Delegação brasileira na COP26 era apenas 6% de pessoas negras; 6,17% dos 665 representantes

Os dados indicam maioria de pessoas brancas, representadas em 75,04%, para 0,6% de pessoas amarelas e 4,06% indígenas (Reprodução)
Da Revista Cenarium*

BAHIA – As listas oficiais da 26ª Conferência das partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, Escócia, demonstram a desigualdade racial existente no debate sobre meio ambiente e clima no Brasil. De acordo com levantamento da Alma Preta, 6,17% dos 665 representantes brasileiros da última Conferência do Clima eram pessoas negras.

Os dados indicam maioria de pessoas brancas, representadas em 75,04%, para 0,6% de pessoas amarelas e 4,06% indígenas. A metodologia utilizada pela Alma Preta Jornalismo no levantamento foi a pesquisa em redes sociais e sites públicos dos participantes e a utilização da heteroidentificação para descrever os brasileiros que foram à conferência. O documento não apresenta a autodeclaração dos membros da delegação e a reportagem não localizou 14,14% dos participantes, que ficaram sem uma identificação racial.

Protesto durante realização da COP26 (Reprodução)

A ativista climática e articuladora do PerifaSustentável Amanda Costa explica que a COP é um espaço embranquecido, porque grande parte das demandas ambientais ainda são tratadas de forma elitizada por uma comunidade epistêmica formada por cientistas, acadêmicos, figuras públicas e outros tomadores de decisão. Essas pessoas, muitas vezes, não estão na base e não partiram de um lugar de vulnerabilidade social.

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“Essas pautas ficam esbranquiçadas e vão se distanciando da sociedade brasileira, mas quando a gente analisa criticamente, percebemos que a periferia, as comunidades, as pessoas racializadas, ou seja, pessoas pretas, indígenas e quilombolas, já lidam com as pautas socioambientais, diariamente. Por conta do racismo, a gente vai sendo distanciado desses espaços apesar de vivenciar o desafio”, pontua a ativista climática.

Os dados desagregados por raça e gênero sinalizam para a hegemonia de homens brancos, que representaram 46,92% do total de participantes. As mulheres brancas foram 28,12% das integrantes da delegação no maior evento sobre clima e meio ambiente do mundo.

As presenças de 3,01% de homens negros e 3,15% de mulheres negras e 1,35% de homens indígenas e 2,71% de mulheres indígenas mostram as dificuldades de acesso de determinados grupos ao encontro. O documento não faz nenhuma indicação sobre a participação de pessoas trans ou não binárias, porém, conforme apurado em matéria anterior da Alma Preta, havia uma mulher trans na delegação brasileira que foi à COP26.

Ativistas na mobilização liderada pelo Fridays for Future, em Glasgow, na Escócia, durante a COP26 (Marie Jacquemin/Greenpeace)

A reportagem também desagregou os dados da delegação oficial do Estado brasileiro e da sociedade civil. No primeiro caso, a composição de negros não passa de 4% e de indígenas não chega a 1%. Nas organizações observadoras brasileiras (pessoas de ONGs, sociedade civil, organizações intergovernamentais e órgãos do secretariado das Nações Unidas), a mudança da fotografia geral é a ligeira maior participação de mulheres brancas, 88 pessoas, em comparação aos 84 homens brancos identificados.

No documento da sociedade civil, está registrada a presença de quatro integrantes da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). A expectativa é de que o grupo participe da COP27 com 11 pessoas e consiga garantir a ideia de que os povos quilombolas também são protetores das florestas, como conta Biko Rodrigues, coordenador do movimento.

“As comunidades quilombolas estão em todos os biomas brasileiros e são muito importantes para a preservação da biodiversidade, fazem as fronteiras e impedem o agronegócio de se consolidar no campo brasileiro e, ainda, tem pago um preço muito alto com relação a isso, inclusive, com sangue e com algumas vidas de companheiros e companheiras”.

Os dados por Estados demonstraram as diferenças de participação regional no Brasil. De acordo com a apuração, entre os integrantes da delegação oficial, 106 eram do distrito federal, ou seja, 25,98%. A maior discrepância ocorreu na sociedade civil e organizações observadoras, com a delegação de São Paulo, com 26,85% dos presentes e do Rio de Janeiro, com 12,45%.

(*) Com informações do Portal Alma Preta
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