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Bioma mais devastado do País, mata atlântica produz 50% dos alimentos consumidos pela população brasileira
Colheita de café em fazenda de Socorro (SP) (Eduardo Anizelli - 14.ago.2020/Folhapress)
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11 de novembro de 2022
Da Revista Cenarium (*)
MANAUS – A mata atlântica, que é ao mesmo tempo o bioma mais devastado do Brasil e um dos principais “hotspots” da biodiversidade do planeta, produz 50% dos alimentos consumidos pela população brasileira.
Com uma área agrícola de, aproximadamente, 70 milhões de hectares, responde por 97% da maçã, 90% do feijão-preto, 90% do café conilon, 63% dos ovos, 63% da banana e 54% da batata, entre outros. É também do bioma que saem 30% da produção vegetal de não alimentos, como fibras, látex e algodão, e 62% de cabeças de animais, bovinos, ovinos, aves, suínos consumidos no país.
Lançada pela ONG SOS Mata Atlântica nesta semana na COP27, a análise foi coordenada pelos pesquisadores Luís Fernando Guedes Pinto, Jean Paul Metzger e Gerd Sparovek e elaborada a partir da reunião de diversos estudos e dados secundários sobre a situação fundiária, o uso da terra e a produção agropecuária na mata atlântica.
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“A gente resolveu lançar essa análise na conferência climática para chamar a atenção do mundo para a mata atlântica e também para chamar a atenção do Brasil”, explica Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica.
A entidade vem buscando não apenas internacionalizar a importância do bioma, especialmente por meio da agenda de restauração florestal, mas aproximá-lo do dia a dia das pessoas, ele explica, agora por meio da sua relevância para a produção alimentar.
O bioma, que está presente em 3.429 municípios de 17 estados e ocupa 15% do território nacional, abriga 27% das terras agropecuárias e 40% dos estabelecimentos rurais no Brasil, em paisagens que foram profundamente transformadas como resultado de ciclos econômicos desde o início da colonização portuguesa.
Atualmente, a maior parte da área antropizada —isto é, cujas características originais foram alteradas— da mata atlântica é ocupada por pastagens, que cobrem 25% de todo o seu território.
Desde 1985, a área de pastagem degradada vem dando lugar à agricultura e a florestas plantadas, mas, ainda assim, o bioma ainda tem cerca de 4 milhões de hectares severamente degradados, o que corresponde a uma área similar ao estado do Rio de Janeiro.
Aerva-mate, cujas folhas eram utilizadas pelos indígenas para a produção de uma espécie de chá estimulante chamado de ka’ay, é a única espécie nativa da mata atlântica com produção expressiva —97% dela ainda é mantida no bioma e concentrada na região Sul do país.
Em uma entrevista recente, Clayton Lino, presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, afirmou que mais de 450 municípios têm essa espécie entre as suas maiores fontes de renda, uma cadeia direta e indireta que gera cerca de 600 mil empregos, número similar à indústria automobilística brasileira.
Além da produção agrícola de consumo direto para alimentação da população brasileira, a mata atlântica tem participação na produção de commoditiespara exportação, respondendo por 46% da produção de cana-de-açúcar, 34% da produção de milho e 32% da produção de soja.
“Esse resultado é alcançado com uma área de uso agropecuário e emissões de gases de efeito estufa comparativamente menores que a do cerrado, que se tornou o paradigma e referência da agropecuária nacional nas últimas décadas a partir do cultivo de monoculturas em larga escala e em grandes propriedades”, ressalta Guedes Pinto.
A mata atlântica, ele destaca, emite somente 26% dos gases de efeito estufa do setor agropecuário, como aponta também o relatório.
As pequenas propriedades são predominantes e, agregando assentamentos rurais, somam 35% do bioma, com o Espírito Santo, Santa Catarina e Rio de Janeiro e Paraná registrando os menores índices de desigualdade de distribuição da terra, abaixo da média do Brasil.
Segundo Guedes Pinto, além do potencial agrícola, a mata atlântica tem muito a contribuir para as soluções climáticas e poderia conquistar a neutralidade das emissões geradas pelo uso da terra nas próximas décadas por meio da combinação do fim do desmatamento até 2030, da restauração florestal de 15 milhões de hectares e da promoção da agricultura de baixo carbono.
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