Equipe do Ministério da Saúde faz diagnóstico da situação sanitária dos indígenas Yanomami, em Roraima


18 de janeiro de 2023
Criança Yanomami durante atendimento médico (Reprodução)
Criança Yanomami durante atendimento médico (Reprodução)

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma equipe do Ministério da Saúde (MS) está nesta quarta-feira, 18, na comunidade Surukuku, na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, para acompanhar e elaborar um levantamento sobre a situação da saúde dos indígenas. De acordo com o MS, essa estratégia é usada para restabelecer o acesso à saúde de qualidade aos povos indígenas, já que a região é assolada pela invasão de garimpeiros ilegais.

Duas equipes técnicas atuam na região. Uma está concentrada na capital Boa Vista, trabalhando com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami, a Casa de Saúde Indígena (Casai), Secretaria Estadual de Saúde de Roraima e Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista. A outra, chamada equipe de campo, visita os Polos Base de Surucucu e Xitei. Por serem regiões de difícil acesso, a chegada ao local é por via aérea, executada com aeronaves da Força Aérea Brasileira devido à parceria.

Os técnicos estão analisando a situação da saúde, na região, dos atendimentos prestados e insumos disponíveis, para mapear as demandas e necessidades de saúde da população. “Com esses dados, o Ministério da Saúde irá elaborar um diagnóstico completo sobre o território indígena e definir as ações imediatas que precisam ser tomadas para superar a crise sanitária e fortalecer a atenção ofertada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami”, afirmou em nota o MS.

Descaso nas aldeias

Para o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami, boa parte desse cenário poderia ser revertida com ações mais robustas do governo federal. Ele relembra a foto de uma criança indígena, debilitada e com quadro grave de malária, pneumonia, verminose e desnutrição, publicada por um missionário, no ano passado. Um fiel retrato da falta de assistência e do avanço da fome.

Missionário revela foto de criança com quadro de malária, na Terra Yanomami, com pneumonia, verminose e desnutrição (Centro de Documentação Indígena/Divulgação)

“Aquela imagem mostrada ano passado (…) está na mesma situação [a realidade na Terra Indígena Yanomami]. Nós, indígenas, estamos pedindo. Nós, indígenas, estamos gritando, pedindo socorro. Alguém [precisa] ouvir a nossa voz para salvar a população indígena, a população criança (…) essas crianças precisam ser salvas”, desabafou Júnior Hekurari.

Investigação

Em novembro, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Yoasi, com objetivo de investigar um esquema de desvio de recursos públicos federais do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), no Estado de Roraima (RR). Yoasi, para os Yanomami, é irmão de Omama e responsável pela morte no mundo.

A investigação policial foi instaurada após o recebimento de um inquérito civil conduzido pelo Ministério Público Federal (MPF), que apurou notícias divulgadas pela imprensa que relatavam a falta de medicamentos para malária e verminoses na Terra Indígena Yanomami. As diligências do MPF identificaram, dentre outras irregularidades, o recebimento do vermífugo albendazol em quantidades inferiores ao adquirido pelo órgão.

As suspeitas são que, apenas 30%, de mais de 90 tipos de medicamentos fornecidos por uma das empresas contratadas pelo DSEI-Y, teriam sido devidamente entregues. Com o apoio de agentes públicos, os recebimentos das entregas seriam fraudados e indicariam o cumprimento integral da contratação.

Apenas em relação ao prejuízo para tratamento de verminoses, o esquema implementado no DSEI-Y teria deixado 10.193 crianças desassistidas, resultando no aumento de infecções e manifestações de formas graves da doença, com crianças expelindo vermes pela boca.

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