CPT cobra reforma agrária em meio a assassinato de camponeses na Amazônia Legal

'Massacre de Guapoy' (Reprodução/Arquivo dos Povos Guarani e Kaiowá)
Jefferson Ramos – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – A Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), denunciou uma série de assassinatos de trabalhadores sem terra e de indígenas ocorridos desde o dia 27 de outubro nos Estados do Maranhão, Pará, Pernambuco e Paraíba. Pará e Maranhão integram a Amazônia Legal, composta por nove Estados brasileiros.

Em nota divulgada na terça-feira, 14, a CPT cobrou que os responsáveis pelos assassinatos sejam punidos e que as Secretarias Estaduais de Segurança Pública (SSPs) tenham postura mais imparcial “dada a sua competência para investigação”.

Familiares transportam corpo de morto durante ação da Polícia Militar (Divulgação/Aty Guasu)

Para a comissão, é urgente a realização de reforma agrária ampla e efetiva e demarcação de territórios no País. “Inúmeras são as comunidades que aguardam há anos a concretização de seu direito legítimo de acesso e permanência em seus territórios, estando como que refugiadas em seu próprio País”, condenou a organização.

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Conflito

A CPT aponta que no Maranhão, no último fim de semana, três trabalhadores rurais residentes no Território da Travessia do Mirador foram detidos por policiais do Batalhão Florestal, “acusados injustamente por crimes ambientais enquanto estavam trabalhando em suas roças”.

A Comissão Pastoral alerta ainda que a atuação de milícias rurais a mando de fazendeiros tem se intensificado no Maranhão. “Na sexta-feira, 10, um grupo com 10 milicianos invadiu o Povoado São Francisco, localizado em Barra do Corda, sem ordem judicial, em uma operação ilegal e criminosa, resultando na morte de um deles. Outros dois milicianos foram baleados e socorridos, enquanto outros sete foram resgatados por policiais e presos em flagrante”, denuncia a nota.

Cruzes sinalizam mortos por conflito no campo (Reprodução/EBC)

No Pará, o indígena Agnaldo da Silva, da etnia Turiwara, foi brutalmente assassinado e outros dois indígenas ficaram feridos por seguranças privados da empresa Agropalma, quando se dirigiam para a floresta em busca de alimentos.

Na tarde do sábado, 11, Ana Paula Costa Silva e Aldecy Vitunno Barros, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra foram alvejados no acampamento Quilombo do Livramento, Sítio Rancho Dantas, no município de Princesa Isabel, Sertão da Paraíba.

No dia 5, Josimar da Silva Pereira, trabalhador rural sem-terra e acampado em área de conflito agrário havia sido assassinado em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata de Pernambuco.

Amazonas

Reportagem publicada na versão impressa da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA do mês de setembro denunciou a repressão contra lideranças indígenas e de comunidades tradicionais realizada por pessoas ligadas à empresa Eneva S/A, responsável pela Usina Termelétrica Azulão, na Bacia do Amazonas.

Segundo denúncia de povos originários e da própria CPT, indivíduos não identificados, com armas em punho, verbalizaram ameaças de morte a lideranças indígenas.

Cruzes marcam memória de vítimas do conflito agrário (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

A denúncia se baseia em relatos e registros feitos pelas próprias lideranças, segundo a CPT, que acompanha o conflito entre as populações da região e a empresa. Conforme a comissão, há, ao menos, cinco lideranças ameaçadas de morte até o momento. O empreendimento impacta, diretamente, populações tradicionais nos municípios de Silves e Itapiranga, no Amazonas.

Eles queimaram minha casa”, disse uma das lideranças ameaçadas ouvida pela reportagem, que teve sua identidade preservada por questões de segurança.

No dia 16 de agosto deste ano, quando membros da comissão chegavam à Comunidade Aldeia Gavião Real, em Silves, para fazer o mapeamento das aldeias, as lideranças os informaram que uma caminhonete branca, modelo Amarok, com homens que se identificaram como funcionários da Eneva, havia acabado de sair da localidade e que estavam à procura do cacique da aldeia.

Leia mais: Campo do Azulão: povos tradicionais e CPT denunciam Eneva por ameaças de morte
Revisado por Adriana Gonzaga
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