DIREITA x ESQUERDA: Especialistas avaliam prós e contras da alternância para a democracia

Arte: Mateus Moura
João Felipe Serrão – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – No último domingo, 19, a Argentina elegeu o ultradireitista Javier Milei (A Liberdade Avança) para suceder o atual presidente peronista Alberto Fernández, do partido Frente de Todos, uma coalizão de esquerda. Na avaliação de cientistas políticos, a alternância de poder é um dos principais preceitos do regime democrático, mas, embora seja saudável para a democracia, este fenômeno pode gerar uma descontinuidade em políticas importantes, trazendo retrocessos.

É a alternância no poder que garante que correntes políticas de diferentes espectros possam se revezar na governança dos países, evitando a perpetuação de apenas um dirigente nas decisões que impactam a vida em sociedade.

A palavra “democracia” é oriunda do grego, da junção das palavras “demos” = povo e “kratos” = poder, que pode ser traduzido como “governo do povo”.

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Alberto Fernández e Javier Milei se encontram na Casa Rosada, sede da presidência da Argentina. Foto: Divulgação/Presidência da Argentina

De acordo com o cientista político Helso Ribeiro, a alternância no poder é fundamental para refletir a diversidade de pensamentos que circulam em uma sociedade.

“O povo não é unitário. É bom que o poder não se concentre na mão de apenas uma pessoa. A própria ideia de república já demanda isso: uma troca de poder. Se fosse hereditário ou vitalício, seria uma monarquia”, destacou Helso.

Para ele, a alternância de poder é resultado de um princípio democrático: a soberania popular. A troca de governantes não ocorre por conta do conceito da alternância, mas sim pela supremacia da vontade popular. É a população que decide se os governantes devem ou não continuar no poder.

O analista político Helso Ribeiro (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)
Ponto negativo

Apesar dos benefícios, há algumas problemáticas na alternância de poder que podem comprometer o avanço de políticas públicas em um país. Na avaliação de Helso Ribeiro, muitas vezes a troca de poder faz com que o governante eleito ignore os ganhos obtidos anteriormente.

“Certos governantes, por não terem uma visão estadista, acabam não dando continuidade ao trabalho de governos anteriores. Não tem como ignorar o que o outro fez e começar de novo. Assim você não progride de fato”, pontuou Helso.

Direita x Esquerda

Direita e esquerda são os dois espectros políticos e ideológicos universalmente estabelecidos que costumam disputar as intenções de votos em eleições. Há muitas diferenças entre os dois pontos de vista na forma de se conduzir uma sociedade.

Leia também: Em Manaus, 40,8% da população se identifica como extrema direita e direita

O sociólogo e professor Luiz Antônio Santana avalia que governos de esquerda tendem a utilizar o aparelho do estado para assistir à população mais vulnerável.

“A esquerda defende que a riqueza produzida por uma sociedade deve ser usufruída por todos, distribuindo essa riqueza a partir de políticas públicas na área de saúde, educação, lazer, transporte, de forma que as pessoas tenham acesso de forma gratuita e universal”, destacou Luiz.

Para o sociólogo, a direita pensa o contrário, e costuma utilizar o Estado para proteger os donos da riqueza.

“Por isso que eles utilizam a polícia para reprimir manifestações grevistas e proteger terras improdutivas contra aqueles que lutam pela reforma agrária. A extrema-direita defende o aprofundamento da acumulação da riqueza de poucos, blindando essa riqueza contra a maioria da população que cada vez mais fica excluída desse processo”, apontou Luiz Antônio. 

O sociólogo Luiz Antônio Santana (Foto: Divulgação)
Diversidade de ideologias

Pra além de esquerda e direita, existem muitas divisões que caracterizam formas distintas de enxergar o papel do Estado e os direitos dos cidadãos. Alguns grupos que costumam ser considerados de esquerda são: progressistas, ambientalistas, social-democratas, sociais-liberais, libertários-socialistas, comunistas e anarquistas.

Já na direita, é possível encontrar os capitalistas, neoliberais, conservadores, econômico-libertários, anarcocapitalistas, neoconservadores e nacionalistas.

Defesa da democracia

No livro “Como as democracias morrem”, os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt mostram que às vezes governantes se utilizam da própria democracia para destruí-la. 

Muitas vezes são líderes populistas, que utilizam como estratégia de comunicação discursos fáceis de serem entendidos e circulam rapidamente pela sociedade. Outra característica são soluções simples para problemas complexos. 

Livro lançado em 2018 reflete sobre como democracias tradicionais entram em colapso. (Foto: Divulgação)

Normalmente, após serem eleitos no sistema democrático, essas figuras autoritárias passam a questionar as regras, pondo em dúvida o processo eleitoral e atacando instituições, para que apenas eles decidam sobre as regras. 

O cientista político Helso Ribeiro afirma que há um jeito de se proteger desse fenômeno: radicalizando a democracia. Segundo ele, o cidadão costuma acreditar que seu trabalho acaba quando se finaliza uma eleição.

“É fundamental pegar essa balança de democracia representativa e colocar do outro lado da balança a participação cidadã, a democracia participativa. O cidadão tem que desenvolver a consciência de que deve continuar fiscalizando e participando dos processos políticos”, pontuou Helso.

Edição: Yana Lima

Revisão: Gustavo Gilona

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