Carrefour é desligado da plataforma que reúne empresas pela igualdade racial

Empresa anunciou medidas após o espancamento e morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro, de 40 anos, em supermercado de Porto Alegre (Diego Vara/ Reuters)

Com informações da Folhapress

SÃO PAULO – A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, que reúne 73 organizações signatárias, informou neste sábado, 21, que desligou o Carrefour da lista de empresas parceiras. Entre as signatárias, estão Ambev, Coca-Cola, GPA e Petrobras.

Na noite de quinta-feira, 19, João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, foi morto por dois seguranças da rede de supermercados após fazer compras em uma unidade localizada em Porto Alegre.

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“A grande questão da exclusão do Carrefour tem a ver com fato de serem reincidentes”, disse Raphael Vicente, coordenador da iniciativa, uma plataforma de articulação entre empresas e instituições que se comprometem a melhorar a inclusão, promoção e valorização da diversidade étnico-racial.

O Grupo Carrefour Brasil anunciou, em nota, que romperá o contrato com a empresa responsável pelos seguranças, além de demitir o funcionário responsável pela loja na hora do ocorrido. Na noite de sexta, exibiu comunicado após a novela das 21h, na Globo.

Procurado pela reportagem para comentar a exclusão da iniciativa, a empresa não se manifestou até a publicação do texto. Vicente diz que a forma como a empresa lidou com o ocorrido “é inaceitável”. “Eles emitiram uma nota se eximindo da culpa e da responsabilidade. Vamos continuar conversando para que tenhamos uma resposta clara e objetiva do Carrefour”, afirmou.

Segundo ele, o presidente do grupo no Brasil deveria ter feito o que o presidente global fez: ir a público e dizer que tomariam medidas drásticas para evitar esse tipo de tragédia novamente.

No início da noite desta sexta-feira, 20, o presidente do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, se manifestou em sua conta no Twitter sobre o assassinato. O francês pediu a revisão do treinamento de funcionários e de terceiros, “no que diz respeito à segurança, respeito à diversidade e dos valores de respeito e repúdio à intolerância”.

“Está explícito que tem um problema, que não é do gerente, da loja, do vigia ou da empresa terceirizada. O presidente tinha que ter vindo a público e afirmar que os processos seriam revistos, medidas duras seriam tomadas”, afirma Vicente. Qualquer empresa pode ser signatária da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, diz o coordenador. “É preciso apenas que ela se comprometa publicamente com os compromissos da iniciativa”, afirma.

O caso brutal na unidade gaúcha é o mais recente de uma sequência de relatos sobre discriminação, descaso e violência sob diferentes aspectos no Brasil, com alguns casos obtendo grande repercussão.

Em 2009, um vigia e técnico em eletrônica, também negro, foi agredido por seguranças de uma unidade em Osasco (SP), acusado de tentar roubar o próprio carro no estacionamento da loja. Em dezembro de 2018, também em Osasco, um cão foi envenenado e espancado por um segurança da rede, causando enorme comoção na comunidade.

No caso mais recente, um promotor de vendas terceirizado da rede morreu enquanto trabalhava em uma unidade do grupo, em Recife, em agosto deste ano. O corpo foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas enquanto a loja seguiu em funcionamento. O IML (Instituto Médico Legal) só fez a remoção após quatro horas.

Ainda assim, a rede segue como destaque em alguns indicadores que são utilizados como atestado de boas práticas corporativas em questões sociais e ambientais.

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