2 a 1: ministro acompanha relator e concorda com inelegibilidade de Bolsonaro

O ministro Floriano de Azevedo Marques. (Antonio Augusto/Secom/TSE)
Da Revista Cenarium*

BRASÍLIA – O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Floriano de Azevedo Marques seguiu o relator Benedito Gonçalves e votou pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) até 2030.

Agora, o placar é de 2 a 1 contra o ex-presidente, e faltam votar outros 4 integrantes do tribunal. A sessão ocorre neste momento.

Floriano é professor da USP e assumiu o cargo de ministro em maio, em uma mudança na composição da corte influenciada pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília antes de embarcar para o Rio de Janeiro em dia de julgamento no TSE – Gabriela Biló/Folhapress

A ação do PDT contra Bolsonaro foca a reunião no ano passado na qual o ex-presidente reafirmou mentiras sobre as urnas eletrônicas a embaixadores estrangeiros.

Para Floriano, o comportamento de Bolsonaro na reunião com os embaixadores já é suficiente para reconhecer o abuso de poder e o desvio de finalidade do então mandatário no encontro com representantes estrangeiros.

O magistrado disse que houve uma “quebra da liturgia presidencial” por parte do ex-presidente. “Analisando linha a linha me convenci que teve claro objetivo eleitoral, não no sentido apenas de questionar o sistema eleitoral sem provas ou consistentes evidências, mas de angariar proveitos eleitorais em desfavor de seus concorrentes”, afirmou.

Ele também aceitou a inclusão da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres e outros elementos nos autos do processo, mas disse que, “embora execráveis”, esses fatos não são necessários para a avaliar a controvérsia.

Floriano afirmou que, em respeito à jurisprudência firmada no caso do ex-deputado estadual Fernando Francischini, cassado por ter espalhado mentiras sobre as urnas, também é necessário tornar Bolsonaro inelegível.

Segundo ele, o tribunal dará uma “pirueta” caso não dê ao processo do ex-presidente o mesmo destino da ação sobre o ex-parlamentar paranaense. “Se um candidato a deputado estadual que fala as mesmas inverdades que presidente é censurado e tornado inelegível, e vamos combinar que potencial de candidato a deputado no Paraná é menor que de presidente, como a corte vai decidir que mesmo teor do discurso não é suficiente para sanção de inelegibilidade?”, disse.

“O que de mais grave pode existir que acusar, buscando repercussão internacional, três ministros da Suprema Corte de ser asseclas de criminosos e terroristas? O que pode ser mais grave que achincalhar perante representantes estrangeiros o regime democrático e dizer que um de seus pilares, as eleições livres, são forjadas e ardilosamente manipuladas?”, questionou Floriano.

Plenário do TSE no segundo dia de julgamento da ação que pode tornar Bolsonaro inelegível
Plenário do TSE no segundo dia de julgamento da ação que pode tornar Bolsonaro inelegível Pedro Ladeira-27.jun.23/Folhapress 

Antes dele, o ministro Raul Araújo havia votado contra a inelegibilidade do ex-presidente.

Em linhas gerais, Raul relevou o golpismo de Bolsonaro ao longo de seu mandato, tratando-o como algo de conhecimento de todos, buscando assim tirar peso da reunião com embaixadores de 2022 na qual o então presidente mentiu e proferiu ataques ao sistema eleitoral.

Raul vinha sendo pressionado por Bolsonaro a apresentar um pedido de vista (quando um ministro solicita mais tempo para analisar um caso), o que suspenderia o julgamento. Ele optou, porém, por dar prosseguimento à análise da ação.

Raul votou para que o TSE não leve em consideração no julgamento a minuta golpista encontrada na casa de Torres. Ele afirmou que o documento não tem relação com a ação apresentada pelo PDT, que requer a inelegibilidade de Bolsonaro por ter convocado uma reunião com embaixadores para desacreditar, sem provas, o sistema eleitoral.

Também integrante do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Raul é conhecido por adotar um viés mais tradicionalista em julgamentos e por sua proximidade com o campo político conservador.

Raul disse que votou inicialmente a favor da inclusão do documento nos autos para que fosse possível aprofundar a investigação se havia relação entre a minuta e o processo em curso. No entanto, agora, concluiu que “não há nexo” entre os casos.

“Inexiste qualquer elemento informativo capaz de sustentar, para além de ilações, a existência de relação entre a reunião e a minuta de decreto, a qual apócrifa e sem origem e sem data determinadas persiste de autoria desconhecida, a impedir qualquer juízo seguro de vinculação daquele achado com o pleito presidencial de 2022 e com os investigados”, disse.

“Sem prejuízo da opinião pessoal de cada indivíduo sobre a quem compete a responsabilidade política dos episódios, sob o viés jurídico não há nexo de casualidade entre os fatos.”

O ministro Raul Araújo durante sessão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) – Pedro Ladeira/Folhapress

O ministro iniciou o voto pregando a diferença entre a função do TSE de “governança” da realização das eleições e a atribuição de ser o juiz das controvérsias eleitorais. Segundo ele, no primeiro caso, a corte acertou ao ser incisiva no combate às fake news relativas às urnas eletrônicas.

Ao julgar o comportamento dos candidatos, porém, ele afirmou que o tribunal deve aplicar a autocontenção e o máximo respeito à soberania popular de escolher o candidato que preferir.

Segundo ele, Bolsonaro fez afirmações inverídicas no evento com embaixadores e teve excessos verbais, mas “nem todo o discurso [de Bolsonaro na ocasião] veicula afirmações inverídicas, estando igualmente presentes naquela manifestação trechos nos quais o investigado apenas expõe sua opinião política sobre temas abertos ao diálogo institucional público”.

“Em especial, a discussão sobre o chamado voto impresso, as críticas às instituições e ao então potencial concorrente ao cargo presidencial. Censuráveis, não por seu conteúdo, mas por configurarem propaganda eleitoral antecipada, portanto, irregular”, continuou.

O ministro afirmou ainda que as declarações de Bolsonaro não foram capazes de reduzir a presença de eleitores no pleito e, portanto, não afetaram a normalidade do pleito.

O julgamento no TSE teve início no último dia 22 e, após voto do relator na última terça, 27, a favor da inelegibilidade do ex-presidente, continua nesta quinta. Faltam os votos ainda de André Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques e Alexandre de Moraes.

A ação do PDT mira Bolsonaro e Walter Braga Netto, ex-ministro que foi candidato a vice na chapa derrotada do PL à Presidência em 2022. Benedito, Raul e Floriano se manifestaram, porém, contra a inelegibilidade de Braga Netto.

Na terça, o relator no TSE afirmou que não é possível fechar os olhos para discursos antidemocráticos com mentiras e discursos violentos, criticou a banalização do golpismo e destacou a epopeia de ataques do ex-presidente com uso da imagem das Forças Armadas.

Benedito defendeu que seu voto seja encaminhado ao Tribunal de Contas da União (TCU ) e para inquéritos criminais em curso no Supremo Tribunal Federal (STF ) para apurar se cabem investigações contra Bolsonaro pelas condutas em debate para além da Justiça Eleitoral.

Em encontro com embaixadores no Palácio da Alvorada, e, julho de 2022, Jair Bolsonaro (PL) tentou desacreditar o sistema eleitoral brasileiro; na ocasião, ele repetiu mentiras e teorias da conspiração, além de fazer ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral
Em encontro com embaixadores no Palácio da Alvorada, e, julho de 2022, Jair Bolsonaro (PL) tentou desacreditar o sistema eleitoral brasileir Clauber Caetano-18.jul.22/PR/AFP 

O advogado do ex-presidente, Tarcísio Vieira de Carvalho, já admite recorrer ao STF em caso de derrota no na corte eleitoral.

A ação contra Bolsonaro é uma ação de investigação judicial eleitoral (Aije), que pode ser apresentada até a data da diplomação do candidato.

Esse instrumento tem como objetivo apurar condutas que possam afetar a igualdade de disputa na eleição, como abuso de poder econômico, de autoridade ou uso indevido dos meios de comunicação social em benefício de um candidato.

Segundo a defesa de Bolsonaro, a ação movida pelo PDT é “impostora e eivada de falsidade ideológica” e não está em julgamento o movimento político representado pelo ex-mandatário.

(*) Com informações da Folhapress

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