Em postagem, senador Plínio Valério acusa ministra Marina Silva de mentir para arrecadar dinheiro

Ministra Marina Silva foi a Davos, na Suíça, para debater questões climáticas, e virou alvo de acusações do senador amazonense (Thiago Alencar/CENARIUM)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O senador pelo Amazonas, Plínio Valério (PSDB), usou suas redes sociais nesta quinta-feira, 19, para acusar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), de mentir para “arrecadar dinheiro” junto ao empresariado externo e governos internacionais. A representante do Brasil no Fórum Econômico Mundial (FEM) que acontece em Davos, na Suíça, declarou durante palestra na última segunda-feira, 16: “O mundo é desigual. No meu País, tem 120 milhões de pessoas que estão passando fome”.

Na postagem, Plínio Valério acusa a ministra Marina Silva de fazer lobby para conseguir recursos que seriam divididos com ONG’s (Reprodução/Redes Sociais)

A fala equivocada da ministra, que depois se corrigiu, foi o suficiente para o senador amazonense atacá-la: “Quando a ministra diz, a uma plateia de milionários, que 120 milhões de brasileiros estão passando fome, ela sabe o que diz. É uma das mentiras que serve ao seu propósito de arrecadar dinheiro para distribuir com as ONG’s que impedem o desenvolvimento da Amazônia. Outras mentiras serão ditas”, acusou.

A CENARIUM entrevistou o sociólogo Luiz Antônio do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) sobre a acusação do senador. “O senador Plínio Valério, como homem público, não tem nenhuma virtude. Ele se comporta como um ‘vereadorzinho’ de beira de barranco. Ele é um egocêntrico, um político míope, cuja existência tem a profundidade de um pires. É uma pena que tenhamos que conviver com ele no parlamento até o fim de seu mandato”, lamentou.

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Beira de barranco

O sociólogo continuou a crítica: “Esse vereador de beira de barranco, com o título de senador, deveria ter vergonha de querer colocar em cheque uma das mulheres mais importantes da história desse País. Marina é uma pessoa com a qual tenho divergências, mas, é preciso respeitar sua trajetória. Só um machista, como esse senhor, para tentar desqualificar uma mulher importante e que vai lutar, diuturnamente, contra a agenda genocida, grileira e violenta que esse senador defende”, desancou.

O sociólogo Luiz Antônio considera a atuação de Plínio Valério pífia: “Como homem público, não tem nenhuma virtude”, criticou (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O ativista sócio ambiental, Pedro Alace, que atua em Castanhal, no Pará, rebateu as acusações do senador: “As organizações da Amazônia, ONGs e, principalmente, redes e coletivos de base sofrem com subfinanciamentos. Temos diversas dificuldades para manter o trabalho, precisando de muitos esforços para que essa realidade mude e possamos ter tranquilidade nos planejamentos. As dificuldades são tantas que, muitas vezes, não temos recursos para pagar a equipe que, então, trabalham de forma voluntária. Esquecem que ativista come, veste e precisa se manter!”, retrucou.

O ativista continuou rebatendo as falas do parlamentar: “Quando o tal senador fala de ‘desenvolvimento’, nós sabemos de quem ele se refere. Se refere ao grande capital e aos lucros das grandes corporações que exploram e assassinam a Amazônia e seus povos, que envenenam as nossas terras e nossas águas. Realmente, não é interessante para essas pessoas que os trabalhos das organizações aconteçam”, considerou.

O ativista sócio ambiental Pedro Alace, que atua na Amazônia paraense, rebateu com veemência as acusações do senador do Amazonas (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Declaração equivocada

Marina Silva representou o Brasil em uma das palestras do Fórum Econômico Mundial (FEM) em Davos. O fórum debate questões globais urgentes e a temática ambiental ganhou espaço considerável na agenda mundial. A presença do Brasil na rodada dispensa explicação. Durante palestra na última segunda-feira, 16, Marina Silva errou no número de pessoas que segundo ela, passam fome no Brasil: “O mundo é desigual. No meu País, tem 120 milhões de pessoas que estão passando fome”.

No dia seguinte à declaração, terça-feira 17, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, fez a correção: “Um governo (o de Lula) que vai enfrentar o problema das desigualdades sociais, porque temos 33 milhões de brasileiros que passam fome, e que vai trabalhar para criar um novo ciclo de prosperidade”, afirmou.

Agenda controversa

O senador em primeiro mandato, Plínio Valério (PSDB), tem se notabilizado por uma agenda controversa. Votou contra a PEC da Transição porque, segundo ele: “PT quer nadar em dinheiro”. Votou contra a intervenção federal, em Brasília, após os atos terroristas de 8 de janeiro e se solidarizou com os golpistas presos na sede da Academia Nacional de Polícia (ANP): “Abomino os atos de violência, mas sou contra a perseguição de inocentes que estão sem água e comida”, declarou.

Dias antes do quebra-quebra em Brasília, provocado pelos “inocentes”, o parlamentar amazonense foi a público para pedir o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, ele deu uma palavra de força aos extremistas de direita acampados nas portas dos quartéis: “Vocês não podem esmorecer”. E não esmoreceram até destruir as sedes do Supremo, Congresso Nacional e Palácio da Alvorada.

Segundo Plínio Valério, o voto contra a intervenção em Brasília se deu por conta de uma possível inconstitucionalidade (Reprodução/Redes Sociais)

Plínio Valério também tem uma obsessão por ONG’s. Tanto que o senador luta, desde que assumiu em 2019, para criar uma CPI para investigá-las, principalmente, as que atuam na Amazônia. Outra bandeira é o voto impresso. Pegando carona na cruzada que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) lançou contras as urnas eletrônicas, Plínio usou suas redes para defender o que magistrados, cientistas políticos e outros especialistas consideram um retrocesso. “Pessoas que não querem aperfeiçoar a democracia”, declarou ele em uma live no YouTube.

O custo Plínio

O senador pelo Amazonas, Plínio Valério (PSDB), emprega em seu gabinete de Brasília, de acordo com o Portal do Senado Federal, 13 pessoas. Além da equipe na capital federal, Valério emprega, ainda, mais 44 pessoas em seu escritório de apoio em Manaus, no Amazonas. O escritório está localizado na Avenida Theomário Pinto da Costa, 811, Edifício Sky Platinum Offices, sala 1805, bairro Chapada.

No vídeo, Plínio Valério faz uma defesa aberta do voto impresso, considerado um retrocesso para a democracia brasileira (Reprodução/Redes Sociais)

Em quatro anos de mandato, o senador Plínio Valério custou, até o final de 2022, conforme o Portal do Senado Federal: R$ 1.285.578,90. Em 2022, foram R$ 390.953,98. Em 2021, Plínio gastou R$ 335.710.69. Em 2020, R$ 261.980,95 e, em 2019, R$ 296.932,06. Como parlamentar, realizou 33 pronunciamentos, em 2022, 23, em 2021, 36, em 2020, e 76 em 2019. Esses valores não incluem o salário de senador que é de R$ 33.763. “Aprovou algum projeto, barrou algum ataque contra o Amazonas?”, questionou o sociólogo Luiz Antônio.

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