EDITORIAL – Viver insalubre, por Márcia Guimarães

Altas temperaturas foram registradas em todo o País. (Getty Images via BBC)

MANAUS (AM) – Imagine acordar às 5h sendo despertado pelo calor que não cede ao ar-condicionado e por um forte cheiro de madeira queimada, sentindo o gosto de fumaça na boca, a garganta coçando, tosse e dificuldade para respirar. Ao abrir a janela, a paisagem encoberta por uma névoa densa e fedida. Agora, imagine tudo isso somado à falta de água para beber e se lavar. É assim que têm passado seus dias uma boa parte dos moradores da Amazônia, no chamado “verão amazônico” deste ano.

No Amazonas, os efeitos das mudanças climáticas, impulsionados pelo El Niño, converteram a região em um cenário quase que apocalíptico, com temperaturas na casa dos 40 °C, umidade baixa, queimadas e fumaça se espalhando livremente e uma estiagem severa. Tudo ao mesmo tempo.

É como disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “comemos poeira” (até literalmente) e o tempo do aquecimento global já é passado, entramos na “era da ebulição”. O planeta está em estado de fervura, está fervendo. E nós, estamos sendo cozidos a vapor ou defumados.

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Com tantos acontecimentos climáticos ocorrendo simultaneamente no Amazonas, nada mais lógico do que o colocarmos no centro da reportagem de capa desta edição. Mas, os eventos extremos do clima não são exclusividade do Estado. Há seca no Norte e Nordeste, e ciclones e alagamentos no Sul. Há temperaturas altas onde deveria estar frio no inverno e, às vezes, faz frio onde deveria estar quente.

O clima está descontrolado e não se comporta mais como a humanidade aprendeu a lê-lo. E, nesse caso, ter o conhecimento sobre o comportamento do clima, sobre quando haverá frio, ou calor, ou quando haverá cheia e seca, está intimamente ligado a nossa sobrevivência.

A Amazônia está em ebulição. O Amazonas está em ebulição. São uma espécie de microcosmo do que ocorre em escala planetária. Resta, agora, o desafio de tentar desacelerar o processo de autodestruição engatilhado, enquanto ainda há tempo, se é que há. Reduzir a emissão de gases do efeito estufa é urgente. Estamos em um viver insalubre.

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA do mês de setembro de 2023. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

Capa da edição de setembro da Revista Cenarium Amazônia (Reprodução)
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