Vilania de Lucas Penteado, bullying de Karol Conká: o que pensam negros de Manaus sobre as polêmicas do BBB21
03 de fevereiro de 2021
Carol Conká (esq.) e Lucas Penteado (dir.). choque de opiniões e posturas apostas. Negros no BBB21 mostram que seres humanos são diferentes, mesmo tendo a mesma cor (Reprodução/Internet)
Michele Portela – Da Revista Cenarium
MANAUS – O número de participantes negros do Big Brother Brasil (BBB21) começou a expor o óbvio. Assim como os demais participantes, os negros divergem entre si e não possuem a mesma história de vida. Cada um com a sua personalidade, brigas entre pretos eram previsíveis. As contendas são uma das atrações do jogo, inclusive. Por isso, desde o primeiro dia da atração, o debate sobre ‘racismo’ e bullying entre negros está dominando as rodas de conversa em todo o país.
Ex-candidata pela bancada coletiva, acumulando uma década como produtora cultural em Manaus, feminista e defensora dos direitos humanos, Michelle Andrews aponta um dos fatores do estresse da edição. “A gente tá vendo o que é fazer um BBB no meio de uma pandemia. Essas pessoas passaram o último ano todo vivenciando a crise sanitária em diferentes níveis e, neste momento, as provocações ganham enormes proporções”, explica.
A ativista Michelle Andrews entende que o momento de pandemia eleva ainda mais os acirramentos dentro do confinamento do BBB21 (Reprodução/Divulgação)
O professor da Universidade Federal do Amazonas e cientista social, Luiz Antonio Nascimento, concorda plenamente. “Em meio a uma pandemia, mais de 2,2 milhões de pessoas mortas no mundo, com o Brasil chegando aos 230 mil mortos, realizar um BBB é perverso, imoral e vergonhoso”, define.
Um jovem ativista
Mas a edição entrou no ar e a coisa avançou colocando Lucas Penteado, um jovem paulistano, ativista e músico, como protagonista da edição, provocando a reação dos demais participantes. Na primeira festa, assediou a participante Kerline e tentou emplacar a narrativa que seria vítima, tentou convencer os participantes negros a votar apenas em brancos até que restassem apenas os negros na edição.
A negritude não gostou e reagiu falando de consciência e respeito, o que trouxe certa exclusão para Lucas, que passou a ser alvo de críticas, isolamento e bullying, especialmente, de outros participantes negros, como Carol Conká. “Começaram o debate sobre a política de cancelamento porque são pessoas que ganharam popularidade nas redes sociais, que é um espaço muito importante para eles”, explica Michelle.
“São pessoas engajadas politicamente, mas é preciso dizer, o BBB não é lugar para militância, embora seja um lugar pra você se apresentar, pra você mostrar a sua verdade”, analisa a ativista. “Sobrevivemos neste planeta em pandemia com situação política aterrorizadora com interesses de grupos políticos nítidos, então, é natural que os gatilhos estejam lá”, diz.
Para o sociólogo Luiz Antônio, cismas entre os negros dentro do BBB21 só fortalece os racistas (Reprodução/Facebook)
Luta identitária
Luiz Antônio traz à tona a questão que toca na expectativa de unidade de Lucas Penteado. “A questão da negritude tem séculos e lutas e há mais de 50 anos tem se lutado por uma construção identitária positiva, inclusiva, eticamente responsável, feminista e anti-homofóbica. Uma luta democrática. O debate de ideias, respeitoso, ainda que duro, é fundamental para a construção de sociedade e coletivos fortes o bastante para enfrentar o racismo e os racistas. Abrir frentes de batalha no interior da negrada só fortalece os racistas”, ponderou.
Cultura nascida nas militâncias digitais, o ‘cancelamento’ ronda os participantes do reality. “Não acredito que os seres humanos serão cancelados, mas certas atitudes”, observa Michelle. “A cultura do cancelamento é o que se tem de mais próximo do fascismo. Cancelar é eliminar o outro pelo que ele é diferente de mim. Cancelar é negar que o outro, sendo diferente de mim, exista. É violento, é asqueroso, é perverso”, alerta Luiz Antônio.
Depoimento
Marice Rocha, jornalista e analista de redes sociais
A analista Marice Rocha avalia que erros acontecem, mas, quando partem de negros, a tolerância é menor (Reprodução/Divulgação)
Essa edição começou com “cancelando o cancelamento”. Isso aconteceu quando só grupos se encontraram e tiveram uma roda de conversa. O cancelamento não veio do nada, a experiência da edição anterior fez com que muitos tivessem o medo do cancelamento por alguma atitude.
Esse é um ponto. O outro ponto é que, nesta edição, temos um maior número de negros. Lucas deve ter visto uma oportunidade de reunir todos para tirar o restante um por um. Dois erros: querer jogar muito cedo sem analisar o cenário e ter sido muito incisivo. Pegou mal, porque as pessoas se sentiram coagidas. A abordagem foi errada e ainda tinha o efeito álcool.
Se alguém tivesse comprado a ideia, talvez não tivesse dado esse reboliço todo. Só que com exclusão do Lucas do convívio coletivo, ele alçou o posto de mártir. E mesmo ele reconhecendo que errou, todo dia lembram ele sobre esse erro. Ao meu ver, o debate racial não tá em querer reunir os negros, mas está no fato que as retaliações são maiores quando o negro erra. Fica parecendo que tudo que ele fez antes ou depois invalida.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.