‘Dividir COP30 em dois Estados dispersa sociedade civil’, apontam especialistas

Mercado Ver-O-Peso em Belém (UFPA)
Raisa Araújo – Da Revista Cenarium

BELÉM (PA) – Na semana que antecedeu a visita do presidente francês, Emmanuel Macron e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à Belém, o local que sediará a COP30, que acontece em 2025 no Brasil, foi mais uma vez tema de discussão entre os veículos do Sudeste do Brasil. Os veículos reforçam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considera transferir parte da COP-30 de Belém para outra cidade brasileira devido a preocupações com a capacidade hoteleira e a infraestrutura da capital paraense, que podem não estar prontas até novembro do próximo ano. 

De acordo com notícias, a proposta discutida por auxiliares de Lula – que não são identificados – envolveria concentrar em Belém apenas as agendas dos chefes de Estado e das principais autoridades, enquanto outros eventos seriam realocados para cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, que possuem infraestrutura mais consolidada. 

A viagem do presidente da França ao Brasil começou com uma visita à Amazônia, onde o foco principal era abordar assuntos relacionados à bioeconomia local e à realização da COP na região. No decorrer do encontro, os líderes francês e brasileiro revelaram um plano destinado a aplicar 1 bilhão de euros no desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia brasileira e na Guiana, um território ultramarino francês situado na América do Sul.

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Para a socioambientalista, diretora presidente da ONG Mandí, Mariana Guimarães, dividir o evento em dois Estados pode ser perigoso, pois irá dispersar a sociedade civil e impedir que esses atores sociais participem das discussões do evento.

“Se a gente divide, a gente também dispersa os esforços para chegar em uma ambição maior dos países. Porque, no final das contas, acho que é isso que a gente quer, que os países tenham mais compromisso, ações efetivas e financiamento para fazer essas ações. Então, acho que é importante manter as coisas concentradas”, comentou, Mariana. 

Como funciona uma COP 

Mariana Guimarães, que participou da COP-28, que ocorreu em Dubai, nos Emirados Árabes, em 2023, explicou que o espaço do evento acontece em duas principais “Zonas” na cidade, chamadas de Green Zone e Blue Zone. As negociações principais ocorrem na “Blue Zone”, exigindo credenciamento para acesso. Os representantes dos países se reúnem para discutir questões críticas, incluindo as reuniões ministeriais e diplomáticas. A sociedade civil também tem a oportunidade de participar como observadora, mediante credenciamento.

Já a “Green Zone” oferece um espaço mais aberto ao público, onde a conferência é realizada, incluindo elementos culturais e exposições artísticas. Dentro deste ambiente, os pavilhões dos países e temas específicos são destaque, permitindo uma abordagem diversificada das questões climáticas. Mas para além das discussões formais dentro da ONU, as COPs geralmente abrigam uma série de eventos paralelos, nas cidades sedes, envolvendo a sociedade civil e o setor privado, ampliando ainda mais o escopo do debate e da ação climática.

Posicionamento do Governo Federal 

Para acabar com as especulações, que circulam na imprensa desde janeiro de 2024, sem que os veículos nomeiem as fontes em questão, o Governo Federal reafirmou, em nota, que a 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP-30) será realizada em Belém-PA, em novembro de 2025, conforme definido pela ONU.

“É compromisso desta gestão que a capital paraense sedie a conferência e disponha de infraestrutura e logística adequadas para receber o maior evento de discussão climática do mundo”, destacou a nota. 

Para fechar a semana e encerrar o debate sobre a troca da sede do evento, o presidente Lula assinou decreto que institui a Secretaria Extraordinária para a COP-30 (11.955, 19/03/24). A secretaria de organização da COP30 está vinculada à Casa Civil, a Secretaria Extraordinária coordenará a preparação para que a Amazônia, em Belém (PA), receba a conferência do clima da ONU.

Para a socioambientalista, Mariana, todas essas especulações sobre a transferência da COP para outro Estado fora da região amazônica, mesmo que parcialmente, é uma forma de fragilizar o protagonismo da região, dos Amazônicos e dos movimentos sociais, que são muito atuantes. 

“A gente sofreu uma seca no passado terrível, agora está acontecendo lá um problema em Roraima com muita fumaça. Belém mesmo não chove mais como antes, mesmo a gente estando no inverno amazônico. Então, se a gente está no centro do debate, a gente quer falar da Amazônia em primeira pessoa, a gente quer ‘amazonizar’ o debate climático”, finalizou. 

Leia mais:  Belém, sede da COP30, está entre as dez cidades com piores índices de saneamento do Brasil
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