Coronel Felipe Arce, um capítulo à parte na mais intrigante história policial do Amazonas

Vítima de Covid-19, o ex-militar Felipe Arce foi uma das personagens mais controversas no famoso 'Caso Wallace', que marcou a história do jornalismo policial no Amazonas (Euzivaldo Queiroz/ A Crítica)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Morreu no último sábado, 16, Felipe Arce. O militar era ex-coronel do alto comando da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), quando foi condenado em 2017 pelo crime de ocultação de cadáver, corrupção passiva, receptação dolosa e colaboração com o tráfico de entorpecentes. Arce era peça-chave do processo que ficou mundialmente conhecido como ‘Caso Wallace’. O imbróglio gerou uma das séries documentais mais assistidas em 2019 na Netflix.

Coronel Arce foi arrolado em um processo que culminou com a produção da série ‘Bandidos na TV’, da Netflix (Bandidos na TV – Netflix 2019). A série desdobrou os bastidores do programa policialesco manauara comandado pelo deputado estadual Wallace Souza. A série levou ao ar as peripécias do apresentador/deputado Wallace Souza, que, como paladino da Justiça, estava sempre um passo à frente da polícia na elucidação de crimes da “Operação Centurião” em Manaus.

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De acordo com o Ministério Público do Amazonas (MP-AM), Wallace na verdade era quem mandava construir os assassinatos, para depois publicá-los em seu programa de TV, o ‘Canal Livre’, exibido à época pelo canal Band. As apurações apontaram ainda que Arce dava suporte a Wallace e tramou a morte da juiza Jaíza Fraxe que virou alvo do grupo por sua atuação na “Operação Centurião”, que prendeu em 2005 o próprio coronel Arce, apontado como o segundo homem da quadrilha de Wallace.

Condenação

Mesmo com inúmeras provas, o ex-coronel só foi condenado em 2017 pelo homicídio do policial civil Santos Clidevar Lima. A Arce foi imputada a pena de 33 anos e oito meses de prisão. O crime ocorreu em 2004, quando o condenado comandava a Divisão de Inteligência da PM. À época, o júri acatou a tese da promotoria, condenando Arce e seu braço direito, Ivan Cheley Castro e Costa, pelos crimes de ocultação de cadáver, corrupção passiva, receptação dolosa e colaboração com o tráfico de entorpecentes.

O crime foi cometido no dia 2 de março de 2004, mas só foi descoberto em 2005, na “Operação Centurião”, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Conhecido pela Polícia Federal como traficante internacional de drogas, o ex-policial civil Santos Clidevar de Lima foi sequestrado, algemado, morto e enterrado, clandestinamente, no Ramal do Toco, nas proximidades do KM 28 da BR-174.

Por sua atuação controversa e as provas irrefutáveis, Felipe Arce serve de pesquisa em um dos casos mais intrigantes da história policial do Amazonas. “Sua morte por Covid-19 faz parte de uma estatística triste, no entanto, sua atuação como agente de segurança do Estado nos faz refletir o quanto é preciso reforçar os mecanismos de fiscalização dessas forças que devem estar a serviço da população e não contra ela”, declarou a diretora-executiva da REVISTA CENARIUM, Paula Litaiff, que à época cobriu como repórter o ‘Caso Wallace’.   

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