‘Bolsonaro errou e se omitiu na pandemia’, diz Renan, escolhido como relator da CPI

Um dos alvos deverá ser o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello (Givaldo Barboza/Agência O Globo)

Com informações do O Globo

BRASÍLIA – Ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) era um dos nomes mais temidos pelo governo para ocupar um posto no comando da CPI da Pandemia. Indicado por seu partido para a função de relator da comissão parlamentar, Renan afirmou, em conversa por telefone, que o presidente Jair Bolsonaro “errou” e se “omitiu” na condução da pandemia.

Com a ressalva de que ainda não foi nomeado formalmente relator da CPI, o senador diz que defenderá uma investigação “rigorosamente técnica, sem partidarismo e sem alvos pré-determinados”. Um dos alvos deverá ser o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.

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Segundo ele, o militar “foi muito mal” em sua gestão. “Com todo o respeito, estou há muito tempo em Brasília e nunca convivi com um ministro tão medíocre quanto Pazuello”, afirma Renan. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual a sua avaliação do governo do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia?

Minha opinião é que a gestão do Bolsonaro foi terrível no enfrentamento à pandemia. Ele complicou tudo. Complicou porque errou, se omitiu e minimizou a doença. Prescreveu remédios sem comprovação científica, estimulou aglomeração, não usou máscara. Priorizou o tratamento preventivo. É um somatório. Estamos pagando esse preço em mortes. Mas isso é só uma avaliação pessoal. Defendo uma CPI técnica, que arregimente boas cabeças da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do Tribunal de Contas da União. Defenderei uma investigação rigorosamente técnica, sem partidarismo e sem alvos pré-determinados.

Qual o papel da CPI? Que instrumentos pretende usar?

O papel da CPI é sugerir uma revisão dos procedimentos para amenizar o horror que estamos vivendo no País. A CPI tem poderes constitucionais para investigar. E, a partir daí, convocar pessoas, fazer oitivas, ter acesso a informações, quebrar sigilos telefônicos, todos os sigilos. Temos um livro publicado em 2006 no Senado, em parceria com o Supremo, que sistematiza ao longo dos anos todas as decisões de CPI tomadas pelo STF, o que pode e o que não pode. Ressalto que ainda não fui escolhido relator e nem priorizo isso. Isso só vai se definir quando a CPI for instalada. O presidente da comissão indica o relator mediante conversa com demais integrantes. Concordarei com qualquer nome do grupo. Não preciso ser relator para colaborar na investigação. Farei o meu melhor como integrante. É uma estupidez o governo querer interferir nos trabalhos da CPI para evitar que alguém seja indicado relator, até porque apoio qualquer um do grupo.

Quebrar o sigilo telefônico dos investigados na CPI da Pandemia é uma possibilidade?

Sim.

Pretende convocar Bolsonaro ou ministros para prestar depoimento?

É cedo para dizer se defendo convocação do Bolsonaro ou de ministros. Quem define os limites da investigação é a própria investigação. A investigação se aprofunda e estabelece as necessidades.

Governadores e prefeitos serão investigados?

Qualquer fato que tenha conexão com outro fato objeto da investigação também será investigado. De modo que Estados e municipios já estavam incluídos nessa regra, por conta de repasses federais.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que a CPI deverá apontar consequências no âmbito penal. A CPI deverá indicar se houve crime de responsabilidade?

Se tem crime de responsabilidade por ação ou omissão, essas coisas que nos cobram no dia a dia, não há como responder se não pelos caminhos que a CPI indicar.

Após o STF determinar a instalação da CPI, Bolsonaro afirmou que estava esperando uma “sinalização” da população para agir. Como vê esse tipo de declaração. Acarreta em algum impacto para a CPI?

É o estilo de ameaças repetidas. Essas não intimidam mais ninguém. Há consciência geral em relação à complexidade que vivemos no País. E há consciência de que todos têm que fazer sua parte e cumprir seu papel. De modo que essas ameaças e intimidações não vão atemorizar a CPI. A CPI é importante, composta por bons quadros da política nacional, pessoas com experiências em outras áreas. E que vão se dedicar totalmente à investigação.

Como avalia a gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, último a deixar o cargo?

Pazuello foi muito mal, muito mal… Com todo o respeito, estou há muito tempo em Brasília e nunca convivi com um ministro tão medíocre quanto Pazuello. Espero estar enganado. A CPI é uma oportunidade para que eu me convença ou não disso.

Como avalia a gestão de Nelson Teich à frente da Saúde?

Acho que é um técnico bem sucedido, mas logo viu que não dava para seguir os caminhos da ciência, que estava sendo torpedeada pela crença e pela ideologia de alguns no governo.

Como avalia a gestão de Luiz Henrique Mandetta na pasta?

Esse, sim, era um bom ministro. Equilibrado, sensato, tinha excelente relação com o Congresso Nacional. Ele teria condições de ter evitado muitas mortes no Brasil. Se não tivesse saído, teria evitado.

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