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Crise climática põe em risco a polinização de culturas essenciais como café e cacau
Abelha coleta néctar das flores de uma árvore de lichia na vila de Sujanpur, na Índia (Narinder Nanu - 8.abr.2021/AFP)
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30 de outubro de 2023
Da Revista Cenarium Amazônia*
MANAUS – Algumas das principais lavouras tropicais do mundo, incluindo os cafezais e cacaueiros do Brasil, correm risco de ficar sem os insetos que polinizam suas flores por causa da crise climática. A abundância desses animais, cuja presença é essencial para a produção de uma grande variedade de frutos, pode cair para menos da metade num planeta mais quente, calcula um novo estudo.
Segundo a pesquisa, publicada recentemente no periódico Science Advances, os países cuja produtividade agrícola tem mais chance de ser afetada são, além do Brasil, a China, a Índia, a Indonésia e as Filipinas. Frutas como a manga e a melancia estão na lista das que podem sofrer com a falta de polinizadores, ao lado do cacau e do café.
Coordenado por Joseph Millard, do Museu de História Natural de Londres, o estudo também é assinado por Luísa Carvalheiro, da Universidade Federal de Goiás, e Felipe Deodato da Silva e Silva, do Instituto Federal de Mato Grosso.
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Os pesquisadores cruzaram dados sobre 2.673 localidades do planeta e 3.080 espécies de insetos polinizadores. Carregar pólen de uma flor para outra, um “trabalho” desempenhado por animais como abelhas, besouros, borboletas e muitos outros, é um passo essencial para a reprodução de muitas plantas que não são capazes de fecundar a si mesmas.
No estudo, a equipe avaliou o que aconteceria em dois cenários diferentes —aumentos de temperatura de 1,5°C e 3°C (em relação às temperaturas médias antes do uso de combustíveis fósseis no mundo) até o fim deste século. Usaram modelos matemáticos para prever como os polinizadores responderiam a essas mudanças, levando em conta os habitats em que vivem hoje. Nos trópicos, onde o calor já é elevado, essas mudanças tendem a ser mais severas para o funcionamento do organismo dos insetos.
Embora ainda não haja certeza sobre como a diminuição da abundância de polinizadores pode afetar uma lavoura —seria possível, por exemplo, que um número bem menor de indivíduos “tapasse o buraco” dos que sumiram?—, o cenário é preocupante.
É possível, por exemplo, que pareça estar tudo bem com a polinização até um certo limiar da presença dos polinizadores —até 40% dos que existem hoje, digamos—, mas a perda de mais 1% dos remanescentes seria suficiente para fazer o mecanismo colapsar de repente.
“E essa mudança rápida pode ser ainda mais acentuada no caso de plantas que dependem de polinizadores com características muito específicas”, disse Luísa Cavalheiro à Folha. “Por exemplo, o tomate e o pimentão precisam ser visitados por abelhas que tenham capacidade de vibração para que efetivamente ocorra a polinização. Já o maracujá precisa de abelhas bem grandes, e essas são as que mais vão sofrer com o aquecimento global.”
Como a perda de polinizadores tem sido impulsionada também pelo uso de agrotóxicos e perda dos habitats naturais dos insetos, o problema já tem levado agricultores a recorrer à polinização manual, realizada por seres humanos. É o caso de plantios como os de maçã, maracujá, tomate e baunilha.
“No entanto, os polinizadores fazem o seu trabalho gratuitamente, enquanto a polinização manual requer mão de obra humana, o que leva a um aumento de custos”, diz a pesquisadora.
“Outra prática que é cada vez mais usada é o aluguel de caixas de abelhas, cujo preço tem subido cada vez mais. Além de trocarmos, do mesmo, um serviço gratuito por algo pago, o número de espécies manejadas nesse sistema é pequeno —a abelha europeia Apis mellifera é a mais comum. Mas, para muitas culturas, essas espécies não têm os atributos adequados para atuar como polinizadoras”, explica.
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