Após denúncia da CENARIUM, Polícia Civil vai investigar morte de idosa por nebulização com cloroquina no AM


26 de abril de 2021
Após denúncia da CENARIUM, Polícia Civil vai investigar morte de idosa por nebulização com cloroquina no AM
Documentos obtidos pela Revista Cenarium mostram a prescrição médica da paciente (Divulgação)

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um inquérito policial foi aberto para investigar a morte de uma idosa de 71 anos após receber tratamento experimental de nebulização com hidroxicloroquina no município de Itacoatiara (a 270 quilômetros de Manaus), segundo a Polícia Civil do Amazonas. À REVISTA CENARIUM, familiares e amigos da idosa alegaram nesta segunda-feira, 26, que o medicamento, considerado ineficaz contra o novo coronavírus pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi usado sem a permissão deles.

A idosa, que não terá o nome informado a pedidos dos familiares, faleceu no dia 13 de março, mas o Boletim de Ocorrência só foi registrado na última sexta-feira, 23. Segundo o delegado titular da Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Itacoatiara, Lázaro Ramos, o prontuário médico da idosa já foi solicitado ao Hospital José Mendes, no município, para checar as informações. Após ouvir o depoimento da filha da idosa, o próximo passo será ouvir os profissionais de saúde que estiveram à frente do caso em Itacoatiara, segundo o delegado.

A idosa foi internada devido a complicações da Covid-19. Documentos obtidos pela CENARIUM na sexta-feira mostram a prescrição médica assinada pela médica Soraia Souza, do Hospital Regional José Mendes. O tratamento com hidroxicloroquina foi realizado enquanto a idosa estava internada em Itacoatiara. Segundo familiares, o quadro de saúde dela piorou após o tratamento ineficaz.

Prescrição médica mostra tratamento com nebulização de hidroxicloquina, duas vezes ao dia, com o aparelho de respiração Bibap (Arquivo Pessoal/Reprodução)

“Ela recebeu tratamento de inalação com hidroxicloroquina, sem o nosso consentimento e isso pode ter agravado o caso dela”, contou um dos familiares em entrevista por telefonema à reportagem. A família disse ainda que só relacionou a morte da idosa à nebulização depois de ver reportagens sobre o tratamento repercutirem nacionalmente e constatarem que ele foi realizado após verificação na cópia do prontuário médico da paciente.

Entenda o caso

A idosa foi internada no Hospital Regional José Mendes, em Itacoatiara, no início de fevereiro deste ano, no dia 6, e foi transferida em 10 de março para o Hospital Delphina Aziz, em Manaus. Três dias depois de internada, a paciente veio a óbito.

“A nebulização é contraindicada. Já teve dois casos no Amazonas que foram associados a óbito do paciente. Não existe evidência científica nenhuma do uso de hidroxicloroquina na forma de nebulização”, explicou o médico e infectologista Nelson Barbosa, em Manaus.

A vereadora do município de Itacoatiara, Andreia Mara (Avante), disse que acompanhou a família, quando a idosa foi internada no José Mendes. A causa da morte, segundo a certidão de óbito da idosa, foi por insuficiência respiratória associada às complicações da Covid-19.

REVISTA CENARIUM teve acesso exclusivo ao Boletim de Ocorrência (Arquivo Pessoal/Reprodução)

“Eu havia pedido para a filha solicitar transferência da idosa para Manaus. Ela alega que os médicos não quiseram. Tentou, tentou e no dia 10 conseguiu a transferência. A filha via a mãe toda roxa, me mandava vídeo e ficava apavorada”, disse a vereadora.

Outros casos

Em Manaus, uma mulher com Covid-19 também morreu após receber tratamento experimental com nebulização de hidroxicloroquina em meados de fevereiro, dias após passar por um parto de emergência, e morreu no dia 2 de março, conforme reportagem publicada na semana passada pelo jornal Folha de S. Paulo.

A médica Michelle Chechter, que submeteu a paciente ao medicamento, foi afastada do cargo pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), que também determinou abertura de sindicância contra a profissional. O caso foi divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo.

Ainda segundo a Polícia Civil, as investigações a respeito da morte de Jucicleia de Souza Lira, que tinha 33 anos, iniciaram na quarta-feira, 14, após a instituição tomar conhecimento do fato, por meio do Comitê de Enfrentamento à Violência Obstétrica do Amazonas e a ONG Humaniza. De acordo com a delegada Deborah Souza, titular do 15º DIP, segundo relatos do B.O registrado no dia 15 de abril, na ocasião do óbito, a mulher estava sendo acompanhada por dois médicos, de idades e nomes não revelados, que medicaram paciente com nebulização de hidroxicloroquina.

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