EDITORIAL – Visibilidade e reconhecimento, por Paula Litaiff

Edel Nazaré Santiago de Moraes foi escolhida para ser capa da REVISTA CENARIUM não pelo cargo que ocupa, hoje, no Ministério do Meio Ambiente, mas por sua história em movimentos sociais no Estado do Pará e renúncia ao convívio familiar, pela luta em prol da visibilidade das pessoas que vivem nas comunidades tradicionais brasileiras e que, muitas vezes, pagam com a própria vida o preço pela sobrevivência dos biomas.

A trajetória de Edel foi visibilizada, principalmente, a partir de sua entrada na Esplanada dos Ministérios e revela uma história de dor, mas de êxito, considerando a sua formação. Edel conseguiu, seja pelas oportunidades que teve, seja pela inspiração de seus pais militantes sociais. Iguais a ela, há milhares de indivíduos que não têm alternativas e vivem à margem de uma sociedade cada vez mais líquida nas relações e apática às demandas ambientais.

Em meio a uma crise climática mundial e sem mecanismos factíveis para frear o aquecimento global estão os povos tradicionais. São 27 povos reconhecidos e mais de 4,5 milhões de pessoas, ocupando 25% do território nacional. Questiona-se: “é muita terra para pouca gente?” Esse tipo de pergunta tem origem na construção de um País que valoriza a selvageria do mercado e desconhece a função desses povos na manutenção das florestas e de toda a sua diversidade.

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Na tentativa de explicar obviedades, é preciso lembrar ainda que a função das comunidades tradicionais pode ser reconhecida no consumo do cotidiano, no famoso açaí, no peixe, na farinha. Em suma, na contribuição direta para o desenvolvimento econômico nacional.

Invisibilizados, eles são discriminados por sua cultura, pelo seu formato de produção, de convivência social em função da falta de acesso à informação da maioria da população e, com isso, cria-se resistência ao reconhecimento. Falha-se no ato de julgar a cultura do outro baseado nas suas próprias crenças, moral, leis, costumes e hábitos (Lévi-Strauss).

Edel Moraes tem uma difícil missão pela frente: a de combater o etnocentrismo, de descortinar o olhar de uma sociedade ensinada erroneamente que o Brasil foi “descoberto”, e não ocupado, e que preservar a floresta é, acima de tudo, preservar quem está nela. É desconstruir para construir.

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM do mês de março de 2023. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.
(Reprodução)
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(*)Graduada em Jornalismo, Paula Litaiff é diretora executiva da Revista Cenarium e Agência Amazônia, além de compor a bancada do programa de Rádio/TV “Boa Noite, Amazônia!”. Há 17 anos, atua no Jornalismo de Dados, em Reportagens Investigativas e debate de temas sociais. Escreveu para veículos de comunicação nacional, como Jornal Estado de S. Paulo e Jornal O Globo com pautas sobre Amazônia. Seu trabalho jornalístico contribuiu na produção do documentário Killer Ratings da Netflix.

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