Apenas 26 países atualizaram metas de combate à mudança climática, afirma ONU

Fortes chuvas de monção inundaram áreas residenciais em Dera Allah Yar, no distrito de Jaffarabad, província do Baluchistão, Paquistão, em agosto (Fida Hussain/AFP)
Com informações do Infoglobo

NOVA YORK – Os países que assinaram o Acordo do Clima de Paris não estão cumprindo seus compromissos de combater as mudanças climáticas, levando o planeta a caminho de um futuro marcado por inundações mais intensas, incêndios florestais, secas, ondas de calor e extinção de espécies, de acordo com um relatório divulgado nesta quarta-feira, 26, pela ONU.

Às vésperas da nova cúpula da ONU sobre o clima, a COP27, que começa em 6 de novembro, em Sharm el-Sheikh, no Egito, apenas 26 dos 193 países atualizaram, neste ano, suas metas de redução da emissão de dióxido de carbono (CO2), conhecidas pela sigla em inglês NDC (contribuições nacionalmente determinadas).

O CO2 é o principal dos gases causadores do efeito estufa e, sem reduções drásticas nas emissões, a temperatura do planeta tende a aumentar em média entre 2,1°C a 2,9°C , em comparação com os níveis pré-industriais, até 2100. Isso é muito maior do que a meta de 1,5°C estabelecida pelo Acordo de Paris e ultrapassa o limite após o qual cientistas alertam para o aumento da probabilidade de eventos climáticos catastróficos.

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O Brasil apresentou uma meta atualizada em abril, formalizando a promessa feita na COP26 de reduzir as emissões de CO2 pela metade até o fim da década. A NDC apresentada pelo Governo Bolsonaro, porém, ainda mantém uma base de cálculo que permite ao País emitir mais dióxido de carbono do que prometeu no Acordo de Paris, assinado em 2015.

“Ainda não estamos nem perto do nível e do ritmo das reduções de emissões necessárias para nos pôr no caminho de um mundo de até 1,5°C”, afirmou Simon Stiell, secretário executivo da ONU para mudanças climáticas, em comunicado. “Pelo contrário, a soma dos compromissos dos 193 países que fazem parte do acordo pode colocar o mundo no caminho de um aquecimento de 2,5°C até o fim do século”.

No ano passado, durante a COP26, em Glasgow, os signatários do acordo se comprometeram a revisar anualmente — e não mais a cada a cinco anos — suas NDCs. Neste ano, porém, somente 26 o fizeram, um número “decepcionante”, destacou Stiell.

“Para manter vivo o objetivo (de 1,5°C), os governos devem reforçar os planos, agora, e colocá-los em prática nos próximos oito anos”, escreveu o secretário executivo no lançamento do documento que leva em conta as promessas de apenas 24 países. As outras duas nações, Micronésia e Guiné Equatorial, apresentaram suas metas após a data limite de 23 de setembro.

De acordo com especialistas da ONU, as emissões mundiais devem registrar queda de 45% até 2030, na comparação com os níveis de 2010, para que o objetivo seja alcançado. Porém, segundo as mais recentes NDCs, os compromissos atuais levarão a um aumento de 10,6% das emissões durante este período.

Com isso, dezenas de milhões de pessoas a mais, em todo o mundo, estariam expostas a ondas de calor alarmantes, escassez de alimentos e água e inundações, enquanto outros milhões de mamíferos, insetos, pássaros e plantas desapareceriam.

Guerra atrasa metas

Em 2021, reconhecendo a urgência da crise climática, as nações concordaram na conferência realizada em Glasgow, na Escócia, em não esperar mais cinco anos e, em vez disso, comprometeram-se a assumir novos compromissos antes das negociações no Egito.

Mas a guerra na Europa, uma crise energética internacional, a inflação global e a turbulência política em países como o Reino Unido e o Brasil complicaram os esforços de cooperação para combater as mudanças climáticas.

Na segunda-feira, a União Europeia disse que aumentaria suas promessas de redução de emissões “o mais rapidamente possível”, mas reiterou que não poderia pô-las em prática até que seus países-membros concordassem com uma série de leis climáticas.

“Esse atraso é extremamente decepcionante, disse Niklas Höhne, fundador do NewClimate Institute em Colônia, Alemanha”. Este ano, vimos pouco da ação climática que os governos prometeram em Glasgow, em meio a uma enxurrada de novas pesquisas nos dizendo que temos que agir mais rápido e que limitar o aquecimento a 1,5°C ainda é totalmente possível. Precisamos que os governos estabeleçam metas fortes que reduzam as emissões e descarbonizem suas economias.

China e EUA

A China, hoje, o maior emissor mundial de gases de efeito estufa, disse na COP26 que suas emissões de CO2 continuarão a crescer até atingir o pico em 2030, quando passariam a ser reduzidas. Mas não estabeleceu metas para reduzir outros gases de efeito estufa, como o metano, que emite em quantidades grandes o suficiente para igualar as emissões totais de nações menores.

No ano passado, a China disse que deixaria de construir usinas a carvão no exterior. Até agosto, 26 de 104 projetos desse tipo foram engavetados, impedindo que 85 milhões de toneladas de dióxido de carbono fossem adicionadas à atmosfera a cada ano, segundo o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo.

Uma análise do World Resource Institute descobriu que as promessas atuais das nações reduziriam as emissões globais de gases de efeito estufa em cerca de 7% em relação aos níveis de 2019, embora seja necessário seis vezes isso, uma redução de 43%, para limitar o aquecimento global a 1,5°C .

“Das principais economias, vimos alguns países atualizarem suas metas este ano. A Índia apenas formalizou seus compromissos; a Austrália fez o mesmo no novo governo”, disse Taryn Fransen, do World Resources Institute”. Cada um desses países falhou em atualizar suas NDCs até agora.

Os Estados Unidos, maior emissor histórico de gases-estufa, aumentaram sua capacidade de cumprir sua promessa de reduzir as emissões entre 50% e 52%, até o final desta década, quando comparadas aos níveis de 2005, ao aprovar a chamada Lei de Redução da Inflação, que contém centenas de bilhões de dólares em subsídios para tecnologias mais limpas.

Mas, mesmo com a lei, os Estados Unidos cumprirão apenas cerca de 80% de sua promessa atual de reduzir as emissões, de acordo com Fransen. Para Höhne, a nova lei americana foi o movimento mais forte feito por um grande emissor, em 2022, mas estava “30 anos atrasado”.

A divulgação do relatório da ONU provocou queixas entre os países em desenvolvimento que foram rápidos em apontar que, das poucas nações que fortaleceram suas promessas este ano, a maioria não é um grande poluidor.

“O último relatório da ONU mostra mais uma vez que os maiores responsáveis ​​pela crise climática continuam relutantes em assumir suas responsabilidades”, disse Mo Ibrahim, um filantropo sudanês-britânico que convocou líderes africanos para discutir a crise climática antes do encontro no Egito. — A menos que sejam tomadas medidas urgentes para responsabilizar os países mais ricos, o mundo em desenvolvimento continuará a pagar a conta, ao custo de inúmeras vidas.

Na terça-feira, John Kerry, enviado climático do presidente Joe Biden, pediu à China, Rússia, Arábia Saudita e México que alinhem suas políticas climáticas, com o objetivo de restringir o aquecimento global a 1,5 graus.

“Todos nós sabemos que as 20 maiores economias são responsáveis ​​por 80% das emissões”, disse Kerry durante um discurso no Conselho de Relações Exteriores”. Suas promessas devem ser reforçadas este ano. Foi isso que as pessoas concordaram em fazer.

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