Zelensky pede ‘punição justa’ por ‘guerra ilegal’ da Rússia contra a Ucrânia em discurso na ONU

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante discurso na ONU (Reprodução)
Com informações do Infoglobo

NOVA YORK – O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse na quarta-feira, 21, em seu discurso por vídeo na Assembleia Geral da ONU que a Rússia deve receber uma “punição justa” pelo que caracterizou como crimes contra seu País, pedindo que a ONU crie um tribunal especial para apurá-los. A fala do mandatário ucraniano veio horas após o presidente russo, Vladimir Putin, anunciar a “mobilização parcial” de reservistas e fazer uma ameaça de uso de armas atômicas no conflito que já dura sete meses.

Em um pronunciamento de cerca de 10 minutos, gravado em Kiev, Zelensky acusou a Rússia de provocar o que chamou de “guerra ilegal” e criticou países que se mantêm neutros no conflito. Ele pediu também mais ajuda militar para o Ocidente — o envio maciço de armas dos Estados Unidos e de seus aliados permitiu a bem-sucedida contraofensiva ucraniana, que recuperou milhares de quilômetros quadrados e deixa Putin acuado.

“A Ucrânia quer paz. A Europa quer paz. O mundo quer paz. E nós vemos quem é o único que quer guerra. Só há um membro da ONU que diria, neste momento, se pudesse interromper meu discurso, que está feliz com a guerra — completou, sem citar o nome de Putin. — Mas não vamos deixá-los prevalecer, mesmo que sejam o maior País do mundo.

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Aplaudido de pé, no fim de sua fala, o presidente ucraniano defendeu que a ONU crie o tribunal para investigar a ofensiva russa, afirmando que o Kremlin “deve pagar por esta guerra com seus recursos”. A Corte, disse ele, não deve ter o mesmo poder de veto do Conselho de Segurança, algo que vem bloqueando medidas mais contundentes contra Moscou.

“Enquanto o agressor for parte do processo de tomada de decisão nas organizações internacionais, ele deve ser isolado delas”, afirmou o presidente, que listou outras condições para o que disse ser a “fórmula ucraniana” para a paz, como a restauração da segurança e da integridade territorial de seu País.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, havia defendido, mais cedo, reformas no Conselho de Segurança, argumentando a favor do aumento das cadeiras permanentes e não permanentes. Atualmente, o grupo é composto por dez integrantes rotativos e cinco permanentes — Rússia, China, EUA, França e Reino Unido — com capacidade de bloquear as decisões coletivas.

Biden não questionou o poder de veto, dizendo apenas que a medida deve ser usada com parcimônia. Zelensky, por sua vez, foi além, na necessidade de mudanças:

“Se você observa nossa fórmula da paz, sua implementação já é uma reforma de fato da ONU. Nossa fórmula é universal e une o Norte e o Sul do mundo (…). Há um desequilíbrio quando a África, a América Latina, a maior parte da Ásia, a Europa Central e Oriental estão sujeitas ao direito a veto”. — A Rússia é um membro permanente do Conselho de Segurança. Por algum motivo, nem o Brasil, nem a China, nem a Turquia, nem a Índia, nem a Alemanha ou a Ucrânia são.

Segundo Zelensky, a enxurrada de sanções dos EUA e dos seus aliados contra a Rússia “fazem parte da fórmula da paz”. Para pedir mais armas aos aliados ocidentais, descreveu a cena na cidade de Izium, recém-recuperada, onde os ucranianos afirmam ter encontrado corpos em valas coletivas, e ressaltou a urgência frente à aproximação do inverno:

“A Rússia quer passar o inverno no território ocupado da Ucrânia e se preparar para uma nova ofensiva: novas Buchas, novas Iziums. Ou pelo menos quer preparar fortificações em terras ocupadas e realizar mobilização militar em casa”, disse ele.

Sob a perspectiva de negociações, ele disse que as demandas ucranianas são claras, mas que a retórica russa de estar disposta a conversas não condiz com suas ações:

“Vocês, provavelmente, ouviram coisas diferentes da Rússia sobre as conversas, como se estivessem prontos para elas (…). Eles falam em negociar, mas anunciam mobilizações militares. Eles falam sobre elas, mas anunciam pseudoreferendos.

Ele também citou, brevemente, as ameaças nucleares vindas de Moscou, mas não comentou em maiores detalhes o pronunciamento de Putin. Mais cedo, contudo, havia dito em uma entrevista à imprensa alemã que não acredita que a Rússia vá usar armas atômicas.

Exceção e críticas à neutralidade

Zelensky foi o único a falar por videoconferência na reunião deste ano, a primeira a ser realizada de forma exclusivamente presencial desde o início da pandemia. O presidente ucraniano, que não deixa seu País desde a invasão russa, ganhou o direito de discursar virtualmente após uma votação na semana passada, que a Rússia tentou sem sucesso barrar. Cento e um dos 193 países-membros endossaram a exceção. O Brasil se absteve, junto com outras 18 nações.

O presidente ucraniano agradeceu aos países que votaram para que pudesse discursar por vídeo e criticou os sete que foram contra: Cuba, Bielorússia, Eritreia, Coreia do Norte, Síria, Nicarágua e Rússia. Mais cedo, no entanto, havia feito uma crítica expressão às nações que optaram por um posicionamento de neutralidade diante da guerra:

“Aqueles que falam de neutralidade falam de algo diferente”, disse ele, sem nomear nações. “Fingem que protegem alguém mas, na verdade, protegem apenas seus próprios velados”, completou o presidente, que foi aplaudido pela primeira-dama, Olena Zelensky, que viajou a Nova York.

Países como a China, a Rússia e a Índia adotam uma posição de neutralidade diante do conflito, assim como o Brasil. O governo de Jair Bolsonaro não adotou sanções contra Moscou, mantendo sua posição de que só adota as medidas aprovadas pelo Conselho de Segurança, e evita condenar a invasão.

No entanto, o País votou a favor de duas resoluções da Assembleia Geral criticando a ofensiva russa, em março, e apoiou a iniciativa, no Conselho de Direitos Humanos, em maio, de investigar possíveis crimes de guerra nos arredores de Kiev. Em fevereiro, o Brasil apoiou uma resolução contra a guerra no Conselho de Segurança, mas o texto foi vetado pela Rússia. Nesta quinta-feira, o chanceler Carlos França se encontrou com seu par russo, Sergei Lavrov.

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