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Em visita à República Democrática do Congo, papa Francisco denuncia ‘colonialismo econômico’
Papa Francisco (Yara Nardi/31.jan.23/Reuters)
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31 de janeiro de 2023
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – Quando o papa Francisco desembarcou na República Democrática do Congo nesta terça-feira, 31, o clima era de êxtase. Dezenas de milhares de pessoas foram para a estrada que liga o aeroporto à capital, Kinshasa, para acenar ao papamóvel, cantando e agitando bandeiras — a última visita de um pontífice ao País, no coração da África, aconteceu nos anos 1980, quando a nação ainda se chamava Zaire.
O tom mudou, no entanto, quando Francisco se dirigiu a dignatários no palácio presidencial, horas depois. Em um discurso inflamado, o argentino denunciou o que chamou de “colonialismo econômico” e atacou a comunidade internacional por “ter, praticamente, se resignado em relação à violência” que assola o País.
“É uma tragédia que estas terras, e de modo mais generalizado, todo o continente africano, siga enfrentando várias formas de exploração. O veneno da ganância manchou seus diamantes com sangue”, disse o pontífice em referência à região rica em minérios, eterna fonte de conflitos entre governos, milícias e interesses estrangeiros.
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“Tirem as mãos da República Democrática do Congo! Tirem as mãos da África! Parem de asfixiar a África! Ela não é uma mina ou um terreno a ser explorado”, exclamou o papa.
A RDC é a parada inicial de um pequeno giro do papa pelo continente — ele continua em Kinshasa até a manhã da próxima sexta-feira, 3, quando viaja para o Sudão do Sul. A visita estava, inicialmente, prevista para o último mês de julho, mas teve de ser adiada devido às dores no joelho do líder, de 86 anos, que tem usado uma cadeira de rodas para se locomover, e também à intensificação da violência em Goma, cidade no nordeste congolês.
A viagem de Francisco se insere, ainda, em um momento de aumento dos episódios sangrentos no País, que assiste a guerras contínuas por disputas de minerais como coltan, usado em produtos eletrônicos como celulares.
Mais recentemente, o ressurgimento do grupo armado M23, que conquistou amplas faixas territoriais na fronteira com a Ruanda, tem multiplicado os casos de violência. Há, ainda, a presença de grupos terroristas como o Estado Islâmico (EI), que há duas semanas reivindicou o ataque a uma igreja pentecostal congolesa. Francisco pareceu fazer menção a essas milícias ao afirmar que o povo congolês está lutando para preservar sua integridade territorial “contra tentativas deploráveis de fragmentar o País”.
“Assim como milícias armadas, potências estrangeiras famintas pelos minerais, em nosso solo, cometem, com o apoio direto e covarde de nossa vizinha Ruanda, atrocidades cruéis”, disse o presidente congolês, Felix Tshisekedi, pouco antes do papa estar no mesmo palco. Ruanda, não mencionada, diretamente, por Francisco, nega a acusação de apoio a grupos como o M23.
O papa argentino também afirmou que a comunidade internacional passa a impressão de ter se conformado com a violência na RDC. “Não podemos nos acostumar com o derramamento de sangue que marca este País há décadas, causando milhões de mortes.” As Nações Unidas estimam que 5,7 milhões de congoleses se tornaram deslocados internos devido ao impacto dos conflitos armados, que também empurram 26 milhões a níveis severos de fome.
A viagem ocorre, ainda, em um período de expansão do segmento evangélico na nação — calcula-se que metade da população de cerca de 90 milhões da RDC seja católica. À agência AFP, o sociólogo Gauthier Muzenge Mwanza, da Universidade de Kishida, na capital, disse que o número de protestantes se expande, em parte, devido às crônicas crises sociais e políticas que assolam o território.
O declínio do catolicismo teve início no regime de Mobutu Sese Seko, que comandou o País da década de 1960 até 1997. O ditador apoiou a entrada de pastores evangélicos como parte de um plano para enfraquecer a Igreja Católica que, à época, denunciava violações de seu regime. Ainda que em trajetória descendente, instituições católicas ainda desempenham papel crucial na administração de escolas e centros de saúde congoleses.
Ainda no avião, Francisco falou sobre a crise migratória que atinge a África, com ondas de cidadãos do continente tentando emigrar para a Europa. “São muitos que, sofrendo, cruzam o deserto para tentar chegar ao Mediterrâneo e, então, são colocados em campos de concentração”, disse o pontífice, referindo-se a centros de detenção na Líbia, alvos de acusações de violação de direitos humanos.
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