El Niño pode resultar em queimadas acima da média para RR

Focos de incêndio em Roraima (Divulgação/CBMRR)
Winicyus Gonçalves – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Os Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apontam que o acumulado de chuvas registrado nos oito primeiros dias de agosto é inferior ao mesmo período dos três meses anteriores. A previsão para o “verão roraimense”, como é conhecido no Estado, é que exista risco para o aumento de registros de focos de queimadas.

O meteorologista da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Ramon Alves, explica para a REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA que a transição do período chuvoso para o período seco, em Roraima, tem início em setembro.

“O nosso período chuvoso termina agora em setembro. Temos aí algum acumulado de chuva para cair ainda neste mês de agosto, mas abaixo dos 100 milímetros (mm). Diferente de maio, junho e julho, os acumulados ultrapassaram os 300mm”, disse.

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De acordo com o Cemaden, o acumulado médio de chuvas em Boa Vista nos primeiros oito dias de agosto chegou a 24,2 milímetros. Se comparado aos acumulados dos primeiros oito dias dos três meses anteriores, a diferença aumenta bastante: 54,8mm em maio, 60,3mm em junho e 42,7mm em julho.

El Niño

A previsão de climatologistas do mundo inteiro é que o fenômeno climático, que envolve um aquecimento incomum no Oceano Pacífico, deve ser bastante intenso neste ano e pode causar mudanças acentuadas em todo o mundo mas, principalmente, na Amazônia, e que deve se fortalecer entre o fim do ano e os primeiros meses de 2024.

“Agora, a tendência é realmente diminuir as chuvas e, consequentemente, ter temperaturas mais altas. Ainda mais agora que o nosso período seco vai começar juntamente com o início do El Niño”, complementa Alves.

Uma das principais dificuldades, ressaltam os especialistas, é a seca extrema causada pelo fenômeno, o que pode resultar em grandes problemas com altos índices de desmatamento e incêndios florestais.

“Nos anos anteriores, nós estávamos sob a influência do La Niña, que trouxe muitas chuvas aqui para Roraima nos últimos três anos, que foram três anos seguidos de atuação do La Niña. Agora, com o El Niño, a previsão é contrária”, lembra o especialista.

Queimada

A previsão de calor, cada vez mais forte, com risco para alta incidência de focos de incêndio, nos próximos meses, preocupa o produtor de hortaliças Davi Dias, que faz os cultivos em uma propriedade na região do Bom Intento, na RR-321, zona rural de Boa Vista. Ele relata que convive com a fumaça provocada por queimadas em áreas próximas à plantação e teme que o fogo possa se espalhar e chegar até o seu terreno.

“A gente vê muita imprudência de motoristas que jogam guimbas de cigarro e provocam incêndios, mas acho que falta mais ação do governo. Tem a culpa da população, mas a sensação é que jogam toda culpa e responsabilidade na natureza e nas pessoas, mas falta prevenção do governo em relação a isso”, avalia o produtor rural.

Para atender as primeiras demandas que estão surgindo, a Defesa Civil de Roraima informou que trabalha em conjunto com o Corpo de Bombeiros de Roraima (CBMRR), com o uso de guarnições de combate a incêndios florestais do Estado.

“Apesar de ainda termos chuvas em todo o Estado, já é possível perceber um aumento normal da temperatura e, consequentemente, o aumento das ocorrências de incêndio em vegetação”, disse o coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil de Roraima, Rodrigo Maciel.

Brigadistas do Corpo de Bombeiros de Roraima combatem foco de incêndio em Boa Vista (Divulgação/CBMRR)

Um mapeamento feito pelo MapBiomas Brasil, divulgado em julho deste ano, mostrou que quase metade da área queimada no País, em janeiro, esteve concentrada em Roraima, principalmente, nas cidades de Normandia, Pacaraima e Boa Vista. Só no Estado, foram queimados 1 milhão de hectares no primeiro semestre deste ano.

O mesmo estudo aponta também que a Amazônia foi o bioma com a maior área queimada no semestre, com 1,45 milhão de hectares devastados em 2023. Trata-se, portanto, de 68% de toda a área queimada do Brasil nesse período.

Maciel aponta ainda que apesar do Estado passar pelo período chuvoso, as consequências das queimadas ainda podem ser percebidas, especialmente, nas áreas florestais. “A vegetação florestal, depois que você perde ela pela ação do fogo, demora alguns anos para se recuperar. A gente vê isso em algumas serras aqui próximo, que tem a vegetação de floresta densa e, por conta do fogo, parte dela que foi queimada destoa visualmente da parte que está conservada”, afirmou.

Questionada pela REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA sobre as ações a serem tomadas para o próximo período seco em Roraima, a Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), responsável por essas estratégias, afirmou que já organiza um plano a ser montado junto com o Comitê Estadual de Prevenção, Controle de Queimadas e Combate aos Incêndios Florestais de Roraima. Ainda de acordo com a fundação, outras ações devem ser tomadas em complemento a esse plano.

“Baseada nas análises técnicas climatológicas e nos focos de calor monitorados por satélite, a Femarh irá definir um período sugestivo para abertura do calendário para uso do fogo de forma controlado. Além disso, a Femarh tem 242 brigadistas contratados que estão prontos para auxiliar os donos de propriedades e combater focos de incêndio em todo o Estado”, finaliza.

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