Balsas de garimpo na Amazônia faturam até R$ 1,16 milhão por mês

Garimpos de dragas obtêm lucros milionários (Reprodução/InfoAmazônia)
Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – Um estudo intitulado “Abrindo o livro-caixa do garimpo“, publicado pelo Instituto Escolhas, na sexta-feira, 16, revelou que balsas de garimpos de ouro na Amazônia têm um faturamento mensal estimado em até R$ 1,16 milhão.

A pesquisa também apresenta uma análise detalhada de outras receitas e custos das duas operações garimpeiras comuns na região: o garimpo de draga (com balsas), realizados nos rios, e os garimpos de baixão (com retroescavadeira), feitos em áreas terrestres. 

De acordo com o instituto, as análises foram baseadas na realidade de Itaituba (distante 888.36 quilômetros de Belém, capital do Pará) conhecida como “Cidade Pepita”, devido à centralidade no comércio de ouro.

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“Para compor as análises de receitas e custos desses dois garimpos típicos, foram realizadas quinze entrevistas nos municípios de Santarém e Itaituba, incluindo o distrito de Moraes de Almeida e a região garimpeira de Jardim do Ouro, em dezembro de 2022. Foram entrevistados representantes do poder público, empresários, donos de garimpos, garimpeiros e representantes de cooperativas de garimpeiros”, diz trecho.

Uma das balsas utilizadas em garimpo na Amazônia (Revista Cenarium/Reprodução)

Garimpos de dragas

Segundo o relatório técnico, os garimpos de dragas obtêm produção diária média de 150 gramas de ouro por dia, ao longo de 25 dias de operação mensal, o que gera uma receita mensal de, aproximadamente, R$ 1.162.500.

A atividade é realizada em uma balsa estruturada por 18 garimpeiros, divididos em três equipes, além de duas cozinheiras. Além disso, cada equipe conta com um gerente responsável por coordenar as operações e garantir a extração do ouro.

Tabela com volume mensal de balsas de garimpo (Reprodução/Instituto Escolhas)

O levantamento revela que o investimento para a aquisição de uma draga totaliza R$ 3.336.000. O montante é destinado à compra da estrutura da balsa, dos equipamentos e motores, que correspondem a R$ 2.410.000, um adicional de R$ 400.000 para aquisição dos acessórios necessários para o pleno funcionamento da draga.

Já o alojamento destinado aos garimpeiros demanda um investimento de R$ 520.000, incluindo um gerador para garantir energia elétrica e também a instalação de internet, que gera um custo de R$ 6.000.

Os garimpeiros considerados “sócios” desse tipo de garimpo recebe 35 gramas de ouro por mês, o que equivale a R$ 10.979 mensais. Em cada equipe, o membro que gerencia as atividades do grupo ganha 3% adicionais da produção, equivalente a mais de R$ 22 mil por mês.

“A despeito do faturamento, inegavelmente alto, é preciso considerar que os custos operacionais da draga – inteiramente a cargo de seu dono – são também significativos, dentre eles, o investimento de capital inicial, o combustível dos equipamentos e a alimentação da equipe”, aponta o instituto.

Garimpos de baixão

No garimpo de baixão, também conhecido como Tatuzão, que ocorre regularmente a cada sete a dez dias, a extração de ouro atinge uma média de 40 gramas por dia, equivalente a 400-450 gramas a cada ciclo, fechando uma receita mensal, em média, de R$ 930 mil.

Tabela com números do garimpo de baixão (Reprodução/Instituto Escolhas)

O estudo revela que o investimento inicial para esse tipo de garimpo com retroescavadeira pode custar até R$ 1,5 milhão. Essa estimativa inclui diversos equipamentos, sendo três pares de máquinas conhecidas como motobombas, compostas por motores, peças de suporte como cavalete, bombas, carcaça, entre outros itens, totalizando um montante considerável de R$ 391.332. Outros gastos foram considerados, como os alojamentos com geradores, que somam uma despesa adicional de R$ 68.996.

Extração de ouro no garimpo de baixão atinge até 40 gramas de ouro por dia (Geoforense/Reprodução)

Uma equipe formada por seis garimpeiros, no Tatuzão, divide 19% da produção, resultando em uma remuneração mensal de R$ 9.817 (equivalente a 32 gramas de ouro). Além disso, cada equipe conta com um gerente que recebe um adicional de 3% da produção, totalizando uma remuneração mensal de, aproximadamente, R$ 19.117. O operador da PC (retroescavadeira ou pá-carregadeira) recebe R$ 5.023 por hora.

Conclusões do estudo

A pesquisa destaca que a atividade garimpeira não impulsiona o desenvolvimento local. “Do ponto de vista econômico, apesar de trazer algum dinamismo para a região, com efeitos positivos sobre emprego e renda, no curto prazo, a atividade garimpeira não se mostra capaz de mudar a dinâmica socioeconômica dos municípios, provocando impactos apenas temporários sobre indicadores de desenvolvimento como a saúde, a educação e o PIB per capita” ressalta o estudo.

Entre os resultados, o instituto aponta que, embora a extração de recursos minerais possa gerar lucros imediatos, o garimpo causa um desenvolvimento desigual na Amazônia. “É necessário conter a expansão desenfreada dos garimpos, na Amazônia, dado seus graves impactos sobre a conservação da floresta, a saúde humana e os direitos das pessoas e comunidades afetadas”, concluiu o estudo.

Veja o estudo:

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