Aeroportos no Brasil inauguram salas multissensoriais para pessoas autistas

Sala multissensorial do aeroporto de Florianópolis com iluminação especial - (Divulgação)
Da Revista Cenarium*

MANAUS – No corredor dos portões de embarque, entre um trânsito incessante de passageiros e malas, e anúncios de companhias aéreas sobre embarques iminentes e passageiros atrasados, entra-se por uma porta e a realidade muda radicalmente: estamos dentro de uma sala fechada, com iluminação azul e círculos coloridos projetados nas paredes; uma coluna de água e bolhas de ar iluminada num canto; almofadões no chão; um painel grande com atividades motoras e sensoriais; e uma música leve tocando no fundo.

A única lembrança de que você ainda está no aeroporto vem por três poltronas de avião instaladas num canto e um painel com informações sobre a partida dos voos em uma das paredes.

Trata-se da sala multissensorial do aeroporto de Florianópolis (SC), que visitei no mês passado com um dos meus filhos.

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A sala, em funcionamento desde fevereiro, faz parte do projeto de inclusão “Aeroporto para Todos” e foca no atendimento de passageiros autistas e com outras neurodiversidades.

Neuza Wagner, coordenadora de qualidade, inovação e excelência do aeroporto, explica que a sala pode ser adaptada a necessidades específicas do passageiro (a luz azul, por exemplo, pode ser desligada) e que não é preciso apresentar nenhum laudo para utilizá-la (basta se identificar nos balcões de check-in ou no balcão de informações, como eu mesma fiz). A sala fica dentro do embarque doméstico.

Numa sala fechada, com carpete, há almofadões no canto, uma coluna de água e bolhas de ar, um painel com informações do aeroporto e três poltronas de avião
Sala multissensorial no aeroporto de Florianópolis (Divulgação)

Junto com a sala de Florianópolis, a administradora do aeroporto abriu outra sala multissensorial no aeroporto de Vitória (ES). Até onde se tem notícia, eram as únicas do Brasil até o mês passado, quando a Infraero inaugurou espaços semelhantes nos aeroportos de Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).

A sala de Congonhas também trabalha a regulação emocional dos usuários, dessa vez com simulação de chuva, bolhas de sabão, fibras óticas sensoriais, piscina de bolinhas e a mesma coluna de bolhas que vimos em Florianópolis.

Gregston Marques Pereira, CEO da Neurobrinq, que montou a sala de São Paulo, conta que, no futuro, o espaço vai receber softwares para projeção de filmes sensoriais, que vão trabalhar ainda mais a regulação emocional e, também, a previsibilidade sobre a rotina do aeroporto e do avião (essa é a mesma função das poltronas de avião instaladas na sala de Florianópolis).

“A pessoa vai assistir uma historinha, etapa por etapa, de quais são os passos desde que ela sai da casa até colocar o cinto de segurança, de forma bem cadenciada.”

Pereira diz que, junto com a sala, foi feito um treinamento das equipes do aeroporto. “Não é algo decorativo, tem todo um cuidado com a criança, mas com a família também.”

A experiência de Florianópolis e Vitória também envolveu capacitação de profissionais que lidam com passageiros no aeroporto, não só em relação a neurodiversidades, mas também deficiências e necessidades de apoio emocional (como o uso de animais de apoio emocional).

É possível que a criação das salas multissensoriais seja uma experiência pioneira do Brasil. Wagner, do aeroporto de Florianópolis, diz que, durante a pesquisa para o projeto, não encontrou espaços semelhantes em outros aeroportos no mundo — apenas elementos sensoriais dispersos.

Em maio, foi apresentado um projeto de lei, na Câmara dos Deputados, que pretende incluir a criação de espaços ou salas multissensoriais para autistas como obrigatoriedade em contratos para novas concessões de aeroportos.

(*) Com informações da Folhapress

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