Yanomamis lutam contra marco temporal em estátua que homenageia garimpo de Roraima
08 de setembro de 2021
No ato, indígenas promoveram a expulsão simbólica dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami (Reprodução)
Bruno Pacheco – Da Cenarium
MANAUS – Indígenas Yanomami se reuniram, nesta quarta-feira, 8, em frente à estátua que homenageia a exploração de minério, o Monumento ao Garimpeiro, em Boa Vista, capital de Roraima, para protestar contra o marco temporal, o garimpo ilegal na região e contra a tramitação de pautas no Congresso Nacional que buscam legalizar a atividade pelo País.
O ato ocorreu por volta das 9h da manhã, com a ocupação da praça e uma expulsão simbólica dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, com os participantes do protesto apontando flechas contra o monumento. A manifestação também contou com faixas e cartazes que incluíam frases como “fora PL 490” e “Nossa luta é pela vida! Fora garimpo, fora Xawara!”.
Em um vídeo divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é possível ver trechos da manifestação. Para a entidade, além de ter significado de proteção do território Yanomami contra o garimpo, mostra a resistência dos povos tradicionais em meio aos ataques sofridos por poderes constituídos.
“O ato tem significados de proteção do Território Yanomami contra o garimpo que avança, ameaça e mata. Também de forte mensagem aos poderes constituídos contrários aos direitos indígenas: Resistiremos! Não ao ‘marco temporal’! Territórios livres de garimpo”, escreveu o Cimi, em uma publicação no Facebook.
Indígenas durante ato, em Boa Vista, nesta quarta-feira, 8 (Luiz Ventura/Cimi Norte 1)
Homenagem
O Monumento ao Garimpeiro é considerado um patrimônio histórico de Roraima que foi inaugurado no final da década de 1960 no governo de Hélio da Costa Campos, sendo uma espécie de coroação ao que representavam os homens que trabalhavam na exploração de minério no século 20, em Boa Vista. No século passado, a atividade era legalizada na região e a extração de minério foi intensa no Estado, que chamou a fatura de ouro e metais preciosos como o “milagre amarelo”.
Monumento ao Garimpeiro foi inaugurado em 1969, em Boa Vista (Reprodução)
A estátua que reproduz um trabalhador de garimpo é uma construção de alumínio e oca por dentro que foi produzida em São Paulo e tem cerca de sete metros de altura, estando em cima de um espelho d’água retangular, de 7,5 metros de largura por 15,7 metros de comprimento. Uma rampa de 14 metros de altura dá acesso à parte frontal do monumento.
Genocídio
A Terra Indígena Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil, com quase 10 milhões de hectares, localizados entre os Estados de Roraima e Amazonas. Ao todo, são cerca de 27 mil indígenas, entre isolados e não-isolados, que vivem em 370 aldeias. A região vem sendo alvo de garimpo ilegal, o que tem intensificado conflitos entre os garimpeiros e lideranças.
Além disso, em toda a Amazônia Legal, Roraima é o Estado que detém o maior índice de homicídios de indígenas, segundo o levantamento do Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). Segundo o estudo, que comparou as taxas de homicídios entre a população em geral e os povos tradicionais, a cada 100 mil pessoas, 57 vítimas de assassinados pertencem a alguma etnia, enquanto 38,6 pessoas não indígenas foram mortas no Estado.
No ranking de Estados brasileiros com as maiores taxas de assassinatos de indígenas, Roraima ocupa a segunda posição. Segundo o indicador, a região perde apenas para o Rio Grande do Norte, que pontuou com média de 68,8.
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