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Queimadas: fumaça intensifica problemas respiratórios e altera rotinas em Manaus
Nebulizar é ideal para quem tem maior irritação na mucosa, principalmente de vias superiores (nasal) (Freepik)
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13 de setembro de 2023
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS – A fumaça que cobre Manaus nas últimas semanas, originada das queimadas na capital e em outras localidades do Amazonas, impacta diretamente na saúde de quem tem problemas respiratórios e até de quem não sofre de doenças das vias aéreas. Isso ocorre porque o calor intenso desta época do ano, somado à redução da umidade do ar e à emissão de poluentes pela fumaça, provoca sintomas que vão desde tosse até irritação nos olhos, afetando a rotina de pacientes.
Uma das pessoas que sentem diretamente o impacto da fumaça é Luiz Eduardo Pereira de Araújo, de 10 anos. Ele sofre, há cerca de um mês, com tosse e falta de ar, o que já o afastou da escola por dez dias, com atestado médico.
“Eu começo a passar mal, sinto falta de ar. E se a fumaça for preta, ela deixa minha visão um pouco embaçada, aí não consigo nem enxergar direito”, conta o menino, que já passou pelo pronto-socorro pelo menos duas vezes no período e conversou com a CENARIUM no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic+) Josephina de Mello, localizado na zona Sul de Manaus, onde estava para mais uma consulta.
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A mãe, Dilse Cordovil Pereira, relata que próximo à residência onde moram, no conjunto João Paulo 2, bairro Cidade de Deus, há um ponto de queimada. Com a intensa fumaça, eles evitam ficar em casa ou precisam ficar “trancados” no quarto do imóvel.
“Quando a gente chega em casa, ele já começa a tossir, ele tosse muito. Aí a gente passa o dia todo na Cidade Nova, na casa da minha sogra, e só vamos para casa no final do dia, para dormir“, conta Dilse, afirmando que doenças respiratórias, como a asma, foram descartadas e os médicos foram categóricos: a causa dos sintomas é a fumaça. “Quando estamos em casa, a gente tranca ele no quarto, fica lá até amenizar mais a fumaça“.
A assessora de comunicação Rafaely Mendonça já sentia, desde a semana passada, o impacto da fumaça, o que intensificou seus problemas respiratórios. Ela precisou se ausentar do trabalho para ir a uma unidade de saúde, além de interromper afazeres domésticos.
“Meus olhos estão ardendo e as costas doendo. Teve um momento, durante a noite, que eu espirrava sem parar, até quase ficar sem ar”, conta. “Com os olhos ardendo e muita dor de cabeça fica difícil trabalhar. Ontem, tive o dia todo com crises, não consegui fazer nada, só espirrava o dia todo, fora que o corpo dói, não dá para arrumar a casa ou fazer trabalho doméstico porque qualquer coisa a crise volta, ou pode piorar. No meu caso, como tenho rinite, se pegar em poeira, eu pioro”.
Assim como Rafaely Mendonça, a dona de casa Deisiane Justiniano Almeida, de 36 anos, também altera sua rotina para evitar o agravamento dos sintomas. “O que eu sinto é dor na face, ardência no nariz, tosse seca e dor de cabeça. Sempre sinto isso, mas tem piorado recentemente”, completa.
Combinação de fatores
O pneumologista David Luniere lembra que, neste período, ocorre costumeiramente a redução da umidade, deixando o ar mais “seco“, com a ausência de chuvas e o aumento da temperatura. Manaus registrou o dia mais quente do ano em 6 de setembro, com os termômetros marcando 38ºC. Com a fumaça, ainda há a emissão de poluentes no ar.
“Esses dois fatos, ar seco e poluentes no ar, fazem com que ocorra uma irritação da mucosa respiratória das pessoas, fazendo com que elas apresentem alguns sintomas, como tosse, dor ou desconforto torácico, queixa de sensação de falta de ar, percepção de chiado no peito, irritação na garganta, com presença de pigarro e rouquidão. Os olhos também não são poupados, podendo apresentar lacrimejamento, irritação no globo ocular, com vermelhidão e coceira”, explica.
À REVISTA CENARIUM, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) afirmou que os focos de calor registrados em setembro – 339 em dez dias – resultaram na alta densidade de material particulado sobre a capital e que as altas temperaturas ocasionadas pelo agravamento do El Niño também dificultam a dispersão da fumaça no ar, fazendo com que se acumule o material sobre a cidade.
Em todo o Estado, de 1º agosto a 11 de setembro, o Amazonas registrou 9.399 focos de calor. De acordo com a secretaria, o número é uma redução de 27,16% em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 12.905 focos notificados.
Especialista dá dicas de como evitar ou amenizar esses sintomas:
Umidificar o ar: usar o aparelho no ambiente domiciliar ou de trabalho, de preferência aqueles em que é possível trocar a água do aparelho. Em caso de não haver um umidificador, usar baldes ou panelas, com água dentro.
Nebulização, inalar ou fazer lavagem nasal com soro fisiológico: ideal para quem tem maior irritação na mucosa, principalmente de vias superiores (nasal), já que o ar seco pode levar ao aumento dos espirros e sangramentos.
Evitar a exposição ou contato ao poluente da fumaça: na rua, usar máscara para evitar aspiração dos macropoluentes da fumaça.
Uso de medicação regularmente: para quem tem alguma doença respiratória, usar regularmente e não apenas quando lembrar.
Quem não sofre de doenças pulmonares, mas apresenta sintomas pela exposição à fumaça: manter as janelas fechadas ou abrir a janela e ligar o ventilador para que circule o ar; nos veículos, também fechar a janela; uso de colírio lubrificantes no globo ocular, se em caso de irritação; procurar assistência médica em caso de sintomas mais intensos.
Queimadas
Com o alto número de queimadas no Amazonas e previsão de que a estiagem deste ano seja prolongada e mais intensa, o governador Wilson Lima (União Brasil) assinou nessa terça-feira, 12, decreto de Situação de Emergência Ambiental em municípios das regiões Sul do Estado e Metropolitana de Manaus.
Será repassado R$ 1,1 milhão para remunerar a atuação de 153 brigadistas, em nove municípios do Estado, no combate a focos de queimadas dentro “arco do desmatamento”, no Sul do Amazonas, onde estão os municípios que concentram o maior número de focos de calor, além de reforço nas operações já em andamento, como as Tamoiotatá e Aceiro, que contam com efetivo de 339 agentes estaduais e da Força Nacional.
Caberá à Sema a articulação com os demais órgãos públicos para a definição e execução das estratégias de combate ao desmatamento ilegal e de queimadas não autorizadas, e ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) a coordenação da execução operacional das ações de resposta às ocorrências. O Corpo de Bombeiros também montou uma sala de situação para controle do Painel do Fogo, que monitora, via satélite, os focos de calor.
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