Cirurgiões ligados a senador de Roraima são investigados pela PF por fraude

O senador de Roraima, Mecias de Jesus (Republicanos), na tribuna do Congresso (Geraldo Magela/Agência Senado)
Winicyus Gonçalves – Da Revista Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – Nomes ligados ao senador de Roraima Mecias de Jesus (Republicanos) estão entre os investigados pela Polícia Federal (PF) por suspeita de orientar pacientes a ir para uma clínica particular, enquanto havia material para realizar procedimentos no Hospital Geral de Roraima (HGR). Os envolvidos são o empresário Rodrigo Acioly, Daniel do Carmo e Dennis Dinelly.

Os investigados estão entre os dez alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF no âmbito da Operação Esculápio, deflagrada na última terça-feira, 1°. Acioly é esposo da suplente do senador Mecias, a enfermeira Roberta Leontina Xisto Acioly.

Da esquerda para a direita, Rodrigo Acioly, Daniel do Carmo e Dennis Dinelly (Reprodução/Instagram)

Roberta fez parte da chapa do senador eleito em 2014 com 85.366 votos e é a primeira suplente. Dinelly e do Carmo também têm atuação na rede pública e particular em Boa Vista.

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A REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA tentou contato com as defesas dos parlamentares, mas não houve retorno até o fechamento da matéria. Em nota, a assessoria de comunicação do senador Mecias de Jesus informa que o parlamentar não vai se pronunciar, pois a investigação não envolve o político e inclui apenas a vida pessoal e profissional dos cirurgiões.

Suposto esquema

A PF apura a existência de uma organização responsável por induzir os pacientes a realizar procedimentos odontológicos em uma clínica particular de Boa Vista, custeados pelo Estado, mesmo havendo materiais para realizá-los no HGR. Além dos mandados de busca e apreensão, a corporação cumpriu outros oito mandados de bloqueio de bens na capita de Roraima, solicitando ainda o bloqueio de cerca de R$ 9,5 milhões das contas dos investigados.

Os pacientes seriam informados pelos profissionais de que não havia condições de realizar algumas cirurgias por falta de material.  Os dentistas, com vínculo tanto no hospital quanto na clínica particular, orientariam os pacientes a entrar com ação na Justiça Estadual para que o Estado custeasse os procedimentos em uma clínica que pertenceria aos membros da quadrilha.

CPI da Saúde

O esquema havia sido alvo de denúncia feita à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, instalada em 2019, após o então secretário de Saúde de Roraima denunciar que havia corrupção sistêmica na saúde pública do Estado.

Conforme os depoimentos, os pacientes entravam com ações na Justiça para garantir os procedimentos e o Ministério Público autorizava que as cirurgias fossem realizadas em clínicas privadas. Todas as estimativas de custos que chegavam ao MP vinham das clínicas particulares de Acioly, Dinelly e do Carmo, com preço até três vezes maiores que os valores praticados em outras. Os orçamentos eram sempre de três dentistas.

Apesar das denúncias, os nomes dos cirurgiões foram retirados da lista da CPI que pediu o indiciamento de 65 pessoas, em 2021, após pedido da deputada Lenir Rodrigues, que alegou à época que não haviam provas que justificassem o indiciamento dos cirurgiões.

Os deputados Jorge Everton, assim como Nilton Sindpol, eram presidente e vice-presidente da CPI, respectivamente, e votaram contra. Contudo, os deputados Renato Silva, Lenir Rodrigues e o então deputado Evangelista Siqueira votaram a favor.

Licitação

A PF também apura fraudes em licitações na área da saúde. As investigações sugerem que houve direcionamento do resultado de um pregão eletrônico promovido pela Secretaria de Saúde de Roraima para o fornecimento de materiais odontológicos ao hospital.

Os materiais foram orçados com valores mais elevados que os constantes na tabela de preços do SUS. Em alguns casos, a contratação chegou a ser 1.000% mais onerosa que o preço médio indicado na tabela oficial.

Leia mais: Polícia Federal deflagra operação contra fraudes na Caixa
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