrita, sendo ainda obrigados a trabalhar em troca de abrigo. Além disso, segundo as denúncias, eles eram proibidos de exercer atividades em outros lugares, tinham seus documentos retidos e eram ameaçados.

Como resultado da operação, uma pessoa foi detida em flagrante por posse ilegal de arma. Os donos do estabelecimento não estavam presentes durante a ação policial.
Resgates
A ação foi realizada menos de duas semanas após um idoso da etnia Wapichana, de 73 anos, ter sido resgatado vivendo em condições análogas à escravidão em uma fazenda na região da Serra da Lua, em Bonfim (município a 126 quilômetros de Boa Vista), na fronteira com a Guiana.
À Polícia Militar de Roraima (PMRR), o idoso contou que vivia há 30 anos recebendo R$ 400 e uma cesta básica. Os agentes da PMRR chegaram ao local por meio de uma denúncia anônima e encontraram a vítima, que vivia sozinha em uma casa, em situação precária. Na varanda da residência, havia carnes com moscas penduradas nos varais.

Trabalhadores
Em 2023, Roraima teve 69 trabalhadores em condições análogas à escravidão resgatados por fiscais da inspeção do trabalho. Em março, trabalhadores foram resgatados em uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sendo seis em uma atividade de desmatamento em Caracaraí, Roraima, e 29 em uma fazenda situada em Amajari, também no Estado. No caso de Caracaraí, situado a 140 quilômetros da capital Boa Vista, os seis trabalhadores foram encontrados na extração de madeira nativa, com uso de tratores e motosserras. Cinco deles trabalhavam, diretamente, no corte da madeira e um era cozinheiro.
Em todo o Brasil, 473 nomes de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão estão na lista suja do trabalho escravo divulgada em outubro. A atualização é a maior da história, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. As atividades econômicas dos empregadores brasileiros incluídos na lista são: produção de carvão vegetal (23), criação de bovinos para corte (22), serviços domésticos (19), cultivo de café (12) e extração e britamento de pedras (11).