Eleições: apenas 13 dos 27 Estados têm mulheres cotadas para a disputa ao governo

Apesar da maior presença feminina nos espaços de poder, o aumento de mulheres eleitas ainda se dá a passos lentos. (Divulgação)
Com informações do Infoglobo

SÃO PAULO — Enquanto a senadora Simone Tebet (MDB-MS) continua sendo a única pré-candidata à Presidência, 14 das 27 unidades da federação não têm uma mulher sequer cotada para a disputa ao governo do Estado, mostra levantamento feito pelo GLOBO. Minoria nos palanques, elas representam 52,5% do eleitorado do País. Ainda assim, o comando dos Executivos estaduais tem sido um desafio histórico para as brasileiras — só oito foram eleitas governadoras. A primeira foi há 28 anos, quando Roseana Sarney venceu, no Maranhão. De lá para cá, o panorama pouco avançou, e o País tem hoje apenas Fátima Bezerra (PT) à frente de um Executivo estadual.

A sub-representação também é uma realidade na corrida presidencial, cuja única mulher eleita foi Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment em 2016. Este ano, por enquanto, apenas Simone Tebet se lançou pré-candidata, e ainda sob resistências internas e convites para ser vice em outras chapas. A pesquisa Ipec mais recente, de dezembro, aponta 11 pré-candidaturas de homens.

Apesar da maior presença feminina nos espaços de poder, o aumento de mulheres eleitas ainda se dá a passos lentos, avalia a socióloga Camila Galetti, estudiosa de política institucional, feminismo e movimentos sociais, na Universidade de Brasília (UnB).

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“As mulheres têm muita dificuldade para chegarem à posição de tomar decisões dentro dos partidos. Cerca de 90% dos dirigentes partidários são homens, e isso afeta as indicações para as pré-candidaturas”, diz a especialista, acrescentando que a ampliação dos quadros femininos é vital para a formulação de mais políticas públicas voltadas para este grupo.

Apenas nove postulantes

Considerando apenas as pré-candidatas ao governo já confirmadas pelos partidos, só Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Roraima têm postulantes. São, ao todo, nove mulheres, das quais cinco se autodeclaram brancas, quatro pardas e nenhuma preta, indígena ou asiática. No CE, DF e PI, além dos nomes já confirmados, há também outras candidatas que cogitam disputar o pleito.

Representação em baixa

Feito com base em pesquisas eleitorais e indicações dos próprios partidos, o levantamento do GLOBO também mapeou outros seis Estados em que há nomes cotados, ou seja, cuja pré-candidatura não foi oficializada, mas é considerada. É o caso de Minas Gerais, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Mas, em 14 Estados, sequer há candidatas sendo citadas, como São Paulo, onde vive cerca de 20% da população brasileira, Rio, onde moram 8%, e Bahia, com 7%.

Dirigentes partidários alegam que ainda é cedo para falar em pré-candidaturas a governo. No entanto, especialistas argumentam que, se houvesse investimento em lideranças femininas, mais mulheres despontariam como prováveis concorrentes.

“A estimativa de poucas pré-candidatas é resultado da pouca representatividade da mulher na política institucional”, sintetiza Camila.

Outro argumento citado por dirigentes partidários é a “falta de interesse das mulheres em concorrer a cargos majoritários”. Justificativa falsa, segundo Jéssica Melo Rivetti, doutoranda em Sociologia pela USP e coordenadora do Mulheres Eleitas: “A ausência das mulheres na política institucional é naturalizada. Não são tratados problemas como a estrutura partidária, as hierarquias dos movimentos sociais, o acesso restrito a recursos e, principalmente, a ausência de tempo em razão da sobrecarga de trabalho não remunerado, como a maternidade e as atividades de cuidado no âmbito doméstico”.

Presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) disse que, por ora, a sigla não prevê novas candidaturas de mulheres para os governos estaduais — “Estamos fazendo um grande movimento para aumentar nossas candidatas a deputadas federais. A nossa prioridade é fortalecer a bancada no Congresso. O PT não terá muitas candidaturas a governos estaduais”.

O deputado federal Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, defendeu maior presença das mulheres nos partidos, especialmente, em cargos de direção. E ressaltou que, no fim de 2020, a legenda formalizou um compromisso com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir a elas, pelo menos, 30% das vagas de comando em todos os diretórios municipais, estaduais e nacional — “Precisamos eleger mais mulheres, a começar pelo Legislativo. É no Congresso que mulheres podem pressionar e apresentar medidas que aumentem a participação feminina na política.

A expectativa para este ano é que o número final de candidatas ao governo não fique muito distante do de 2018, quando 30 mulheres encabeçaram chapas majoritárias, contra 172 homens. Espaço um pouco maior foi conquistado na condição de vice: foram 76 contra 132.

No último pleito, o cenário da corrida presidencial foi pelo mesmo caminho, com duas mulheres liderando suas chapas e cinco candidatas a vice. Este ano, João Doria (PSDB) já sinalizou que quer uma mulher como vice e abriu negociações com a senadora Eliziane Gama (Cidadania). O PDT, de Ciro Gomes, por sua vez, cogita convidar a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva (Rede) para o cargo. E Jair Bolsonaro (PL) pode vir acompanhado pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina (DEM).

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