Entenda por que ciclones passaram atingir a Região Sul do Brasil

Espiral de nuvens de ciclone extratropical (Reprodução/MetSul)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Nos últimos dez anos, a Região Sul do Brasil registrou 71 dos 92 alertas de ciclone emitidos pelo governo federal. É o que apontam dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres, plataforma do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, que recebe avisos de municípios com iminência de desastres naturais.

O meteorologista do Governo do Rio Grande do Sul Flavio Varone, coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro) do Estado, explica que a formação do fenômeno é frequente na região e, na maioria das vezes, ele se origina sobre o oceano. Entretanto, os danos podem gerar transtornos quando o ciclone se aproxima da costa litorânea.

“A ocorrência de ciclones é bastante comum no Estado, principalmente no outono e no inverno. Geralmente, eles passam distante da costa e não causam grandes problemas no continente. Porém, algumas vezes, se aproximam do litoral gaúcho e isso pode trazer danos, prejuízos e eventos severos”, afirmou o meteorologista.

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Região afetada por ciclone do Rio Grande do Sul (Silvio Avila/AFP/Getty Images)

Ainda de acordo com Varone, a localização geográfica do Estado contribui para a formação de ciclones. Isso porque a região se encontra em uma área de encontro de massas de ar quente e úmido, que vêm das partes Norte e Sul do planeta.

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“Os ciclones são fenômenos bem comuns próximo do Estado, no extremo sul da América do Sul. O Rio Grande do Sul, em virtude de sua posição geográfica, naturalmente, está associado com a passagem desses sistemas meteorológicos”, observou o coordenador do Simagro.

Influência do El Niño

A formação de um ciclone extratropical se intensifica pela ação do El Niño, fenômeno causado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Com o aumento no Centro-Sul do País e a seca e calor no Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste, os impactos são maiores.

“Com o El Niño, poderemos ter uma evidência maior de ciclones. Até o final do inverno e, principalmente, durante a primavera. Esses sistemas podem se intensificar um pouco mais, resultando em maior frequência de fenômenos adversos”, alertou Varone.

O meteorologista do Governo do Rio Grande do Sul Lucas Fagundes, que atua na Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil, explica que o El Niño ainda deve alcançar forte intensidade no Estado e pode levar ao aumento da precipitação pluvial sobre todo o território, com volumes de chuva acima da média em todas as regiões.

“Nesse período, os eventos extremos ficam mais intensos no Rio Grande do Sul, devido à influência desse fenômeno. Em razão da atuação do El Niño, a tendência é que tenhamos eventos de chuvas fortes e tempestades no Estado durante a primavera”, ressaltou Fagundes.

Estudo explica

O artigo “Ciclones Extratropicais: o que são, climatologia e impactos no Brasil“, de autoria da doutora em Meteorologia Michelle Simões Reboita e do mestre em Meio Ambiente e Recursos Hídricos Victor Hugo Marrafon, reforça a declaração dos meteorologistas e explica como são formados os ciclones que atingem o Brasil.

“Um ciclone extratropical é resultado de processos que buscam o equilíbrio térmico da atmosfera. Esses sistemas afetam o tempo das regiões onde atuam por meio da presença de nebulosidade, chuva, redução da temperatura do ar e ventos fortes (…) os ciclones afetam o tempo por meio de nebulosidade, chuva, mudança na temperatura do ar e ventos intensos”, diz a publicação.

Tragédia no RS

O Governo do Rio Grande do Sul atualizou, na manhã deste domingo, 10, para 43 a quantidade de pessoas mortas em decorrência das chuvas e inundações que atingem o Estado desde a última segunda-feira, 4. O número de desaparecidos chega a 46.

Segundo o governo estadual, 3.130 pessoas foram resgatadas; 224 estão feridas; 3.798 estão desabrigadas; e 11.642, desalojadas. No total, 150.341 pessoas foram afetadas pelas chuvas e inundações em 88 municípios.

A MetSul Meteorologia alerta que um novo episódio de chuva extrema vai atingir o Rio Grande do Sul nesta semana. A projeção da MetSul é que os acumulados sejam excessivos em áreas do Centro, do Oeste e o Sul do território gaúcho, com marcas que em apenas três a quatro dias de precipitação devem atingir entre a média e o dobro da média histórica de precipitação do mês inteiro.

Editado por Jefferson Ramos
Revisão por Gustavo Gilona

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