Apib declara apoio a Lula no 2° turno das eleições presidenciais; ‘precisamos interromper processo de destruição’

Lula fala com lideranças indígenas (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Articulação dos Povos Indígenas (Apib) divulgou nesta quinta-feira, 13, uma carta aberta em apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais 2022. O posicionamento foi anunciado durante coletiva de imprensa realizada na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, em Brasília. O evento contou com a participação das duas deputadas federais indígenas eleitas para a Câmara no 1° turno, Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Sônia Guajajara (PSOL-SP).

A carta traz em oito pontos uma análise de conjuntura de violações contra os direitos humanos, cometidos pelo atual governo ao longo dos últimos quatro anos. Entre elas estão: a paralisação da demarcação de terras indígenas; omissão e morosidade no atendimento às comunidades, principalmente, no período da pandemia de Covid-19; desmonte de instituições e políticas públicas específicas e diferenciadas garantidas na Constituição Federal de 1988; violação do direito de consulta livre, prévia e informada assegurada aos povos originários pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT); e propositura de leis anti-indígenas, em consonância com o Congresso Nacional. 

O evento reuniu representantes de várias etnias, membros da coordenação executiva da Apib, além das candidatas eleitas pela Bancada Indígena, Célia Xakriabá (MG) e Sônia Guajajara (SP) e de mulheres integrantes da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). 

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“As candidaturas indígenas que fizeram parte da Bancada Indígena da Apib tiveram mais de 446 mil votos nas urnas. Demonstramos a força da mobilização coletiva para ocupação das Casas Legislativas estadual e federal, encabeçando, principalmente, a questão da identidade territorial por meio da retomada da demarcação de territórios, principal luta do movimento indígena”, diz trecho do documento. 

O evento reuniu representantes de várias etnias, membros da Apib, além de políticos (Divulgação/@kaititopramrefoto)

A deputada Sônia Guajajara (PSOL-SP) lembrou que os povos indígenas sempre estiveram na luta pela cobrança de seus direitos, em todos os governos, e que este fato nunca significou ignorar lacunas deixadas em gestões anteriores. 

“O voto no presidente Lula é para podemos ter o direito de continuar brigando por nossas pautas. Sempre fomos recebidos. Enquanto nossas pautas não forem atendidas e nossos povos estiverem em segurança nos territórios, a gente não vai deixar de exigir ou cobrar essa responsabilização do Estado brasileiro. A política e o projeto de genocídio deste governo não têm comparação a nenhum outro momento histórico do Brasil. Não podemos adiar o processo de retomada da democracia”, afirmou Guajajara.

A carta finaliza que é imprescindível que os povos, organizações e lideranças indígenas de todas as regiões do País se empenhem totalmente na Campanha Lula Presidente pelo Brasil da Esperança. Não podemos nos intimidar. O direito de manifestação e o livre exercício do voto é garantido pela Constituição Federal. A Apib afirma que é necessário o envolvimento em panfletagens, bandeiraços e diálogos com as nossas bases, sem violência.

“Vamos sensibilizar a quem não votou no 1° turno – a quem se absteve –, ou a quem votou nulo ou em branco. Enfim, vamos nos mobilizar para que ao se eleger o presidente Lula, possamos continuar a nossa luta de forma autônoma, em defesa dos nossos direitos, resgatando as nossas conquistas arrancadas com muita luta em governo anteriores. Vamos construir um novo horizonte, de respeito total aos nossos direitos fundamentais, à nossa vida e dignidade, no marco de uma nova relação com o Estado brasileiro, multiétnico e cultural, que ainda tem muitas dívidas a pagar pelo histórico de violência e morte, física e cultural, que por séculos vitimou os nossos povos e comunidades”, finalizou.

ATL 2022

Há 28 anos, em 1994, as organizações dos povos indígenas do Brasil pautavam a democracia junto ao presidente Lula. Na ocasião, a liderança Fausto Mandulão, de Roraima, fez a entrega de um manifesto, solicitando a proteção dos direitos constitucionais à terra, à saúde, à educação e à representatividade dos povos nas instâncias do governo. 

Em abril deste ano, a Apib divulgou carta compromisso endereçada ao então pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva, durante a 18° edição do Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização nacional indígena que reuniu mais de 8 mil parentes de 200 povos diferentes. 

“Neste momento, somos um movimento unificado. Viemos romper com o racismo da ofensa, retomar o Brasil que foi arrancado de nós; Nunca existiu Brasil sem a nossa presença. Nossa candidatura trouxe uma reflexão diferente: vimos pessoas que votavam em mulheres e em outros candidatos presidenciais. Agora, não existem duas pautas, não se trata de partido, mas de plano de vida ou plano da morte”, afirmou a deputada eleita pela Bancada Indígena, Célia Xakriabá (PSOL-MG). 

Na ocasião, o movimento indígena anunciou os cinco eixos de ação necessários para assegurar a defesa dos direitos fundamentais dos povos indígenas no Brasil: Direitos territoriais indígenas: demarcação e proteção aos territórios indígenas (Eixo 1); Retomada dos espaços de participação e controle social indígenas (Eixo 2); Reconstrução de políticas e instituições indígenas (Eixo 3); Interrupção da agenda anti-indígena no Congresso federal (Eixo 4) e Agenda ambiental (Eixo 5). 

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