Desmatamento acumulado de janeiro a setembro na Amazônia é o pior pela quinta vez consecutiva

(Araquém Alcântara/WWF-Brazil)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Os últimos quatro anos têm sido os mais devastadores para a biodiversidade amazônica, de acordo com os novos dados divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Só no último mês de setembro, a floresta perdeu 1.126 km² para o desmatamento e o acumulado, a contar de janeiro, superou 9 mil km²; uma ferida equivalente a oito vezes a capital do Rio de Janeiro.

O patamar, além de ser o pior dos últimos 15 anos, revela que este é o quinto recorde consecutivo para o acumulado dos primeiros nove meses de cada ano, visto que os indicadores para igual período começaram a ultrapassar a média de 3.500 km² a partir de 2018, gerando grande preocupação aos pesquisadores. 

“Pelos dados atuais, a provável consequência desse ritmo de aumento vai ser mais um recorde negativo ao final do ano de 2022. E o que já deve nos preocupar bastante, já que no ano passado, nós já tivemos a maior área devastada nos últimos 14 anos”, alerta a pesquisadora do Imazon Bianca Santos. 

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O Imazon alerta para os riscos à saúde humana, além da destruição do bioma, gerados pelas queimadas (Christian Braga/Greenpeace)

Entre janeiro e setembro de 2008, quando o instituto passou a monitorar a floresta, foram pouco mais de 2 mil km² de mata perdidos para o crime ambiental. Daí, houve redução dessas taxas até 2013. Voltou a subir em 2014 e desacelerou em 2017. No entanto, o estrago se tornou cada vez maior, a partir do ano seguinte, e se mantém numa alarmante tendência de crescimento.

Os acumulados de desmatamento para os primeiros nove meses de cada ano têm sido mais elevados desde, pelo menos, 2018 (Thiago Alencar/CENARIUM)

Santos ressalta que os altos níveis de devastação ameaçam não só a fauna, mas também os povos e comunidades tradicionais da Amazônia Legal e a vida humana, de forma geral, “já que a floresta derrubada impacta no aumento das emissões dos gases de efeito estufa, que são os grandes responsáveis pelas mudanças climáticas e os eventos extremos, além de não gerar nenhum desenvolvimento para a região, como muitos estudos já tem apontado”, explicou à reportagem. 

Estados recordistas

Pará, Amazonas e Acre lideram o ranking de destruição. Juntos, foram responsáveis por quase 80% da destruição ocorrida em setembro deste ano. Quase a metade do desmatamento de toda a Amazônia, naquele mês, foi observada no Pará: mais de 500 km². Já o Acre, apesar de ter desmatado menos que os Estados vizinhos, teve destaque para o avanço das ilegalidades em áreas protegidas. 

“Apesar de ser um Estado menor em área, o Acre vem ocupando as primeiras colocações entre os Estados que mais desmatam a Amazônia Legal”, diz a também pesquisadora do Imazon Raissa Fernanda Ferreira. 

“Esse Estado foi responsável por 140 quilômetros quadrados de derrubada de florestas, e tem avançado até em áreas que, por lei, são protegidas, com destaque para a Reserva Extrativista Chico Mendes, que concentrou 18% de todo o desmatamento ocorrido no Estado, liderando o ranking de Unidades de Conservação que mais foram desmatadas em setembro”, acrescentou a especialista. 

Desmatamento em setembro deste ano só foi menor que o registrado em 2021, nesses últimos anos (Thiago Alencar/CENARIUM)

Na mira da destruição, além das Reservas Extrativistas (Resex) e das Unidades de Conservação (UCs), também estão as Terras Indígenas (TIs), como foi o caso do território Apyterewa, no Pará, que, sozinho, sofreu quase metade da devastação detectada no último mês, em limites destinados a povos originários.

O Imazon também aponta que a derrubada de florestas é mais expressiva em áreas ainda sem destinação específica, o que as deixa mais vulneráveis à ação de grileiros. Isso acontece, segundo o instituto, especialmente, nos municípios que fazem parte da ‘Amacro’, uma fronteira agrícola entre Amazonas, Acre e Rondônia.

Regiões mais próximas da fronteira agrícola conhecida como ‘Amacro’ estão mais suscetíveis à ação de grileiros, aponta Imazon (Thiago Alencar/CENARIUM)

Degradação acelerada

O novo alerta do Imazon ainda revela que não foi apenas o desmatamento que aumentou. Também disparou a degradação da Floresta Amazônica, que ocorre quando há exploração de madeira ou parte da vegetação é afetada pelo fogo. 

O aumento é de 359%, cinco vezes mais do que em setembro de 2021, e quase a totalidade desse dano ambiental, 96%, foi causada pelos Estados de Mato Grosso e Pará.

Degradação da floresta, causada pela extração madeireira e limpeza de pastos por queimadas, aumentou mais de 300% (Reprodução)

Bianca Santos alerta que grande parte da degradação florestal detectada no mês passado se deu pela ocorrência de queimadas que começam, muitas vezes, “como uma limpeza de área”. “Considerando que nós estamos em um período mais seco para a Amazônia, essa prática, infelizmente comum, se torna ainda mais perigosa, com risco do fogo se espalhar para a floresta, que é o que vem ocorrendo em muitos casos”, lamentou a pesquisadora. 

“Vale lembrar, também, que essas queimadas são prejudiciais de inúmeras formas, pois além de aumentar as emissões de gases, elas também oferecem um risco à saúde pública e já existem diversos estudos que associam a fumaça proveniente das queimadas com problemas respiratórios, além de não se limitar apenas à população da Amazônica, visto que essas partículas podem viajar por quilômetros de distância e chegar em regiões por todo o Brasil”, disse ainda.

Para a pesquisadora Raissa Ferreira, as fiscalizações efetivas estão em falta. “Para reduzir esses números, é necessário a intensificação de ações de fiscalização, principalmente, em áreas que apresentam nível crítico de derrubada da floresta, além da identificação dos responsáveis e execução dos embargos dentro dessas áreas desmatadas ilegalmente”, sugeriu. “É importante, também, o posicionamento dos governantes, sejam federais ou estaduais, a favor das pautas ambientais e que reafirmem o compromisso com a preservação do meio ambiente, dos povos e comunidades tradicionais da floresta”, concluiu.

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