Autor de lei contra intolerância religiosa, deputado do AM acusa escolas de samba de ‘blasfêmia’

Fausto Jr. considerou os desfiles como 'blasfêmia' e 'desrespeito' (Mateus Moura/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O deputado federal pelo Amazonas Fausto Vieira dos Santos Junior (União Brasil-AM) usou as redes sociais nessa quarta-feira, 22, para criticar as apresentações das escolas de samba Salgueiro (RJ) e Gaviões da Fiel (SP), que utilizaram símbolos do cristianismo, cantando sobre liberdade, profanação e intolerância religiosa.

Considerados ‘blasfêmia’ e ‘desrespeito’, pelo deputado, os desfiles foram realizados na madrugada de sábado, 18, em São Paulo, e na segunda-feira, 20, no Rio de Janeiro. A publicação do parlamentar traz imagens de uma alegoria, um casal fantasiado de Adão e Eva e imagens do Carnaval de 2019.

Deputado estadual na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), durante a 19ª Legislatura, entre os anos de 2019 e 2022, Fausto Jr. apresentou, no último ano de mandato, Projetos de Lei (PLs) tratando sobre intolerância e liberdade religiosa.

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Um deles, modificando a Lei Ordinária nº 6.051, de 24 de novembro de 2022, trata da criação da Semana do Combate à Intolerância Religiosa no âmbito do Estado do Amazonas. Segundo o texto, o objetivo é “integrar todas as religiões e credos, bem como conscientizar sobre o respeito à crença e à fé dos cidadãos“.

Alegoria completa trazia a vitória do Arcanjo Miguel contra o demônio. (Reprodução)

‘Blasfêmia’

Na publicação, Fausto escreveu ainda que a Escola de Samba deveria estar propagando cultura e não blasfêmia e desrespeito. “Não sei até que ponto pode chegar a vontade de “causar” através dessa obsessão por obras que afrontam Deus, e que aplaudem figuras satãs. Isso só trará resultados negativos“, afirmou o deputado.

Desnecessário e lamentável uma Escola de Samba — que deveria estar propagando cultura — orquestrar um desfile cheio de blasfêmia e desrespeito, ao invés de estimular algo positivo, que levasse reflexão às pessoas, para construirmos uma sociedade melhor“, completou a publicação.

A alegoria, publicada pelo deputado federal, é da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro, que desfilou com o enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho“, trazendo uma releitura sobre pecado, profanação e liberdade de expressão.

Abre-alas da Salgueiro trazia casal vestido de Adão e Eva vermelhos (Reprodução)

A alegoria faz parte do carro chamado “A batalha épica entre o bem e o mal” e traz Arcanjo Miguel com uma lança nas mãos, derrotando o demônio. Já na segunda imagem publicada por Fausto, aparece uma dupla fantasiada de Adão e Eva em tons vermelhos, representando o pecado cometido pelo casal, que foi expulso do Jardim do Éden.

Veja publicação do deputado:

Na terceira imagem, a rainha de bateria da Gaviões da Fiel, Sabrina Sato, aparece fantasiada como um dragão derrotado por São Jorge, santo católico, mas que também é ligado à Umbanda, considerado o mensageiro de Ogum, de acordo com sincretismo religioso. A fantasia vermelha, porém, foi interpretada como “diabo” por alguns internautas.

Interpretado por Ernesto Teixeira, o samba-enredo do desfile da Gaviões da Fiel tinha o título: “Em nome do pai, dos filhos, dos espíritos e dos santos… Amém!” e enaltecia a fé em São Jorge. “Obatalá mandou avisar Quando tudo passar, vai ter procissão Um olhar altaneiro no céu Abençoa a fiel a seguir a missão Do pai maior, aprender a lição Tirar as angústias do nosso caminho Pra ajudar seu irmão a carregar sua cruz Na força da fé, nunca estou sozinho“, diz trecho do samba.

Rainha de Bateria da Gaviões da Fiel, Sabrina Sato, com fantasia de Dragão de São Jorge (Reprodução)

Por fim, o deputado também publicou uma imagem do Carnaval de 2019, quando a Gaviões da Fiel trouxe em seu abre-alas o mesmo tema da luta contra o bem e o mal, com Jesus e o diabo lutando. No fim da apresentação, à época, o bem também vencia.

No dia da apresentação da escola de samba Gaviões da Fiel, a REVISTA CENARIUM noticiou que a agremiação recebeu críticas de fundamentalistas religiosos. A justificativa central é a de que os carnavalescos “brincam” e “blasfemam” com a religião cristiã.

Leia mais: Alegoria de vitória do bem contra o mal é criticada nas redes sociais

Difusão da cultura

Para o Xɛ́byosɔnɔ̀ Alberto Jorge, as escolas de samba exercem um importante papel na difusão da cultura brasileira, trazendo releituras e diferentes pontos de vista da fé, seja ela qual for, respeitosamente. Para ele, a “satanização” da festividade nada mais é do que uma visão eurocentrista de inferiorização de outras religiões e crenças.

A solução para isso é a educação feita com base no respeito à laicidade do Estado, à liberdade religiosa, independente do credo. Uma cabeça pensante, independente, pode ter fé, ter religião, mas não se deixa dominar por histórias de guerras constantes entre um suposto Deus contra os demônios que ele mesmo criou e não consegue controlar“, expõe Alberto Jorge.

Procurado pela REVISTA CENARIUM para comentar sobre o episódio, o deputado federal não se manifestou até a publicação desta reportagem

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