EDITORIAL – Voto consciente pela democracia, diversidade e inclusão

Por Paula Litaiff

Fundada na internet em 15 de abril de 2020, em meio à pandemia da Covid-19, a REVISTA CENARIUM participa, pela primeira vez, de uma eleição presidencial e tem um lado: o da democracia, da diversidade e da inclusão.  

A REVISTA CENARIUM, desde a sua criação, buscou trabalhar esses três princípios como temas basilares de seu jornalismo, tendo como foco a Amazônia e seus povos. No dia 2 de outubro, reafirmamos o compromisso com a nossa gênese.

Com base nos princípios que defende e na imprensa técnica e apurativa, elencamos oito razões elementares pelas quais a REVISTA CENARIUM se coloca contrária à reeleição do candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PL).   

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1. Antidemocracia

Neste ano, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) publicou a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros pela Democracia” após o presidente da República atacar e fomentar o ódio ao Supremo Tribunal Federal (STF)  

O artigo 2º da Constituição afirma que os três Poderes da República devem ser “independentes e harmônicos”. Toda vez que Jair Bolsonaro provoca desarmonia entre os Poderes, ele ameaça a democracia, conforme apontam especialistas.

Bolsonaro reuniu, há dois meses, embaixadores de diversos países para reproduzir informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação com o objetivo de desacreditar a votação direta. As acusações não possuíam nenhuma comprovação.

Ao longo de toda sua vida política, Bolsonaro enalteceu o regime militar brasileiro, que foi uma ditadura. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) reconheceu mais de 400 mortes e desaparecimentos políticos e jornalistas ocorridos durante a ditadura militar.

2. Racismo

Com mais de 50% de pardos e pretos, uma vasta cultura e religião, o Brasil é o País da diversidade, mas o presidente é preconceituoso e/ou avesso a esse conhecimento.

Antes de assumir a Presidência, Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria e condenado pela Justiça de primeira instância por afirmar que visitou uma comunidade quilombola e que “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas” e que “nem para procriador ele serve mais“. A acusação da PGR foi rejeitada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2018.

Neste ano, ele usou a mesma expressão racista durante conversa com apoiadores no “cercadinho” do Palácio do Alvorada. “Conseguiram te levantar, pô? Tu pesa o quê, mais de sete arrobas, não é?”, disse ele a um homem negro. 

Ainda sobre racismo, Bolsonaro vetou a uma campanha publicitária do Banco do Brasil estrelado por atores negros e brancos, numa representação da diversidade racial e sexual do País. O episódio também envolveu a saída do diretor de Comunicação e Marketing do banco.

3. Preconceito

Em uma clara discriminação às religiões de matrizes africanas, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Pastor Marco Feliciano (Republicanos -SP) compartilharam em uma rede social uma publicação que associa as religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, às “trevas”.

O vídeo mostra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante um ritual, realizado no ano passado, em Salvador. “Isso pode, né? Eu falar de Deus, não”, escreveu a mulher do presidente Jair Bolsonaro, que não foi rebatida pelo marido.

4. Homofobia

No dia 16 de junho de 2011, o então deputado Jair Bolsonaro deu uma entrevista para a revista Playboy e disse: “Prefiro que morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim, vai ter morrido mesmo”, afirmou a declarar preferir um filho morto a ser gay. 

A declaração homofóbica de Bolsonaro marcou a gestão presidencial que em momentos difíceis associava a homossexualidade à fraqueza. Na pandemia, para tentar justificar a sua incompetência e omissão com a mortes de milhares de pessoas (foram mais de 600 mil), Bolsonaro declarou que o Brasil não era um País de “maricas” para “não suportar uma gripezinha”, termo ao qual ele se referia à Covid-19, até então, sem vacina, à época.

 5. Misoginia

Condenado judicialmente por dizer que não “estupraria” uma mulher por ela ser “feia” e que “fraquejou” ao ter uma filha do sexo feminino, Jair Bolsonaro cortou dois terços das ações que beneficiam mulheres no Orçamento e que tiveram cortes na proposta para 2023. Nos casos mais expressivos, a tesourada representa 99% do que havia sido reservado inicialmente em 2022.

Os dados foram reunidos pela Folha e usados na lista de iniciativas consideradas pelo próprio governo na formulação do chamado Orçamento Mulher, uma relação de políticas públicas que exercem impacto nos direitos da população feminina do País.

6. Pobres

Em reunião realizada com membros do gabinete de Bolsonaro em abril deste, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez declarações, sem saber que estava sendo gravado, nas quais apontou a aversão do governo aos pobres.

O ministro ultraliberal fez críticas contra o programa do Fies e quem conseguisse acesso por esta via, argumentando que o filho de seu porteiro, que zerou o vestibular, foi bancado pelo programa para entrar numa universidade. De uma forma totalmente preconceituosa, ele se queixou que o governo federal concedeu bolsas universitárias para “todo mundo” e para pessoas sem a “menor capacidade” e que “não sabia ler, nem escrever”. 

Paulo Guedes, também, foi o autor da frase discriminatória contra as empregadas domésticas na associação ao poder aquisitivo para viagens. “Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Vamos importar menos, fazer substituição de importações, turismo. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada”.

7. Negacionismo

A disseminação de fake news na pandemia da Covid-19, associando a vacina de prevenção da doença à contaminação do vírus HIV; a introdução do “Kit Covid” para “curar” o novo coronavírus, sem qualquer comprovação; o contingenciamento bilionário de recursos para as universidades federais e centro de pesquisas são apenas alguns dos pontos que fizeram o Governo Bolsonaro ser marcado pela maior gestão negacionista da história do Brasil.

8. Amazônia

Por omissão, ignorância e má-fé, Jair Bolsonaro acusou os indígenas e os povos tradicionais de serem responsáveis pelo desmatamento e queimadas na região amazônica. Ele declarou, por diversas vezes, que muitos dos focos detectados por satélites são na verdade “fogueiras feitas por índios e ribeirinhos”. 

Estudos da Universidade Federal do Rio Janeiro e investigações da Polícia Federal contrariam a tese presidencial. Foi constatado que grande parte desses focos surgiram em propriedades privadas (grandes fazendas) e eram de origem humana e criminosa.

O respeito e confiança na ciência, a busca pela notícia técnica e pelo jornalismo opinativo embasado fazem parte da linha de atuação da REVISTA CENARIUM, e por esses motivos, continuaremos buscando informar para formar cidadãos conscientes de suas responsabilidades e deveres na sociedade e, principalmente, na política.

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(*)Graduada em Jornalismo, Paula Litaiff é diretora executiva da Revista Cenarium e Agência Amazônia, além de compor a bancada do programa de Rádio/TV “Boa Noite, Amazônia!”. Há 17 anos, atua no Jornalismo de Dados, em Reportagens Investigativas e debate de temas sociais. Escreveu para veículos de comunicação nacional, como Jornal Estado de S. Paulo e Jornal O Globo com pautas sobre Amazônia. Seu trabalho jornalístico contribuiu na produção do documentário Killer Ratings da Netflix.

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