Bolsonaristas atacam jornalistas e ofendem repórter com palavrões; apoiadores de protestos se calam

O impedimento do trabalho da imprensa fere um dos pilares da democracia brasileira, garantida pelo Artigo 220 da Constituição brasileira (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Apoiadores do presidente Bolsonaro (PL) atacam a repórter de televisão de uma emissora de Manaus Mayara Rocha na tarde desta quinta-feira, 10. A jornalista fazia a cobertura do manifesto antidemocrático que ocorre, pelo nono dia, em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), na Zona Oeste de Manaus. O repórter cinematográfico Anderson Luiz também foi hostilizado.

Foram questionados políticos com mandato e sem mandato, que apoiam o movimento de extrema-direita, como o deputado federal Alberto Neto (PL), Coronel Menezes (PL), Chico Preto (Agir) e vereador Capitão Carpê (Republicanos). Destes, apenas Carpê respondeu dizendo que “repudia qualquer ato de violência”. Os demais se calaram.

Poucos minutos

Segundo informações apuradas pela equipe de reportagem da CENARIUM, os manifestantes se aproximaram armados de pedras para lançar na direção dos jornalistas, que só foi contida por meio da intervenção de um segurança na manifestação.

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Em seguida, um dos manifestantes, ainda não identificado, se aproximou da repórter que, na saída do veículo, ao término da reportagem, recebe gritos do homem que bate no carro. Em seguida, ele agride os profissionais, verbalmente, com palavras de baixo calão. Em várias delas, ele, o agressor, grita e ofende a repórter no aspecto pessoal de sua orientação sexual: “seus bando de imundo… Tu tá doida é? Vai tomar no…, sua…”, diz o agressor.

Veja o vídeo:

Desde a ascensão de Bolsonaro à Presidência, a imprensa brasileira passou a ser alvo constante de ataques (Reprodução)

A reportagem da CENARIUM tentou falar com a jornalista Mayara Rocha que preferiu não se manifestar. Procurada, a TV local também não informou se vai se pronunciar sobre a agressão da profissional de imprensa.

Leita também: Vereador de Manaus pede ao MPF retirada de manifestantes da extrema-direita da frente do CMA

Crítica não

Para o antropólogo e cientista político Paulo Queiroz existe dois olhares sobre o mesmo tema. “Existe uma pequena parcela de blogs e portais que alimenta essa extrema-direita e existe a grande imprensa que cobre, profissionalmente, atos como esses que acontecem em frente ao CMA. É essa imprensa séria, que critica os excessos da extrema-direita, que vem sendo atacada por esses manifestantes que não aceitam o resultado das urnas”, observou Queiroz.

Ainda de acordo com ele, além de não aceitar críticas aos seus métodos violentos e ao resultado do jogo democrático, a extrema-direita está mais enervada após o frustrante resultado do relatório do Exército. “O apogeu da frustração dos extremistas se encontra na apresentação do relatório do exército sobre as urnas e a lisura do pleito que elegeu Lula. O sangue deles entrou em ebulição porque esse relatório significava muito, agora, acredito que vão para o tudo ou nada, ou vão definhar”, avaliou.

Sindicato repudia

Procurado pela reportagem da REVISTA CENARIUM, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas (SJP/AM), Wilson Reis, declarou: “O SJP/AM repudia a agressão sofrida pela jornalista Mayara Rocha ocorrida, hoje, por manifestantes bolsonaristas que mantêm, de forma antidemocrática, atos em frente aos quartéis de todo o País e aqui, em Manaus, não é diferente”, criticou.

“O exercício profissional do jornalista é livre e não pode ser impedido porque é preciso apurar fatos e levá-los com credibilidade à população. O sindicato lamenta e se solidariza com os profissionais. Vamos tomar providências no que diz respeito à tentativa de impedir a cobertura da imprensa aos atos antidemocráticos no Amazonas”, finalizou Wilson Reis.

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