Violência contra jornalistas piora na Região Norte, aponta Fenaj
Por: Ana Cláudia Leocádio
21 de maio de 2025
BRASÍLIA (DF) – A violência contra jornalistas teve piora na Região Norte em 2024, em comparação a 2023, aponta o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, divulgado no último dia 20, pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), na Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados. O documento analisa o cenário de agressões, intimidações e censura contra os profissionais da imprensa no ano de 2024.
Em todo o País, no ano passado, foram 144 casos de violência contra os profissionais da notícia, uma agressão a cada dois dias e meio. Foi o menor número registrado em seis anos, segundo a Fenaj, sem morte registrada. Em 2023, foram 181 ocorrências. “Virou comum atacar jornalista”, afirmou Samira Castro, presidente da Fenaj, durante a audiência na Câmara.

A agressão física lidera o número de ocorrências (30), alcançando 20,83% do total. Em seguida está o assédio judicial, que consiste no abuso de mecanismos jurídicos com a intenção de coibir ou intimidar o trabalho jornalístico, com 23 registros, ou 15,97%. Em terceiro, vem a ameaça ou ataque verbal presencial (15), o que corresponde a 10,42% dos casos.
Conforme o relatório, em 2023, o Norte ocupava o posto de região menos violenta, com 19 casos. Em 2024, esse número subiu para 22, o que corresponde a 15,28% dos casos do País, à frente da região Centro-Oeste, com 17.
O Amazonas lidera o registro de violência contra jornalistas, com 8 casos, seguido do Pará, que teve seis. Em terceiro vem Tocantins (3) e, depois, Acre e Rondônia (2 episódios cada) e Roraima, com apenas um. Não houve registro no Amapá, mas a Fenaj alerta que pode ter havido subnotificação.
Ainda que o Pará figure em segundo lugar, houve uma queda nos registros desde 2022, quando foram registradas 21 ocorrências, número que caiu para dez, em 2023, e ano passado chegou a seis. “Um dos fatores que podem ter contribuído para isso é o trabalho de denúncia do Sindicato do Estado e a maior visibilidade dos casos, mas ainda é necessário aguardar os próximos relatórios e estudos mais apurados para identificar as causas da redução da violência no Estado”, diz o relatório.

A Região Sudeste, que em 2023 já liderava o ranking, porque concentra também maior contingente populacional e de profissionais da imprensa, com 25,97% dos casos, em 2024 aumentou para 26,39%, com 38 ocorrências registradas. São Paulo concentra a maior parte das ocorrências, com 23 no total, dos quais 11 envolveram profissionais de pequenos veículos de imprensa fora da capital.
Segundo o relatório, o Nordeste aparece em segundo lugar, com 36 casos, o que representa 25% do total registrado. Em 2023, foram 45 ocorrências, com a Bahia liderando o ranking pelo terceiro ano consecutivo. As duas regiões respondem por mais de 51% dos episódios analisados no relatório.
Além do aumento na Região Norte, o Sul também subiu para 31 casos, contra 30 de 2023 (21,53%), com destaque para o Paraná, que concentrou 15 registros. “O número mais expressivo de diminuição ocorreu no Centro-Oeste, que passou de 40 casos em 2023 para 17 no ano seguinte (11,81%)”, aponta o documento.
De 2018 a 2024, o auge da violência ocorreu entre 2019 e 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro, que segundo a Fenaj tinha um discurso que estimulava ataques físicos e verbais a jornalistas, sobretudo quando contrariado.
“Embora os números de 2024 mostrem um recuo em relação ao recorde de violência durante o governo anterior, a queda deve ser observada com cautela, pois ainda existem tendências preocupantes em relação aos tipos de violência, principalmente a violência judicial e os ataques e os ataques direcionados a jornalistas mulheres”, reitera Samira Castro no relatório.
Os dados da Fenaj de 2024 mantêm a maioria dos ataques contra jornalistas do sexo masculino, mas ressalta que a diferença percentual diminuiu em relação aos anos anteriores. “Em 2023, 68,32% das vítimas eram do sexo masculino, 25,19% do sexo feminino, e em 6,49% não foi possível identificar o gênero. Em 2024, foram registradas 81 vítimas do sexo masculino, 47 do sexo feminino, e 26 casos configurados como ataques coletivos ou contra profissionais de maneira genérica em uma determinada mídia. Ao todo, foram computados 154 casos”, informa a Fenaj.

Políticos lideram agressões
O relatório também aponta quem são os agressores. “Para não fugir à regra, os políticos continuam disparados no ranking dos maiores agressores de jornalistas e à liberdade de imprensa”, informa. Em 2024, foram 48 episódios que envolveram agressões físicas e verbais, tentativas de intimidação, ofensas em atos públicos de campanha, tentativas de censura a matérias e assédio judicial, um dos itens que mais cresceu no último período.
“A esses 48 agressores políticos, que representaram 33,33% de todos os ataques, acrescente-se apoiadores diretos (cinco ocorrências), manifestantes de extrema direita (seis casos) e servidores públicos ou órgãos como Prefeitura e Governo de Estado (nove casos), que, em última análise, estão a serviço de interesses de políticos”, acrescenta o documento.
Depois, estão os “Populares”, pessoas que resolveram, por algum motivo, agredir jornalistas durante cobertura de rua, com ataques verbais ou físicos, com dez episódios. Policiais civis e militares também figuram como agressores, com nove registros, mesmo número de casos envolvendo dirigentes, atletas e torcedores de times de futebol.
Há, ainda, agressões por parte de empresários do ramo de comunicação (três casos), empresários e comerciantes em geral (sete episódios). Em quatro outros casos, “colegas” de profissão utilizaram os meios de comunicação para atacar outros jornalistas.
Casos no Amazonas
O relatório descreve todos os casos registrados. No Amazonas, traz as ameaças de morte sofrida pela diretora da REDE CENARIUM, jornalista Paula Litaiff, pela empresária Cileide Moussallem, dona do site CM7. As ameaças começaram após publicação de reportagem sobre suspeitas de irregularidades na empresa Provisa, de propriedade do marido de Moussallem, Janary Wanderley Gomes.
“Em suas redes sociais, Moussallem negou ter ameaçado Paula Litaiff, mas o site Imediato, de Manaus, divulgou um áudio afirmando se tratar de Moussallem ameaçando a vida de Litaiff. A jornalista também denunciou que seus filhos (na verdade, filhas) foram alvo de ameaças da mesma empresária, em grupos de WhatsApp. O Sindicato, a Abraji e diversas outras entidades se pronunciaram em defesa da integridade da jornalista e da liberdade de expressão, solicitando às autoridades investigação sobre o caso”, relata a Fenaj.
O documento também cita a agressão sofrida pela repórter Naíme Carvalho, da TV Amazonas (filiada da Rede Globo). Ela foi agredida com um soco na cabeça durante uma transmissão ao vivo do telejornal Bom Dia Amazonas. O agressor foi um homem, possivelmente em situação de rua, que se aproximou da repórter e desferiu dois socos em sua cabeça.
Leia relatório da Fenaj na íntegra: