41 anos de pandemia do HIV: desinformação e preconceito são os maiores adversários no combate à Aids

Mesmo com melhores condições de vida e acesso a tratamentos, a população que convive com o HIV ainda enfrenta o preconceito (Karime Xavier/Folhapress)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Considerada a pandemia mais letal do fim do século 20, o vírus HIV – sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana – foi detectado, em 1981, por médicos americanos e tratado como uma forma rara de pneumonia, a princípio. Com o avançar dos estudos ao longo de 41 anos, formas de tratamento e curas específicas foram desenvolvidas, porém, o preconceito e a falta de informação ainda são os maiores obstáculos.

A Aids (acquired immunodeficiency syndrome – em inglês), que pode ser desenvolvida após contrair HIV, é uma doença crônica que danifica o sistema imunológico e incapacita o organismo de se defender contra outras infecções, responsável pela morte de 650 mil pessoas apenas no ano de 2021.

O mês de dezembro foi escolhido pelo Ministério da Saúde para ser utilizado como mês de conscientização para o tratamento precoce da síndrome da imunodeficiência adquirida e de outras infecções sexualmente transmissíveis.

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As campanhas estabelecidas pela Lei nº 13.504/2017 fazem alusão ao Dia Mundial de Combate à Aids, que ocorre em 1º de dezembro. Além dos alertas de prevenção, o mês é marcado pela discussão acerca da assistência e da proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.

Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (Reprodução)

Os dados do Boletim Epidemiológico, do Ministério da Saúde, apontam para maiores detecções de Aids em Estados da região Norte, em 2021. Amazonas lidera o ranking com 39,7 casos a cada 100 mil habitantes, Roraima vem logo atrás, com 29,3 casos, Amapá, com 25,1 e Pará, com 24,3, aparecem nas primeiras colocações.

Já o Rio Grande do Sul, único Estado que não faz parte do Norte na lista, aparece em 5º lugar, também com 24,3. Dos Estados no topo do ranking, Pará (32,8%), Amazonas (26,8%) e Amapá (10,6%) registraram aumento nas taxas de detecção de Aids nos últimos dez anos.

Preconceito

Manaus, capital do Amazonas, aparece no topo, com a taxa de detecção maior do que todo o Estado, de 64,6 casos a cada 100 mil habitantes, em 2021. O número é quase quatro vezes a taxa do Brasil, de 16,5 a cada 100 mil habitantes.

Uma pesquisa do UNAIDS, programa das Nações Unidas de combate à Aids, mostra que mais de 50% das pessoas que vivem com HIV em Manaus sofreram preconceito por seu estado sorológico, em 2020.

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Pessoas que não são membros da família fazendo comentários discriminatórios ou fofocas foi a forma de preconceito mais experienciada pelos participantes da pesquisa, cerca de 55% deles relataram ter passado por essa situação.

Mesmo entre os familiares, a discriminação existe, conforme os entrevistados, 42,5% sofreram com comentários de membros da família, incluindo assédios verbais (23,9%), agressões físicas (5,6%) e até demissões por ser soropositivo para o HIV (22,6%).

Com melhores condições de vida e acesso a tratamentos, a população que convive com o HIV ainda carregam o estigma e o preconceito de ser portador do vírus (Karime Xavier/Folhapress)

Todo esse preconceito em volta de pessoas soropositivas acarreta numa péssima qualidade de vida e leva até o isolamento. A falta de informação torna as pessoas mais suscetíveis a desenvolver transtornos psicológicos.

Vanessa Campos, da Rede Nacional de pessoas vivendo com HIV e vivendo com Aids, acredita que a sociedade deve se movimentar para acolher as pessoas que vivem com a doença. “Que com esses dados possamos juntos buscar caminhos para combater de uma forma mais efetiva todo o estigma e a discriminação que vêm se perpetuando nesses 40 anos de Aids no Brasil”, diz.

Conforme o estudo, 35% dos participantes se isolaram da própria família ou amigos e optaram por não fazer sexo por serem soropositivos. Das pessoas entrevistadas, 20,9% decidiram não participar de eventos sociais; 22,1% disseram que pararam de se candidatar a vagas de emprego; 20,7% deixaram de procurar apoio social; e 18% decidiram não procurar atendimento de saúde.

O tratamento do HIV é baseado na supressão da carga viral, que torna o HIV indetectável e intransmissível, o que garante segurança na vida da pessoa que vive com HIV, bem como em seus parceiros sexuais.

Ação da Prefeitura de Tijucas trazia pessoas com cartaz “Tenho Aids, você pode me abraçar?’’ em pontos turísticos da cidade, em 2015 (Reprodução/Prefeitura)

De acordo com três estudos realizados entre 2007 e 2016, a não-transmissão sexual é alcançada quando uma pessoa vivendo com HIV alcança a carga viral indetectável ao longo de seis meses, então o vírus passa a não ser transmitido, pois há baixa quantidade de HIV no sangue da pessoa.

No mundo, 47% das pessoas que vivem com HIV tem carga viral indetectável. Esse estudo alerta para a importância de se manter o tratamento, pois os medicamentos são os responsáveis pela queda nos níveis de carga viral, que apesar de indetectáveis, devem continuar sendo monitorados regularmente.

Tratamento e prevenção

De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde, 92% das pessoas em tratamento no Brasil já atingiram o estágio de estarem indetectáveis. Esse número se deve ao acesso promovido pelas Secretarias e o Ministério da Saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além do tratamento, o SUS ainda garante estratégias e tecnologias mais avançadas para a prevenção da infecção pelo vírus, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP).

PrEP e PEP são usados na prevenção do HIV, sendo a PrEP para casos onde a pessoa não tem o vírus, mas corre alto risco de contraí-lo e a PEP é indicada para pessoas com suspeita de infecção, devendo ser administrada em até 72h para impedir que o retrovírus se espalhe pelo corpo.

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