Assembleia do Conselho Indigenista celebra luta e resistência junto aos povos originários

Com mais de meio século atuando na Amazônia, o Cimi organizou sua primeira assembleia presencial, após a pandemia, para reafirmar sua luta em defesa dos povos originários do Brasil e, em especial, os povos da floresta (Fábio Pereira/Reprodução)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Norte I, realizou, em Manaus, sua 43ª assembleia que aconteceu na segunda semana de fevereiro, no Centro de Formação Xare. O evento reuniu missionários e missionárias, religiosos e religiosas, leigos e leigas, convidados e convidadas dos Estados de Amazonas e Roraima, onde o Cimi atua. No encontro, foram partilhados ações, projetos, atividades, desafios, desejos e sucessos alcançados junto aos povos indígenas.

A plenária da 43ª assembleia do Cimi Regional Norte, aconteceu em Manaus, capital do Amazonas, um dos Estados amazônicos onde o conselho tem profundas raízes (Fábio Pereira/Reprodução)

De acordo com Jussara Góes, da coordenação colegiada do Cimi Regional Norte I, o momento é de reconstrução. “Depois de três anos nos encontrando de forma virtual, devido ao isolamento social provocado pela pandemia, o momento foi de acolhida, reflexão, em relação aos anos anteriores, e alegria por estarmos juntos novamente. Este momento é fortalecedor, também, porque depois de quatro anos de governo genocida, agora, temos um novo governo”, declarou.

Para Jussara Góes, as pautas desenvolvidas na assembleia e os debates provocados pela conjuntura, irão resultar em uma agenda que norteará ações do conselho indigenista pelos próximos anos. “Vão nos proporcionar encontrar caminhos para os próximos anos, no fortalecimento da luta indígena, de esperança para os missionários do Cimi, fortaleza na luta e também na garantia e efetivação dos direitos dos povos indígenas”, contextualizou.

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Áreas de atuação

O Cimi Norte I possui uma estrutura bem distribuída nos dois Estados da Amazônia Legal. As equipes estão nas regiões de Lábrea, Tefé, médio Juruá, Javari, Borba e rios Madeira e Marmelos, no Amazonas, e em Roraima, nas regiões Alto Cauamé-Tabaio, Amajari, Serra da Lua e Curiara. Em todas, existe a parceria com a pastoral indigenista.

O Regional tem, ainda, representação na Equipe de Apoio aos Povos Livres (Eapil) e na equipe itinerante, que chega nos lugares mais longínquos da Floresta Amazônica. Ocupa, ainda, representação na Cáritas Arquidiocesana de Manaus e na Pastoral Indigenista de Parintins e é parceira nas dioceses de Coari, Maués e Itacoatiara.

O procurador do MPF, Felicio Pontes, fala sobre a importância de se entender o mercado de créditos de carbono e seus mecanismos de pressão sobre os territórios indígenas (Reprodução/Fábio Pereira)

Tamanho avanço foi construído ao longo de cinco décadas. O Cimi chegou à Amazônia em 1972, no auge da ditadura militar no Brasil. A política do “integrar para não entregar”, dos generais, era clara quanto à existência dos povos indígenas. Egydio Schwade, missionário pioneiro do conselho, na década de 1970, busca, nas suas memórias, a ideia, na época, que era de integração dos indígenas.

A integração nacional dos povos indígenas, significando que toda integração passa pela desintegração: desintegra-se a cultura, desintegram-se as terras, desintegra-se a autonomia e a vida“, relembrou.

Presente ao encontro, para Dom Leonardo Steiner, arcebispo da Diocese de Manaus e o primeiro bispo cardeal da Amazônia, relembrar as dores é necessário para dimensionar a missão do Conselho Indigenista Missionário junto àqueles que mais precisam de sua força de atuação.

É uma assembleia celebrativa como memória, recordação do passado, mas também dos gestos importantes da missão que o Cimi exerceu e, com isso, pensar o futuro do Cimi“, pontificou o religioso.

Futuro ancestral

Do município de São Gabriel da Cachoeira, Eliomar Ozias Sarmento Tukano, secretário executivo da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), destacou a necessidade do engajamento da juventude indígena.

“Estou certo de que o futuro é ancestral, ou seja, não temos como planejar projetos a curto ou longo prazo sem visar a formação da juventude indígena. Seja criando uma estratégia, um plano específico de enfrentamento às mudanças climáticas, seja repensando um plano de construção das consciências, seja no enfrentamento da violência estrutural ou da exploração da juventude indígena”, criticou.

Os participantes da 43ª assembleia confraternizaram, entre si, na mística do acolhimento, onde o importante é celebrar o espírito de união dos missionários do Cimi (Fábio Pereira/Reprodução)

Ao final, a coordenadora Jussara Góes destacou que o evento, bem como a participação de todos na construção da assembleia, veio para fortalecer ainda mais a luta e as estratégias para o enfrentamento dos problemas pelos quais passam os diversos povos que estão no raio de atuação do conselho indigenista. “Saímos da assembleia sabendo que ainda teremos muitos desafios pela frente, mas também saímos com esperança, alegria e fortalecidos para continuarmos nossa missão junto aos povos e entre nós”, agradeceu.

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