Bioplásticos reduzem decomposição no solo em até cem anos

Bioplástico (Reprodução/Internet)
Alessandra Leite – Da Revista Cenarium Amazônia

SÃO PAULO (SP) – Trocar cem anos de decomposição de plásticos convencionais por quatro meses de biodegradação total, gerando nutrientes para o solo. Essa é a intenção dos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com a produção dos novos tipos de bioplásticos que se degradam rapidamente nas diferentes condições ambientais do solo brasileiro, agredindo menos o meio ambiente.

Produzidos a partir de fontes mistas, tanto a renovável – oriunda da fermentação de açúcares, quanto a fóssil (em baixa porcentagem) – os bioplásticos estudados têm a capacidade de ser biodegradáveis pela microbiota do solo. É o que explicam Fábio Fajardo, idealizador dos compostos, e Michele Spier, cientista da UFPR e autora do estudo. “Além disso, utilizamos também as fontes naturais orgânicas e inorgânicas nas composições. Por via renovável, a partir do processo de fermentação de açúcares, pode-se obter dois compostos para alcançar um desses poliésteres”, relatam.

O constituinte de origem fóssil, de acordo com Spier, é biodegradável, conforme certificação europeia de biodegradabilidade e compostabilidade. Em um relatório-síntese lançado nesta sexta-feira, 29, os pesquisadores descrevem o material como um filme compostável que pode ser completamente degradado em até quatro meses, gerando ainda nutrientes para o solo.

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Produção em fábrica de bioplástico (Michele Spier)

Tais resultados foram obtidos a partir da análise de processos de biodegradação de cinto, amostras de matérias-primas de plástico certificadas como seguras e cedidas por empresas do ramo. Conforme o relatório apresentado, as amostras possuíam diferentes espessuras e formulações e foram observadas durante seis meses, sendo formadas por materiais de fontes renováveis e biodegradáveis.

O estudo demonstra que, em quatro meses, duas amostras foram 100% degradadas por micro-organismos do solo, enquanto as outras três apresentaram percentual de biodegradação de 30%, 60% e 50%, em seis meses. “Em termos de comparação, bioplásticos feitos com Poliácido Lático (PLA), mais usuais no mercado, levam de 20 a 30 anos para biodegradarem”, elucidam.

Conforme os pesquisadores, a degradação nas amostras se dá porque esse tipo de plástico, com poliéster alifático, tem uma estrutura molecular fraca o suficiente para ser quebrada em estruturas menores quando exposto à umidade e ao calor. “Como resultado, são produzidos dióxido de carbono (CO2), água, biomassa e minerais. Parte desses compostos podem ser consumidos com mais facilidade por micro-organismos encontrados em ecossistemas terrestres, além de servirem de nutrientes para o solo”, explicam.

Os autores informam que estudos aquáticos ainda precisam ser elucidados. “Estudos estão sendo feitos nesses ecosssistemas. Acredita-se que o tempo nas águas oceânicas possa ser maior que no solo, mas ainda menos danoso que os plásticos de fonte petroquímica (mais poluentes)”, acrescenta Spier.

Já os plásticos convencionais possuem estrutura molecular com ligações de carbono muito estáveis e fortes, o que impossibilita a quebra em estruturas viáveis de serem digeridas.

Principal benefício

Na análise da autora do estudo, Michele Spier, o maior benefício gerado diz respeito ao cessamento da dispersão de micro e nanoplásticos no meio ambiente, oriundos da degradação dos plásticos convencionais. “Podemos citar também a contribuição para o fim da contaminação de cursos d’água, solo e para a não-mortandade em animais que os ingerem ao confundir seus alimentos. Baleias e tartarugas, por exemplo, ingerem saquinhos plásticos até seus estômagos encherem. Esses plásticos não passam pelo trato intestinal, então, se acumulam ao ponto do animal morrer por inanição”, ressalta.

Em média, segundo Spier, cada ser humano consome mais de 50 gramas de plásticos por ano. “Esses plásticos convencionais (de fonte petroquímica) acabam liberando compostos tóxicos, causando distúrbios e consequências sérias na saúde”, observa.

De acordo com os pesquisadores, a intenção é encontrar alternativas ao plástico convencional. “Nossas pesquisas são realizadas com base em estudos de países como Alemanha, EUA e França, que já adotam bioplásticos seguros e que garantem que eles não gerem ao meio ambiente os microplásticos e nanoplásticos”, explica Spier.

Embora sejam mais caros se comparados aos plásticos convencionais, os bioplásticos, sugerem os autores do relatório, podem ser utilizados em sacolas de compras, embalagens de entregas, talheres e sacos para dejetos de animais. Eles enfatizam que os materiais são úteis para descarte de resíduos orgânicos domésticos, porque evitam que recicladores entrem em contato direto com substâncias em decomposição ao separar a sacola plástica dos dejetos para a reciclagem.

“É importante que o consumidor entenda quais são os tipos de plásticos disponíveis. Os convencionais podem ficar destinados a embalagens de xampu e garrafas de água, por exemplo, pois são mais simples de serem reciclados”, esclarece a pesquisadora.

Em termos de aplicabilidade do produto no mercado, Spier destaca que, embora as matérias-primas ainda sejam importadas da Ásia e formuladas no Brasil, acredita-se que, com o aumento da demanda, é possível que passem a ser produzidas em solo nacional. “Temos todos os recursos para sermos competitivos nesse desafio de comercializar em escala, apesar da matéria-prima ainda ser importada”, afirma.

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Próximas fases

A partir de agora, os pesquisadores seguem com os estudos e novos testes no laboratório na UFPR, aproveitando que a biodiversidade do Brasil pode servir de fonte de matérias-primas para produzir bioplásticos biodegradáveis e compostáveis. “Utilizar esses materiais leva a uma redução do preço do produto final para o consumidor. Sabemos que é apenas um pontapé inicial, mas já começamos a nossa corrida contra os materiais que causam mais danos ao meio ambiente. É preciso seguir buscando alternativas e apresentando ao consumidor produtos acessíveis e amigáveis ambientalmente”, exalta Spier.

Editado por Eduardo Figueiredo
Revisado por Adriana Gonzaga
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