Comitê formado para monitorar casos de ‘monkeypox’ no Brasil é encerrado pelo MS

lksnakonoaknf (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Com informações do Estadão

BRASÍLIA – O Ministério da Saúde descontinuou na segunda-feira, 11, a sala de situação criada para monitorar o avanço da varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil. O comitê foi formado, emergencialmente, em 23 de maio, exatos 50 dias antes de encerrar suas atividades. O objetivo do grupo era, além do monitoramento de casos aqui e no mundo, “elaborar documentos técnicos para fomentar ações de saúde pública” e impedir a disseminação da doença viral no País.

Os casos vêm crescendo no Brasil. Segundo o balanço mais recente da pasta, foram 218 confirmados até o último dia 9 – apenas três eram em mulheres. A maioria está no Estado de São Paulo, que registrou 158 pessoas com a doença.

Questionada sobre quantos profissionais compunham o grupo, a assessoria do ministério disse que não havia um número fixo de colaboradores. O plano de desmobilização foi divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e tinha 30 colaborações de representantes da Anvisa, do Conass, da Fiocruz e da Opas/OMS. 

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No “Plano de Desmobilização da Sala de Situação Monkeypox”, a pasta define fluxo de atendimento dos pacientes, contextualiza o avanço da varíola dos macacos desde sua descoberta nos anos 1970 e define os conceitos de casos suspeitos e confirmados da doença, estes últimos com a obrigação de serem notificados até 24 horas após o diagnóstico.

Entre as ações realizadas pelo grupo, o documento cita 85 reuniões, o acompanhamento ininterrupto de notificações, a definição do fluxo de atendimento, a suposta divulgação de cards com o balanço diário da doença no território nacional e a elaboração de um plano de ação.

Na “proposta de continuidade das atividades”, a sala de situação cita uma série de ações que já eram executadas pelo próprio grupo, como o monitoramento diário de notificações, a atualização constante de orientações e o planejamento de aquisições de vacinas junto à Opas. 

Até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não tem pedido ou registro de uso para algum imunizante contra a varíola dos macacos. “Caso haja a aquisição de vacinas”, os membros da sala de situação apenas propõem que o Programa Nacional de Imunizações disponha as doses à população e coordene a estratégia de aplicação “de acordo com as necessidades locais das unidades federativas”. 

Questionado, o Ministério da Saúde informou que o objetivo da sala de situação era “divulgar, de maneira rápida e eficaz, as orientações para resposta ao evento de saúde pública de possíveis casos da doença, no Brasil, além de direcionar as ações de vigilância em saúde”. A pasta afirma que o grupo “atuou para a padronização das informações e na orientação dos fluxos de notificação, assistência e investigação” e que “continua monitorando o cenário epidemiológico” no País. 

Apesar da afirmação do grupo e do ministério, a divulgação pública de dados sobre a varíola dos macacos tem sido inconstante nos canais oficiais da pasta. O último card diário, citado pela sala de situação como uma de suas atribuições, foi publicado em 29 de junho. Já os boletins epidemiológicos, com o total e os detalhes dos casos confirmados da doença não é disponibilizado desde a segunda, quando o grupo foi extinto.   

Precipitação

Profissionais da saúde ouvidos pela reportagem classificaram como precoce o encerramento da Sala de Situação e apontam o contexto ainda nebuloso da doença no Brasil e no mundo. Até agora, os novos sintomas da varíola dos macacos têm confundido médicos. A quantidade de doses de imunizante disponíveis no mundo é escassa e não há um consenso científico sobre transmissibilidade dessa nova linhagem por relações sexuais ou superfícies.

“É lógico que foi precipitado e que o Ministério da Saúde não sabe o que é uma sala de situação nem como operá-la”, avalia o sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa. “Estamos começando a entender a monkeypox e quais as desgraças dela. A função de uma sala de situação é exatamente acompanhar a doença e tomar decisões mais rapidamente, por diferentes autoridades em um mesmo ambiente”.

Ele aponta que a sala de situação é “um instrumento de gestão para um problema complexo que reúne gente de todos os lados para tomar decisões emergenciais”. Como exemplo, cita que cada unidade federativa criou e manteve grupos parecidos para lidar com o coronavírus, todos com longevidade superior a 50 dias. 

“Nesse momento, não existe grupo ou Estado preparado para acompanhar casos novos e identificar se eles estão sendo, de fato, quarentenados”, observa. Para Vecina, a sala de situação deveria ter se mantido “até o momento em que a doença estivesse controlada”.

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