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BBB24: Entenda o porquê de nortistas serem preteridos em reality shows
À esquerda, Vivian Amorim; no centro, Isabelle Nogueira e à esquerda, Mahmoud Baydoun (Montagem: Mateus Mora/ Revista Cenarium Amazônia)
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11 de janeiro de 2024
João Felipe Serrão – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS (AM) – Das 397 pessoas que já passaram pelas 24 edições do Big Brother Brasil (BBB), apenas 16 são da Região Norte. O número representa 4% do total de participantes. Especialistas ouvidos pela REVISTA CENARIUMAMAZÔNIA apontam que a falta de representatividade da população nortista se deve a um processo histórico de apagamento da região, sendo uma herança do processo de colonização que o Brasil passou.
A edição deste ano do reality show mais famoso do País agitou os nortistas por conta da participação de três pessoas da região: Isabelle Nogueira, cunhã-poranga do Garantido do Amazonas, Alane Dias e Marcus Vinicius, ambos do Pará. O trio faz parte de um grupo seleto que conseguiu representar a região.
Duas participantes do Norte tiveram maior destaque ao longo da história do BBB. A acreana Gleici Damasceno foi a campeã da 18ª edição do programa e levou para casa o prêmio de R$ 1,5 milhão.
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Já a amazonense Vivian Amorim chegou bem perto de conquistar o prêmio, ficando em segundo lugar no BBB 17. Seu sucesso foi tanto, que ela se tornou apresentadora em programas da Rede Globo.
O Estado que mais teve participantes no BBB foi São Paulo, com 112, seguido pelo Rio de Janeiro, com 68. Em terceiro está Minas Gerais, com 40.
A falta de representatividade nortista não é exclusividade do BBB. Outros realitys não dão espaço para participantes da região quando vão montar o elenco. Por exemplo, ‘A Fazenda’, programa da TV Record, teve apenas quatro participantes da região Norte ao longo das suas 15 edições.
Colonização
O antropólogo Agenor Vasconcelos destaca que a invisibilidade da Região Norte no cenário nacional é fruto do processo de colonização que o país sofreu. Segundo ele, os responsáveis por esse processo histórico também fizeram questão de apagar as raízes dos conhecimentos tradicionais que se popularizam no País.
“A invisibilidade da Região Norte é também colonização. É fruto do estereótipo dos primeiros colonizadores, que, aliás, não são colonizadores, são invasores. Eles não só se instalaram, como roubaram os conhecimentos, roubaram as plantas, roubaram as formas de pesca e disseram que eram eles que tinham inventado. Esses motivos que levaram a invisibilização do Norte são muito antigos, e agora a nossa geração tem refletido sobre isso”, afirmou Agenor.
Espelho da sociedade
O comunicador e criador de conteúdo José Kaeté, 30, é indígena tupinambá do Pará, ativista e trabalha na internet compartilhando suas experiências e conhecimentos com o objetivo de desmitificar as diferentes amazônias.
De acordo com ele, a participação dos nortistas no BBB 24 ataca um problema que é a apropriação do discurso promovido por pessoas de fora, já que, historicamente, o que acontece são pessoas falando pelos amazônidas.
“Várias pessoas se apropriam dos nossos conhecimentos, das nossas vivências, das nossas pautas e ficam protagonistas em coisas que são nossas. A gente é muito carente nesse sentido de ter representantes nossos, representantes que tenham poder para falar desses assuntos e dessas diferentes vivências”, disse José.
José também levantou uma característica da comunicação de nortistas. Para ele, as pessoas da região, normalmente, têm que exercer o papel educativo do que é a cultura do Norte e como ela funciona, para ensinar as pessoas do restante do Brasil sobre o que a Amazônia e o que ela representa.
Rompendo as barreiras
Para Agenor Vasconcelos, um dos caminhos possíveis para romper com a invisibilidade histórica da região Norte é com a população asssumindo sua identidade e valorizando a herança indígena da cultura.
“A gente precisa se assumir nortistas e donos dos conhecimentos que nos foram roubados. Também precisamos de união. A gente tem uma certa dificuldade na nossa região de ter uma união, porque a gente aprendeu a preservar o conflito né. A gente foi ensinado a preservar o conflito e a concorrência”, disse o antropólogo.
Para o produtor de conteúdo e influencer, José Kaeté, os meios de comunicação tradicionais, como a televisão e o rádio são os que mais perpetuam uma lógica de apagamento da região Norte. De acordo com ele, a internet se tornou uma alternativa para atacar o problema da falta de representatividade e apagamento.
“Um dos caminhos é se apropriar da internet. Acho que a internet é mais democrática, apesar de não termos um Brasil interiorano conectado, mas a gente tem a possibilidade de se apropriar dela para compartilhar vivências diferentes do que a mídia tradicional geralmente compartilha”, disse.
José ainda mencionou a importância de descentralizar os locais de tomadas de decisão, onde se definem os rumos e programação da comunicação de massa.
“Esses escritórios dos meios de comunicação se concentram no eixo sul-sudeste. Se isso não for possível, é preciso mudar as pessoas que estão tomando a decisão nesses lugares. Os gestores, diretores, presidentes, que geralmente tem um padrão muito específico de vivência. Quando você consegue trazer pessoas de contextos diferentes pra essa tomada de decisão, já é uma grande mudança que a gente consegue contra esse apagamento”, finalizou José.
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